A Escolha Que Mudou Minha Vida
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Capítulo 3

O salão de baile do palácio estava deslumbrante, como sempre. Lustres de cristal derramavam uma luz dourada sobre os convidados, que vestiam suas melhores roupas e joias. A música da orquestra preenchia o ar, mas não conseguia abafar os sussurros que me seguiram desde o momento em que entrei.

"Olha, é ela. Beatriz."

"Ela teve a coragem de aparecer. Que audácia."

"Onde está o noivo dela? Ah, claro, o aleijado provavelmente não consegue sair de casa."

"Coitada, ela parece tão pálida. Deve estar com o coração partido por causa do príncipe."

Cada olhar era um julgamento, cada sussurro uma pequena pedra atirada em minha direção. Eu mantive minha cabeça erguida, o rosto uma máscara de calma indiferença. Eu estava sozinha, pois João, fiel à sua reputação reclusa, não frequentava eventos sociais. Eu não o forcei a vir; esta era uma batalha que eu precisava lutar sozinha.

Então, eles chegaram. Pedro e Ricardo entraram no salão como se fossem os reis do mundo. Pedro, com seu uniforme de príncipe herdeiro, e Ricardo, elegante e com um sorriso vitorioso no rosto. Eles eram o casal do momento, e a multidão se abriu para eles, oferecendo sorrisos e cumprimentos.

Os olhos de Pedro encontraram os meus do outro lado do salão. Havia um brilho de triunfo neles. Ele achava que tinha vencido.

Ele pegou uma taça de champanhe e bateu levemente com um anel para chamar a atenção de todos. A música parou. Os sussurros cessaram.

"Amigos, família, distintos convidados", começou Pedro, sua voz ressoando pelo salão. "Gostaria de aproveitar esta noite maravilhosa para compartilhar uma notícia muito feliz."

Ele se virou para Ricardo e pegou sua mão. "Eu e Ricardo decidimos unir nossas vidas. Nosso casamento será daqui a um mês, no primeiro dia da primavera."

Um suspiro coletivo percorreu o salão, seguido por uma onda de aplausos educados. Todos os olhos se voltaram para mim, esperando minha reação. Esperando que eu chorasse, que fizesse uma cena, que desmoronasse.

Pedro me encarava, um sorriso cruel brincando em seus lábios. Esta era sua vingança pública por minha rejeição. Ele estava me humilhando na frente de toda a elite do reino.

Eu levantei minha própria taça. Com um sorriso sereno no rosto, falei em voz alta e clara, para que todos pudessem ouvir.

"Parabéns, Vossa Alteza. Parabéns, senhor Ricardo. Desejo-lhes toda a felicidade."

Minha resposta pegou todos de surpresa. O sorriso de Pedro vacilou por um segundo. Ele não esperava isso. Ele esperava lágrimas, não felicitações.

Uma mulher perto de mim zombou em voz alta. "Que patética. Tentando manter a dignidade quando todos sabem que ela está morrendo por dentro."

Outra acrescentou: "Ela provavelmente ainda acha que tem uma chance."

Eu me virei para elas. "Na verdade", eu disse, meu sorriso se alargando um pouco. "É um alívio. Porque meu casamento está marcado para o mesmo dia. Seria uma pena ofuscar a cerimônia do príncipe herdeiro."

O queixo da mulher caiu. O choque se espalhou como uma onda pelo grupo ao meu redor.

"Seu casamento?", alguém perguntou, incrédulo. "Com o... engenheiro?"

"Sim", confirmei. "No primeiro dia da primavera. Vai ser um dia muito cheio para todos nós, não é mesmo?"

A notícia se espalhou rapidamente pelo salão. Agora, os sussurros não eram mais de pena, mas de incredulidade e zombaria.

"Ela realmente vai levar essa farsa até o fim!"

"Casar no mesmo dia do príncipe? Ela está delirando. É um ato desesperado para se manter relevante."

Pedro, ouvindo os murmúrios, caminhou até mim, seu rosto uma máscara de falsa preocupação. "Beatriz, o que você está fazendo? Isso é embaraçoso. Cancele isso. Não se force a viver uma mentira."

"A única mentira aqui, Pedro, era o que eu achava que sentia por você", respondi, minha voz baixa o suficiente para que apenas ele ouvisse. "Agora, se me der licença, acho que preciso de um pouco de ar."

Eu me virei para sair, mas a multidão, curiosa e maliciosa, me cercou. Alguém "acidentalmente" esbarrou em mim, me empurrando para a frente. Outra pessoa colocou o pé na minha frente. Tropecei e caí, indo em direção às grandes portas de vidro que levavam ao terraço da piscina.

Minha mão se chocou contra o vidro frio.

E então, aconteceu.

A visão da água da piscina brilhando sob a luz da lua me atingiu como um soco no estômago. O som da água, o cheiro de cloro, a sensação de frio... tudo voltou de uma vez.

A água enchendo meus pulmões... o rosto cruel de Pedro... o empurrão do seu filho...

Meu corpo inteiro congelou. O ar ficou preso na minha garganta. O salão de baile desapareceu, e eu estava de volta à beira daquela piscina, no dia da minha morte. O trauma, que eu pensei ter controlado, explodiu dentro de mim com uma força avassaladora.

Eu não conseguia respirar. Minhas mãos tremiam incontrolavelmente. O suor frio brotou na minha testa.

Eu estava tendo um ataque de pânico, ali, no meio de todos.

E a reação da multidão?

Risos.

"Olhem para ela, tão desajeitada."

"Ela está chorando pelo príncipe, a coitadinha."

"Que espetáculo deprimente."

Ninguém veio me ajudar. Ninguém mostrou a menor compaixão. Eles me olhavam como se eu fosse um animal ferido em uma arena, uma fonte de entretenimento para a noite entediante. Sua crueldade, sua indiferença, era quase tão sufocante quanto a água que me afogou.

Ali, caída no chão, paralisada pelo meu trauma e cercada por rostos zombeteiros, eu me senti completamente e totalmente sozinha. A força que eu havia construído desde o meu retorno parecia desmoronar, me deixando exposta e vulnerável à malícia de um mundo que eu um dia quis desesperadamente pertencer.

            
            

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