Marido Troféu, Coração Partido
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Capítulo 2

De volta a Lisboa, a vida continuava a sua farsa.

Uma empregada, a Sra. Elvira, tratava do pequeno arranhão no meu braço, resultado de eu ter tropeçado na noite do leilão, com uma preocupação exagerada.

"Oh, menino Tiago, a Dona Sofia ficaria tão preocupada se visse isto. Temos de cuidar bem de si."

A ironia era tão espessa que quase me engasguei. Sofia não se importaria se eu estivesse a sangrar até à morte, desde que não manchasse os seus tapetes persas. Esta demonstração de cuidado era para as aparências, para a equipa, para manter a ilusão da esposa dedicada.

Lucas estava agora instalado na nossa casa. Um "convidado" permanente.

Passei pela sala de música e a porta estava entreaberta. Vi-os. Sofia estava sentada no colo de Lucas, no banco do piano. A guitarra do meu avô estava pousada nas pernas dele. Ele dedilhava as cordas distraidamente enquanto beijava o pescoço de Sofia.

Ela ria, inclinando a cabeça para trás. Os seus dedos traçavam os contornos da guitarra, o mesmo gesto que eu vira a minha avó fazer tantas vezes. Mas nas mãos dela, o gesto era profano.

O som que a guitarra fazia era o mesmo, mas a emoção era de pura agonia. Senti um gosto amargo na boca. Diziam que o amor de Sofia era doce, mas para mim, era o veneno mais azedo.

Afastei-me, subi para o meu quarto e comecei a fazer as malas. Não a minha mala de luxo que ela me comprara, mas uma mochila velha da universidade.

Coloquei lá dentro umas quantas peças de roupa, o meu computador portátil e um disco rígido externo. Deixei para trás os relógios caros, os fatos feitos à medida, tudo o que tinha o cheiro do dinheiro dela.

Vi uma moldura na minha mesa de cabeceira. Uma foto nossa, tirada no início do nosso casamento. Estávamos em Sintra, sorrindo. Parecíamos felizes. Talvez tivéssemos sido.

Peguei no meu telemóvel, abri a foto e carreguei em "apagar". A imagem desapareceu. O dia tinha acabado, a noite tinha chegado.

Quando desci, Lucas estava à minha espera no fundo das escadas, sozinho.

"Vais a algum lado?" perguntou ele, com aquele seu sorriso irritante.

Ignorei-o e continuei a andar.

"Sabes," disse ele, seguindo-me, "a tua guitarra tem um som fantástico. A Sofia e eu descobrimos que é o acompanhamento perfeito para certas... atividades. Ela adora quando eu toco para ela."

Parei. Virei-me para o encarar. A raiva subiu-me pela garganta, quente como lava.

"Não fales dela," disse eu, a minha voz baixa e perigosa.

Ele riu. "Oh, eu vou fazer mais do que falar."

Ele caminhou até à sala de música, pegou na guitarra e voltou. Segurou-a pelo braço, como um taco de basebol.

"A Sofia disse que isto te pertencia. Mas agora, pertence-me a mim. E eu decido o que fazer com as minhas coisas."

Com um grito de esforço, ele bateu a guitarra contra a parede de mármore.

O som da madeira a estilhaçar-se ecoou pela casa. Foi um som físico, uma dor que senti nos meus próprios ossos. Pedaços de madeira polida e cordas partidas espalharam-se pelo chão. O legado do meu avô, destruído.

Eu não pensei. Apenas reagi. Avancei para ele, mas antes que o pudesse alcançar, ele deixou cair o que restava da guitarra e agarrou no seu pulso, gritando.

"Ai! O meu pulso! Ele atacou-me! Ele partiu o meu pulso!"

Era uma encenação, e uma má encenação, mas não importava.

Sofia apareceu no topo das escadas, atraída pelo barulho. Os seus olhos passaram pelos destroços da guitarra, por mim, e pousaram em Lucas, que estava agora no chão, a embalar o seu pulso como se estivesse a morrer.

"O que é que fizeste?" ela gritou, a sua voz cheia de fúria, mas não dirigida a Lucas. A mim.

Ela desceu as escadas a correr, ignorando completamente os restos da minha herança, e ajoelhou-se ao lado de Lucas.

"Estás bem, querido? Deixa-me ver."

"Ele atacou-me, Sofia," choramingou Lucas. "Ele estava com ciúmes, ele partiu a guitarra e depois atacou-me."

"Tiago," disse Sofia, a sua voz fria como gelo, sem sequer olhar para mim. "Pede desculpa ao Lucas. Agora."

Eu devia ter gritado. Devia ter explodido. Mas, em vez disso, uma calma estranha apoderou-se de mim.

"Não," disse eu, simplesmente.

Ela finalmente olhou para mim, chocada com a minha desobediência.

"Eu não lhe toquei," continuei, a minha voz firme. "E tenho provas."

Tirei o meu telemóvel do bolso. Tinha começado a gravar áudio assim que ele começou a provocar-me.

"Gravei toda a conversa. A tua pequena cena, a tua confissão sobre o que fizeram com a guitarra, e o som dela a partir-se. Queres ouvir?"

            
            

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