Pedro, seu novo parceiro de negócios, um ator em ascensão que eu mesmo ajudei a promover, havia postado uma foto.
Na foto, ele a abraçava por trás, as mãos dele em sua cintura, o queixo dele quase tocando seu ombro. Ana não parecia estar se afastando, pelo contrário, havia um leve sorriso em seu rosto, um sorriso que eu raramente via.
A legenda era inocente, algo sobre o sucesso da nova coleção. Mas a imagem não era. Era íntima, uma quebra de todas as nossas regras não ditas.
Meu sangue gelou. Senti uma onda de calor subir pelo meu pescoço.
Meus dedos tremeram um pouco enquanto eu digitava um único caractere no campo de comentários.
"?"
Enviei.
Não demorou nem cinco minutos para meu telefone tocar. Era Ana.
"José, você viu a foto?" A voz dela era apressada, um pouco irritada.
"Eu vi." Minha voz saiu fria, mais do que eu pretendia.
"Apague o seu comentário, por favor."
Ela não perguntou como eu estava me sentindo. Ela não se desculpou. Ela apenas me deu uma ordem.
"Por quê? A foto não te incomoda?"
"Não seja bobo, José. É só uma foto pra promover o trabalho. Pedro é jovem, ele se empolga. Não significa nada."
Ela minimizou tudo, como se minha preocupação fosse uma infantilidade.
"Não me pareceu só empolgação, Ana."
"Você está sendo possessivo. Apague o comentário agora. As pessoas já estão começando a falar."
Ela desligou antes que eu pudesse responder.
Voltei para a postagem. O inferno já havia se instalado. Meu comentário solitário agora estava soterrado por centenas de respostas.
"Que cara inseguro."
"Ele não confia na própria esposa? Que patético."
"Ela é uma mulher de sucesso, pode fazer o que quiser. Deixa ela em paz, seu machista."
Pedro, o parceiro de negócios, postou um novo story logo depois. Era um texto em um fundo preto: "Às vezes, a melhor intenção é mal interpretada por mentes pequenas. Só tenho gratidão pela minha parceira."
Ele estava se fazendo de vítima, me pintando como o vilão ciumento. E Ana estava permitindo.
A raiva que senti foi diferente de tudo. Não era apenas ciúme, era uma sensação profunda de desrespeito. Ela não estava apenas quebrando nossas regras, estava desonrando nosso casamento publicamente.
Peguei o celular e fiz uma única ligação para o diretor de um grande projeto cinematográfico, um dos maiores do ano. Pedro tinha conseguido o papel de coadjuvante principal nesse filme, um papel que eu, como principal investidor, garanti.
"Roberto, sou eu, José."
"José! Feliz aniversário, meu amigo! Tudo bem?"
"Tudo. Preciso de um favor. Remova Pedro do projeto."
Houve um silêncio do outro lado da linha.
"José, as filmagens começam em duas semanas. Isso vai gerar um prejuízo enorme."
"Eu cubro o prejuízo. Apenas faça."
Desliguei.
No dia seguinte, a notícia da substituição de Pedro vazou. Ana chegou em casa como um furacão. Era a primeira vez que ela gritava comigo.
"Você enlouqueceu? Você destruiu a carreira dele!"
Eu a encarei, impassível, sentado no mesmo sofá da noite anterior. O bolo ainda estava na mesa.
"Eu não destruí nada. Eu apenas retirei o meu apoio."
"Por causa de uma foto? Uma foto estúpida? Você não podia simplesmente conversar comigo?"
"Eu tentei. Você me mandou apagar um comentário e me chamou de possessivo. Você o defendeu, Ana. Você defendeu o homem que estava te abraçando publicamente no meu aniversário."
"Ele é meu parceiro! O que você queria que eu fizesse?"
"Queria que você se lembrasse que é minha esposa" , eu disse, minha voz baixa e perigosa. "Eu sou o investidor daquele projeto. Eu sou o homem que patrocinou a carreira dele desde o início. E ele sabia exatamente quem você era quando postou aquela foto."
Ela ficou pálida. Acho que ela não sabia que eu era o patrono de Pedro.
"Ele não sabia..."
"Não seja ingênua. Todo mundo no meio sabe quem financia quem." Eu me levantei e caminhei até ela. "A questão não é ele. A questão é você. Eu exijo respeito, Ana. No nosso acordo, no nosso casamento, eu exijo respeito."
"Eu não fiz nada de errado!" ela insistiu, mas seus olhos mostravam o contrário.
As redes sociais já estavam em chamas. As pessoas não falavam mais do meu ciúme, agora especulavam sobre um romance entre Ana e Pedro. Zombavam do meu "casamento oculto" , já que nunca fizemos questão de alardear nossa união.
"Vá ler os comentários" , eu disse a ela. "Veja o que as pessoas estão dizendo. Você é uma mulher inteligente, sabe exatamente o que aquela foto e sua defesa dele insinuaram."
A discussão escalou. Vozes se elevaram. A frustração e a raiva de dias, meses, talvez anos de pequenas concessões e desrespeitos velados explodiram.
Em um acesso de fúria, passei a mão pela mesa de centro, derrubando o vaso de cristal que estava ali.
O som do vaso se quebrando no chão de mármore foi ensurdecedor.
Nós dois paramos, ofegantes. Foi a primeira vez que fui agressivo na frente dela. A primeira vez que perdi o controle.
Ana me olhou com uma mistura de medo e choque. Ela não disse mais nada. Apenas pegou a bolsa, virou as costas e saiu pela porta.
Fiquei sozinho, no meio da sala, com os cacos de cristal no chão e o bolo de aniversário intocado sobre a mesa.