A Escolha Que Mudou Minha Vida
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Capítulo 4

"Chega!"

Uma voz autoritária cortou o som dos risos e zombarias. A multidão se calou e se abriu, revelando o Rei. O pai de Pedro. Seu rosto estava contraído em uma expressão de severa desaprovação. Ao seu lado, um guarda real me ajudou a levantar, sua expressão profissional, mas com um toque de compaixão em seus olhos.

"O que está acontecendo aqui?", o Rei perguntou, seu olhar varrendo a multidão, que agora parecia envergonhada. "É assim que os nobres do meu reino se comportam? Como um bando de abutres?"

O silêncio era total. Ninguém ousava encontrar o olhar do monarca.

Pedro correu para a cena, mas não para mim. Ele foi direto para o lado de Ricardo, que observava tudo com uma expressão calculada de preocupação.

"Pai, está tudo bem", disse Pedro, apressado. "Beatriz apenas... se emocionou um pouco. Não foi nada." Ele se virou para mim, sua voz cheia de uma falsa repreensão. "Beatriz, por que você sempre tem que causar uma cena e estragar tudo?"

O guarda ainda segurava meu braço para me firmar. Olhei para Pedro, que estava mais preocupado em proteger Ricardo de qualquer respingo de escândalo do que com o meu estado. Ele nem mesmo perguntou se eu estava bem. Aquele pingo final de esperança que eu pudesse ter, de que houvesse alguma decência nele, se evaporou completamente. Senti uma onda de nojo tão intensa que quase me fez cambalear novamente.

Meu coração, que antes batia de pânico, agora estava frio e pesado como uma pedra de gelo. A dor era profunda, uma ferida antiga reaberta e esfregada com sal. Mas na superfície, meu rosto permaneceu impassível. Eu não daria a ele a satisfação de ver meu sofrimento.

O Rei olhou para seu filho com clara decepção. "Pedro, sua falta de cortesia é espantosa." Ele então se virou para mim, sua expressão suavizando. "Senhorita Beatriz, você está bem? Peço desculpas pelo comportamento dos meus convidados."

"Estou bem, Majestade. Agradeço sua preocupação", respondi, minha voz estável, para minha própria surpresa.

Pedro, percebendo que havia perdido o favor do pai e que a situação estava saindo de seu controle, tentou uma nova tática. Ele se aproximou de mim, adotando um tom conciliador, como se estivesse oferecendo uma grande caridade.

"Olha, Beatriz", ele disse em voz baixa, mas não tão baixa que o Rei não pudesse ouvir. "Eu entendo que você está chateada. Para compensar tudo isso... eu posso fazer uma concessão. Depois que eu e Ricardo nos casarmos, eu posso permitir que você seja minha concubina. É o máximo que posso fazer por você, pela nossa... história."

Ele realmente disse aquilo. Ele achava que estava sendo magnânimo, me oferecendo as migalhas de sua afeição como se fosse um prêmio. A audácia, a arrogância... era inacreditável.

Um silêncio chocado caiu sobre o pequeno grupo ao nosso redor. O Rei olhou para seu filho como se não o reconhecesse.

Eu, no entanto, comecei a rir. Não foi uma risada de alegria, mas uma risada seca, desprovida de humor. Uma risada que fez Pedro me olhar confuso.

Quando parei de rir, olhei para ele, depois para o Rei, e sorri. Foi um sorriso afiado, cortante.

"Vossa Alteza", eu disse, me dirigindo a Pedro, mas com a voz alta o suficiente para que todos ouvissem. "O príncipe herdeiro parece ter uma memória curta. Ou talvez a felicidade do noivado o tenha deixado um pouco confuso."

Eu fiz uma pausa dramática, saboreando o momento.

"Como eu disse antes, eu já estou noiva. E para evitar qualquer outro mal-entendido ou oferta... generosa... como esta, creio que devo esclarecer um ponto."

Virei-me para o Rei, fazendo uma reverência respeitosa. "Majestade, com sua permissão, gostaria de anunciar que minha cerimônia de casamento com o engenheiro-chefe João acontecerá no mesmo dia que a do príncipe herdeiro."

Pedro me olhou, primeiro atordoado, depois com desdém. Ele riu. "Você está blefando. Você não teria coragem."

"Não é um blefe, Pedro", eu disse, usando seu nome sem o título pela primeira vez na frente de todos. A familiaridade era um tapa em seu rosto. "É uma promessa."

"E quem vai realizar sua cerimônia patética?", ele zombou. "O juiz de paz da aldeia mais distante?"

Eu sorri novamente, um sorriso que não alcançou meus olhos. "Na verdade, eu estava pensando em um local um pouco mais... exclusivo."

Olhei diretamente nos olhos de Pedro, o desafio claro no meu rosto. "Estava pensando na Capela Real. Tenho certeza de que o Rei, em sua infinita bondade e em memória de seu respeito pelo meu avô, não veria problemas em ceder o espaço para a cerimônia."

A mandíbula de Pedro caiu. A Capela Real, adjacente ao salão principal onde sua própria cerimônia seria realizada, era reservada para os eventos mais importantes da família real. Meu pedido era de uma audácia sem precedentes.

Ele se virou para o pai, esperando que o Rei risse da minha cara e me colocasse no meu lugar. "Pai, ela está louca! Diga a ela que é impossível!"

Mas o Rei não riu. Ele me olhou por um longo tempo, seu rosto uma máscara indecifrável. Ele viu a humilhação que eu sofri, viu a crueldade de seu filho. Ele se lembrava da lealdade do meu avô, um homem que serviu ao reino por toda a vida.

Lentamente, para o choque absoluto de Pedro e de todos os presentes, o Rei acenou com a cabeça.

"A lealdade do Duque, seu avô, nunca será esquecida por esta Coroa", disse o Rei, sua voz ressoando com autoridade. "A Capela Real estará à sua disposição, Senhorita Beatriz."

Pedro ficou branco como um fantasma. Ele me olhou, a compreensão finalmente amanhecendo em seu rosto. Isso não era um jogo. Eu não estava blefando. Eu estava levando a guerra para o seu território, para o dia mais importante de sua vida. E, para seu horror, meu lance tinha sido aceito.

Ele pensou que tinha me encurralado. Ele pensou que me humilharia até a submissão. Mas ele subestimou a determinação de uma mulher que já tinha perdido tudo uma vez. E agora, ele estava prestes a descobrir o quão caro esse erro lhe custaria.

                         

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