Senti um arrepio. A advogada da família da vítima. O que é que ela queria de mim?
"Sente-se, por favor," disse ela, com uma voz calma e profissional.
Obedeci, o meu corpo tenso.
"Eu vou ser direta," começou Helena, assim que a empregada se afastou. "A condição do Léo é crítica. Os médicos não têm a certeza se ele vai recuperar totalmente. A família está devastada e, francamente, quer justiça."
Engoli em seco. "Eu sei. O meu irmão cometeu um erro terrível. Estamos dispostos a fazer o que for preciso para ajudar."
Helena olhou para mim, os seus olhos a avaliarem-me. "O que for preciso? A família do Léo tem despesas médicas enormes. E a carreira dele como atleta profissional acabou. A compensação financeira que o tribunal vai determinar não vai cobrir nem uma fração do que eles perderam."
"Eu sei disso," murmurei, sentindo-me impotente. "Nós não temos muito dinheiro, mas vamos pagar tudo o que pudermos."
"Não é de dinheiro que eu quero falar," disse Helena, inclinando-se para a frente. "Ou, pelo menos, não do vosso dinheiro."
Fiquei confusa. "O que quer dizer?"
"O seu noivo, David," disse ela, e o meu coração parou. "Ele é um empresário de sucesso, não é? A sua empresa está a ir muito bem."
"Ex-noivo," corrigi-a, a minha voz a sair mais áspera do que eu pretendia. "Nós terminámos."
Helena levantou uma sobrancelha. "Ah, é mesmo? Que conveniente. Logo depois de o seu irmão ter atropelado o irmão da namorada do seu... ex-noivo."
"Não é o que está a pensar," disse eu, a defensiva a surgir. "Nós terminámos por outras razões."
"Claro que sim," disse ela, com um sorriso cético. "Ouve, Sofia. Eu investiguei. Sei que o David prometeu ajudar a vossa família. Sei que ele vos deu esperanças de que ia usar a sua influência para ajudar o Miguel."
"O que é que quer?" perguntei, a minha paciência a esgotar-se.
"Eu quero que o David pague," disse ela, a sua voz a tornar-se dura. "Ele tem a responsabilidade moral de ajudar a família do Léo. A irmã dele, a Eva, estava envolvida com o Léo. Ele sabia dos riscos, ele sabia de tudo. Ele tem de assumir a responsabilidade."
Eu ri, um som amargo e sem alegria. "Boa sorte com isso. O David só se preocupa com ele mesmo e com a família dele."
"É aí que tu entras," disse Helena, os seus olhos a brilharem com uma luz astuta. "Tu conheces o David. Conheces os seus segredos, as suas fraquezas. Tu podes ajudá-nos a convencê-lo a fazer a coisa certa."
Fiquei a olhar para ela, chocada. Ela queria que eu usasse o meu conhecimento sobre o David contra ele. Queria que eu o manipulasse.
"Porque é que eu faria isso?" perguntei. "Ele não me deve nada."
"Talvez não a ti," concordou Helena. "Mas ele deve ao teu irmão. Se o David pagar uma compensação generosa à família do Léo, eu posso convencer a família a pedir clemência ao juiz. Isso poderia reduzir a pena do Miguel significativamente."
O ar ficou preso nos meus pulmões. Reduzir a pena do Miguel. Era a única coisa que importava.
"O que é que eu tenho de fazer?" perguntei, a minha voz um sussurro.
Helena sorriu, um sorriso vitorioso. "Eu sabia que ias ser razoável."