Luz: O Renascer da Fadista
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Capítulo 2

O assédio de Carolina intensificou-se.

O meu telemóvel tornou-se uma arma apontada contra mim.

Todos os dias, uma nova mensagem. Uma nova fotografia. Um novo vídeo.

Eram imagens explícitas. Carolina na nossa cama, enrolada nos lençóis que eu tinha escolhido. Carolina a usar um dos meus robes de seda. Carolina a rir, com a cabeça no ombro de Diogo, enquanto ele dormia.

"Ele fala de ti enquanto dorme," escreveu ela uma vez. "Diz o teu nome. Depois acorda e beija-me. Achas isso poético?"

Cada mensagem era um golpe.

Eu não respondia. Apenas olhava, sentia a dor a instalar-se no meu peito, e depois apagava.

Era um ritual diário de tortura.

Uma noite, Diogo chegou a casa mais tarde do que o habitual. Eu estava no sofá, a olhar para o nada.

"Sofia, meu amor, desculpa o atraso. Tive uma reunião terrível."

Ele sentou-se ao meu lado, exausto.

"Estás bem? Pareces tão distante ultimamente."

"Estou bem," repeti a mentira.

Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo. "Eu sei que a pressão é muita. Os prémios, o casamento... Mas vai valer a pena. Depois disto, tiramos umas férias longas. Só tu e eu. Onde queres ir? Maldivas? Seychelles?"

Ele falava de um futuro que sabia que não ia existir.

Nesse momento, o meu telemóvel vibrou. Era ela.

Uma fotografia. Diogo a dormir ao lado dela, nu. A data e a hora na imagem eram de há menos de uma hora. A "reunião terrível".

O meu coração parou por um segundo.

"Quem é?", perguntou Diogo, a tentar espreitar o ecrã.

"Spam," disse eu, a desligar o telemóvel rapidamente.

Levantei-me. "Vou tomar um banho."

No chuveiro, deixei a água quente cair sobre mim, mas não conseguia aquecer o frio que sentia por dentro.

Eu estava sozinha nisto. Completamente sozinha.

Na semana seguinte, havia uma gala de beneficência de luxo no Casino Estoril. Era um evento importante para a elite de Lisboa.

Diogo insistiu que fôssemos. "Temos de ser vistos, meu amor. É bom para a nossa imagem."

A nossa imagem. Sempre a imagem.

Vesti um vestido longo e preto, elegante e sóbrio. Diogo usava um smoking impecável. Parecíamos o casal perfeito.

Os fotógrafos disparavam os seus flashes. Sorrimos. Demos as mãos. Representámos.

Dentro do salão, o ar estava carregado de perfume e falsidade. Amigos de Diogo vieram cumprimentar-nos.

"Sofia, estás deslumbrante!"

"Diogo, meu sortudo!"

Eles sabiam. Eu via nos olhos deles. A forma como me olhavam com uma mistura de pena e desprezo. Eles sabiam do caso. E participavam na farsa.

Durante o leilão de beneficência, um dos itens era um raro vinil autografado de Amália Rodrigues. A minha maior inspiração.

Diogo levantou a sua placa. "Dez mil euros."

Outra pessoa licitou. Diogo aumentou. A sala ficou em silêncio, a observar o espetáculo.

"Vinte e cinco mil euros," disse Diogo, com um sorriso confiante.

Ninguém mais licitou. O martelo bateu.

"Vendido ao senhor Diogo Alencar!"

Ele virou-se para mim e beijou-me na testa, para que todos vissem. "É para ti, meu amor. A rainha merece um presente da rainha."

O meu coração, estúpido e traidor, sentiu uma pontada de esperança. Talvez eu estivesse errada. Talvez ele ainda me amasse.

Então, eu vi-a.

Carolina estava do outro lado do salão, a usar um vestido vermelho-vivo que gritava por atenção.

Ela não estava na lista de convidados oficial. Devia ter entrado com alguém.

Ela olhou para mim, depois para Diogo, e sorriu. Um sorriso vitorioso.

O meu estômago gelou.

Diogo seguiu o meu olhar e viu-a. Por uma fração de segundo, vi pânico nos seus olhos. Mas ele recuperou-se rapidamente.

"Ignora-a," sussurrou ele ao meu ouvido. "Ela é insignificante."

Mas ela não era insignificante. Ela era um cancro na minha vida.

Ela começou a caminhar na nossa direção. Lenta, deliberadamente.

Cada passo dela era uma provocação.

Parou a poucos metros de nós, ao lado de um grupo de amigos de Diogo que a cumprimentaram com beijos e abraços.

Ela ria, tocava no braço de Diogo de forma casual, como se tivesse todo o direito de o fazer.

Ele parecia desconfortável, mas não a afastou. Não na frente de todos.

Senti os olhares de toda a sala sobre nós. O drama era mais interessante do que qualquer leilão.

Sofia, a fadista de ouro. Diogo, o noivo perfeito. E Carolina, a amante descarada.

Era um espetáculo humilhante.

Eu queria fugir, mas as minhas pernas não se mexiam. Estava paralisada, presa no palco da minha própria desgraça.

            
            

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