Marido Troféu, Coração Partido
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Capítulo 3

O sorriso de Lucas vacilou. Pela primeira vez, vi um vislumbre de pânico nos seus olhos.

Ele olhou para Sofia, à espera que ela o salvasse. E ela salvou.

"Não sejas ridículo," disse Sofia, levantando-se e caminhando na minha direção. "Fabricaste isso. Estás desesperado e com ciúmes."

Ela arrancou-me o telemóvel da mão antes que eu pudesse reagir. Com alguns toques rápidos no ecrã, ela apagou o ficheiro.

"Pronto," disse ela, devolvendo-me o telemóvel. "Problema resolvido."

"Tu nem sequer ouviste!" exclamei, incrédulo.

"Não preciso," respondeu ela. "Eu confio no Lucas. Ele é um artista, uma alma sensível. Tu, por outro lado, estás a tornar-te amargo e vingativo. É feio, Tiago."

A sua lógica era tão distorcida, tão irracional, que me deixou sem palavras. Ela tinha escolhido o seu lado, e não havia nada que eu pudesse fazer para a fazer ver a verdade.

Lucas, agora seguro do seu lugar, levantou-se, o seu pulso milagrosamente curado. Ele caminhou até mim com um ar de falsa preocupação.

"Vamos, Tiago, não vamos brigar por causa disto. Foi um acidente. Eu tropecei."

Ele colocou uma mão no meu ombro. Eu encolhi-me com o seu toque.

Nesse momento, a Sra. Elvira entrou na sala, trazendo uma panela grande.

"O caldo verde está pronto, Dona Sofia."

Lucas sorriu. "Ah, fantástico. Estou a morrer de fome."

Ele pegou na panela quente das mãos da empregada. Ao passar por mim, ele "tropeçou" novamente.

Uma onda de líquido verde e a ferver derramou-se sobre o meu braço e peito. A dor foi imediata e lancinante. Gritei, recuando.

"Oh, meu Deus! Tiago!" gritou a Sra. Elvira, em pânico.

Mas Sofia não olhou para mim. Os seus olhos estavam fixos na mão de Lucas.

"Lucas! O teu dedo! Salpicou-te!"

Um pequeno salpico de caldo tinha atingido o seu dedo mindinho. Ele fez uma careta de dor exagerada.

"Não é nada," disse ele, corajosamente.

"Não é nada?" Sofia correu para ele, pegando na sua mão como se fosse a mais frágil das porcelanas. "Isto pode infetar! Vamos para o hospital. Agora!"

Ela arrastou-o para a porta, passando por mim como se eu fosse invisível. Eu estava no chão, a minha pele a arder, pedaços de couve e batata colados à minha camisa.

"Dona Sofia, e o menino Tiago?" perguntou a Sra. Elvira, a sua voz a tremer.

"Chame o enfermeiro estagiário que mora na rua de baixo," disse Sofia, sem se virar. "Ele que trate disso. Eu tenho de levar o Lucas ao nosso hospital privado."

A porta da frente bateu-se. Fiquei ali, a tremer de dor e de choque. O cuidado dela era seletivo. O amor dela era uma arma.

Mais tarde, enquanto o jovem enfermeiro aplicava pomada nas minhas queimaduras de segundo grau, o meu telemóvel tocou. Era um número desconhecido.

"Estou?"

"Senhor Almeida? Daqui fala o Dr. Bastos, da clínica de fertilidade. Tenho notícias maravilhosas. O procedimento de fertilização in vitro foi um sucesso. A sua esposa, Sofia, está grávida."

O mundo parou de girar. Grávida.

Lembrei-me de há dois anos, sentados no consultório deste mesmo médico. Lembrei-me do olhar devastado de Sofia quando o médico explicou que as suas hipóteses de conceber naturalmente eram quase nulas.

Lembrei-me de ter dito ao médico, em privado, para lhe dizer que o problema era meu. Eu assumi a "culpa" para proteger o seu orgulho, o seu ego frágil. Durante anos, aguentei os seus comentários sobre a minha "falha", o seu desapontamento. Tudo para a proteger.

E agora, ela estava grávida. Do meu filho.

Uma mistura de emoções avassalou-me. Uma alegria fugaz pela criança, uma vida que eu tinha ajudado a criar. Mas essa alegria foi imediatamente afogada por uma onda de dor e traição. Esta criança seria usada como mais uma corrente para me prender, mais uma ferramenta para me torturar.

O telemóvel de casa tocou. O enfermeiro atendeu.

"Sim, Dona Sofia... Sim, ele está aqui... O Lucas? Ah, que bom que ele está bem... Sim, claro. Vou informá-lo."

O enfermeiro desligou e virou-se para mim, com um ar embaraçado.

"A Dona Sofia manda os seus cumprimentos. Ela disse que o dedo do Sr. Andrade está bem, foi só um susto. E pediu para não a incomodar esta noite, pois vai ficar no hospital a fazer-lhe companhia."

Ela estava a confortar o homem que me tinha queimado, enquanto eu estava aqui, a descobrir que ia ser pai do seu filho.

A decisão solidificou-se no meu coração ferido. Esta criança não mudava nada. Apenas tornava a minha fuga mais urgente.

"Dr. Bastos," disse eu ao telemóvel, a minha voz rouca. "Por favor, por enquanto, não informe a minha mulher sobre os resultados. Quero fazer-lhe uma surpresa."

Eu precisava de tempo. Tempo para garantir que o Pedro estava seguro. E depois, tempo para desaparecer.

            
            

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