"Pedro" , ela disse, sua voz firme, sem espaço para gentilezas. "Temos que conversar. Sobre a Sofia."
Pedro, que estava um pouco mais lúcido, sorriu fracamente.
"Ela está bem? Maria Eduarda me disse que ela está se recuperando... ela virá me ver em breve, não é?"
Helena respirou fundo.
"Não, Pedro. Ela não virá. Eu falei com ela. Ela disse... ela disse que não tem nada com você. Que nunca teve. E que um homem na sua... condição... não lhe interessa."
O sorriso de Pedro congelou. A confusão nublou seus olhos. Ele se virou para mim, procurando a negação, a confirmação de que sua mãe estava mentindo.
"Não... Maria Eduarda disse... Sofia está preocupada comigo..."
Foi a minha deixa. O golpe final.
Eu me aproximei da cama, meu rosto agora desprovido de qualquer falsa simpatia. Minha voz era fria e clara.
"Sua mãe está dizendo a verdade, Pedro. Mas ela não te contou o motivo real."
Ambos, Pedro e Helena, olharam para mim.
"Não é só porque você está em uma cadeira de rodas. É porque você não vale mais nada. Você não é mais o herdeiro forte e poderoso dos Albuquerque. Você é um fardo. Um problema. Sofia é prática. Ela não aposta em cavalos perdedores. E você, Pedro, acabou de se tornar um."
A crueldade das minhas palavras o atingiu como um soco físico. A cor sumiu de seu rosto. O último pilar de sua realidade desmoronou.
"Não... não..." , ele gaguejou, o pânico crescendo em seus olhos.
Ele tentou se sentar, se levantar, fugir daquelas palavras. E então, pela primeira vez desde o acidente, ele tentou mover as pernas.
Nada aconteceu.
Ele olhou para a metade inferior do seu corpo, imóvel sob o lençol, com uma expressão de horror puro. A negação, alimentada por drogas e ilusões, se estilhaçou. A realidade de sua condição o atingiu com a força de um trem.
"Minhas pernas..." , ele sussurrou, a voz tremendo. Ele tentou de novo, o suor brotando em sua testa. Seu rosto se contorceu em um esforço inútil. "Eu não consigo... eu não consigo mexer minhas pernas!"
O sussurro se transformou em um grito. Um grito de desespero animal, de um homem preso em seu próprio corpo. Ele começou a se debater, a socar a cama, a gritar em uma mistura de raiva e terror.
"NÃO! NÃO! NÃO!"
Era uma cena de absoluta degradação. O homem orgulhoso e arrogante, reduzido a uma criança chorona e indefesa. Helena tentou acalmá-lo, mas ele a empurrou. Enfermeiras entraram correndo.
E eu, parada no canto do quarto, discretamente levantei meu celular.
E gravei tudo.
O colapso total de Pedro Albuquerque. Seus gritos, seu choro, seu desespero patético. Um vídeo curto, mas devastador.
Mais tarde naquele dia, o vídeo apareceu anonimamente em vários blogs de fofocas da alta sociedade. O título era simples: "Herdeiro dos Albuquerque tem colapso ao descobrir que foi abandonado pela namorada" .
O efeito foi imediato e catastrófico. A imagem de poder e controle da família Albuquerque foi destruída. Eles se tornaram motivo de pena e escárnio.
Sofia, percebendo que o escândalo agora a envolvia diretamente, agiu rápido. Ela deu uma entrevista exclusiva de seu leito de hospital, com o rosto enfaixado estrategicamente para parecer mais vítima.
"Eu estou chocada e horrorizada" , disse ela, com a voz embargada. "Pedro era um bom amigo, mas sua obsessão por mim era assustadora. Eu nunca o encorajei. Este colapso... só mostra o quão instável ele é. Eu e minha família não temos nada a ver com isso. Desejo-lhe uma boa recuperação."
Ela o jogou debaixo do ônibus sem pensar duas vezes. A covardia dela era tão previsível quanto o nascer do sol.
Naquela noite, sozinha no meu quarto, eu assisti ao vídeo novamente. Eu não senti pena. Eu não senti culpa. Eu me lembrei da minha vida passada. Lembrei-me de como Pedro me olhava com nojo quando eu lutava para me mover da cadeira de rodas para a cama. Lembrei-me de como ele ria quando eu deixava cair um copo por causa dos tremores nas minhas mãos.
Ele me chamava de inútil. De um fardo.
Agora, ele estava provando do próprio veneno. E eu estava apenas começando. Ele e Sofia construíram o inferno da minha primeira vida. Nesta, eu me certificaria de que eles queimassem nele.