A voz da minha mãe soou, fraca mas firme.
"Beatriz, o meu filho cometeu um erro terrível, e vai pagar por ele. Mas a minha filha não tem culpa. Ela tem o direito de decidir com quem quer passar o resto da sua vida."
"E neste momento, ela não quer passá-la com o teu filho."
Houve um silêncio chocado do outro lado da linha, seguido por um grito agudo de Beatriz.
"Como te atreves a falar assim comigo? Depois de tudo o que o meu David fez por vocês? Ele tem estado no hospital, a cuidar do Léo, a tentar minimizar os estragos que o teu filho causou!"
"E é assim que vocês agradecem? Com ingratidão e desrespeito? A Sofia sempre foi uma egoísta, a pensar que o mundo gira à volta dela!"
A minha mãe respirou fundo, a sua voz a ganhar força.
"O que o teu filho fez foi pela irmã dele, não por nós. E a minha filha não é egoísta. Ela esteve ao lado do David durante anos, a apoiá-lo em tudo. Agora, quando ela mais precisa dele, onde é que ele está?"
"Ele está a consolar a Eva, enquanto a minha filha e eu estamos a lidar com esta desgraça sozinhas. Se isso é o tipo de homem que ele é, então a Sofia está melhor sem ele."
Com estas palavras, a minha mãe desligou o telefone.
Ela virou-se para mim, os seus olhos vermelhos de tanto chorar, mas com uma determinação que eu não via há muito tempo.
"Sofia, filha, vamos para casa."
Eu assenti, incapaz de falar. O peso no meu peito era enorme, mas ver a força da minha mãe deu-me um pouco de esperança.
Quando chegámos a casa, o nosso pequeno apartamento parecia vazio e silencioso. O quarto do Miguel estava exatamente como ele o tinha deixado de manhã, a cama desfeita, a roupa de trabalho dobrada numa cadeira.
Sentei-me no sofá, a olhar para o nada. A minha mãe sentou-se ao meu lado e pegou na minha mão.
"Vamos ultrapassar isto, Sofia. Juntas."
As suas palavras eram um bálsamo para a minha alma ferida.
Nos dias seguintes, a realidade abateu-se sobre nós com força total. As contas começaram a chegar. O advogado que contratámos para o Miguel era caro, e as nossas poupanças estavam a desaparecer rapidamente.
Eu trabalhava como designer gráfica freelancer, mas o stress e a preocupação tornavam difícil concentrar-me. A minha mãe, que trabalhava a tempo parcial numa padaria, teve de pedir mais horas.
Uma semana depois do acidente, recebi uma mensagem. Era de um número desconhecido.
"Precisamos de falar sobre o teu irmão. Encontra-me no café 'Aromas da Cidade' amanhã às 15h. Vem sozinha."
O meu coração acelerou. Quem poderia ser? A família do Léo? A polícia?
Apesar do medo, eu sabia que tinha de ir. Qualquer informação sobre o caso do Miguel era crucial.
No dia seguinte, cheguei ao café uns minutos mais cedo. As minhas mãos suavam enquanto eu olhava para a porta, à espera.
Exatamente às 15h, uma mulher elegante, de uns 40 e poucos anos, entrou. Ela olhou à volta, e os seus olhos pousaram em mim. Ela caminhou na minha direção com uma confiança que me intimidou.
"Sofia, certo? Eu sou a Helena, a advogada da família do Léo."