A Escolha Que Mudou Minha Vida
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Capítulo 2

A notícia do meu noivado com o engenheiro-chefe João se espalhou pela cidade como fogo em palha seca. Foi o escândalo da temporada. Beatriz, a neta do Duque, a joia da sociedade, noiva de um aleijado recluso.

As pessoas não conseguiam entender. Nos cafés, nos salões de baile, nas reuniões sociais, meu nome estava em todas as bocas.

"Coitada da Beatriz, o luto pela morte do avô deve tê-la enlouquecido."

"Dizem que ela fez um sorteio! Que infantilidade! Aposto que é só uma manobra para chamar a atenção do príncipe Pedro."

"Um aleijado amargurado. Que tipo de vida ela terá? Vai passar os dias cuidando de um inválido."

A pena e o escárnio me seguiam por toda parte. Eles achavam que eu tinha jogado minha vida fora por um capricho, uma rebeldia momentânea. Mal sabiam eles que eu estava, na verdade, salvando a minha vida.

Eu ignorei os sussurros. Passei meus dias organizando os preparativos para o casamento e administrando a herança do meu avô. Eu tinha um propósito, uma clareza que nunca tive antes.

Mas Pedro não estava disposto a me deixar em paz.

Uma tarde, enquanto eu estava no escritório do meu avô revisando alguns documentos, o mordomo anunciou sua chegada. Ele não esperou ser convidado e entrou na sala.

"Beatriz! Que palhaçada é essa?", ele disse, a voz carregada de raiva.

Eu nem levantei os olhos dos papéis. "Vossa Alteza, a que devo a honra? Se veio discutir assuntos de Estado, temo que esteja no lugar errado."

Ele bateu com a mão na minha mesa, espalhando os documentos. "Pare de fingir! Se casar com aquele aleijado? Tudo isso é para me atingir, não é? Porque anunciei meu amor por Ricardo?"

Finalmente, levantei o olhar e o encarei. O homem por quem eu chorei por uma década agora parecia patético. Sua arrogância, sua presunção, tudo me causava repulsa.

"Minhas decisões não têm nada a ver com você, Pedro. Eu escolhi meu noivo. O assunto está encerrado."

"Encerrado?", ele riu, um som desagradável. "Nós tivemos uma história, Beatriz. Você me amava. Não pode ter esquecido tudo da noite para o dia."

"O que eu sentia por você morreu. Foi enterrado junto com a minha ingenuidade", respondi friamente. Na minha mente, completei a frase: foi afogado junto comigo naquela piscina.

Ele não acreditou em uma palavra. Seus olhos se estreitaram. "Você está mentindo. Você está apenas magoada. Mas essa sua birra já foi longe demais. Cancele esse noivado ridículo. Não vou permitir que você se humilhe dessa maneira."

"Você não permite?", ergui uma sobrancelha. "Você não tem autoridade sobre mim. Agora, se me dá licença, estou ocupada."

Voltei a juntar meus papéis, um gesto claro de dispensa.

A fúria em seu rosto era visível. Ele respirou fundo, tentando uma tática diferente. A manipulação.

"Beatriz, pense bem. Uma vida com ele? Um homem que mal pode andar? Eu posso te oferecer muito mais. Ricardo entende... podemos chegar a um acordo. Você sempre terá um lugar especial para mim."

O lugar especial que ele me ofereceu na vida passada foi uma certidão de divórcio e uma morte fria. A bile subiu à minha garganta.

"Saia da minha casa, Pedro."

Minha voz era baixa, mas carregada de uma autoridade que o fez recuar um passo. Ele me olhou, chocado pela minha firmeza. Ele não estava acostumado a ser rejeitado, especialmente por mim.

Ele saiu batendo a porta. Eu sabia que aquilo não seria o fim.

No dia seguinte, um enorme buquê de rosas vermelhas, minhas flores favoritas na vida passada, foi entregue na minha porta. Havia um cartão, escrito em uma caligrafia extravagante para que todos os criados pudessem ler.

"Para minha eterna Beatriz. Nenhum erro pode apagar o que sentimos. Com amor, Pedro."

Era uma provocação pública. Um ato para me marcar como sua, para minar meu noivado com João e me transformar em uma mulher leviana aos olhos da sociedade.

Peguei o buquê e o cartão. Caminhei até a cozinha, onde a lareira estava acesa para cozinhar.

Sem uma palavra, joguei as flores e o cartão no fogo.

Os criados olharam, boquiabertos, enquanto as chamas consumiam as rosas e a declaração de amor falso de Pedro. O cheiro de flores queimadas encheu o ar. Era o cheiro da minha liberdade.

Eu não disse nada. Apenas voltei para o meu escritório. Minhas ações falavam mais alto que qualquer palavra.

A resposta de Pedro não demorou. Ele sabia que eu não cederia à sua pressão privada ou a seus gestos românticos falsos. Então, ele decidiu me encurralar publicamente.

Dois dias depois, recebi um convite. Não era um convite qualquer. Era um convite com o selo real para um baile no palácio, em homenagem a um dignitário estrangeiro. Recusar seria um insulto à família real.

Eu sabia exatamente o que era aquilo. Uma armadilha. Pedro queria me forçar a um confronto em seu território, cercada por seus aliados, onde eu seria mais vulnerável.

Segurei o convite na mão. O papel grosso parecia pesado com a malícia dele.

Na minha vida passada, eu teria ficador apavorada. Teria procurado uma maneira de evitar, de me esconder.

Mas esta não era minha vida passada.

"Mordomo", chamei. "Por favor, envie minha confirmação de presença ao palácio."

Peguei uma pena e escrevi minha resposta. Eu iria ao baile. Mas não iria como uma vítima. Iria como a noiva de João, o engenheiro-chefe. E enfrentaria Pedro, Ricardo e toda a sociedade de cabeça erguida.

Eles queriam um espetáculo? Eu lhes daria um.

            
            

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