A mala de Ana estava aberta na cama, de novo, e eu observava da porta do quarto enquanto ela jogava roupas caras lá dentro, sem se preocupar em dobrar.
Pela terceira vez este mês, o telefone dela tinha tocado, a voz de Lucas do outro lado da linha, e ela estava pronta para abandonar tudo por ele, inclusive o nosso bistrô em uma das noites mais importantes do ano.
Quando, com a voz cansada, pedi que ela assinasse alguns "documentos de fornecedor" antes de ir, ela rabiscou sua assinatura sem sequer ler, tratando o que era o nosso divórcio como um obstáculo insignificante em seu caminho.
Eu, o marido de fachada, o provedor que cuidava de tudo para que ela pudesse viver sua fantasia romântica, finalmente quebrei o ciclo da humilhação; para ela, eu era apenas um problema a ser resolvido, tão descartável que minhas coisas foram jogadas no lixo por Lucas, com o consentimento dela.
Mas o que ela, e Lucas, não sabiam, é que o "empregado" e "ninguém" que eles tanto desprezavam, estava prestes a virar o jogo, revelando que a verdadeira força e o verdadeiro poder estavam longe de onde eles imaginavam.