Fragmentos de um Amor
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Capítulo 2

O post era curto, quase poético na sua crueldade.

"Ele está quebrado, finalmente. Imóvel na cama de um hospital, um pássaro com as asas arrancadas. Agora, ele não pode mais fugir. Agora, ele pertence a mim. A culpa vai te consumir, G., eu sei que vai. Mas não se preocupe, eu estarei aqui para te consolar."

As iniciais. G. Gabriel. O pássaro de asas arrancadas. Eu. Cada palavra era uma faca afiada cravando na minha ferida aberta. A coincidência era impossível. Era sobre nós.

Senti o ar me faltar. O quarto do hospital começou a girar. Eu olhei para as minhas pernas inúteis, cobertas pelo lençol, e um grito ficou preso na minha garganta. Eu queria rasgar tudo, quebrar tudo. Em vez disso, comecei a bater com os punhos nas minhas coxas. De novo e de novo.

Eu não sentia a dor dos golpes. Só sentia o vazio, a ausência de sensação. A frustração era um veneno queimando minhas veias. Eu estava preso neste corpo, nesta cama, nesta vida que não era mais minha.

Quando Gabriel voltou, horas depois, eu tinha parado. Estava apenas olhando para o teto, exausto. Ele trazia consigo uma pequena caixa de madeira.

"Olha o que eu trouxe", ele disse, com um sorriso forçado. Ele abriu a caixa. Dentro, estava o par de sapatilhas de balé que usei na minha primeira apresentação profissional. A apresentação onde nos conhecemos. "Para você se lembrar de quem você é. Um artista. O melhor dançarino que eu já vi."

O gesto era para ser doce, mas pareceu uma piada cruel. Olhar para aquelas sapatilhas era olhar para um fantasma. A pessoa que as usou estava morta.

"Onde você estava?", perguntei, a voz fria.

Ele hesitou por um segundo. "Resolvendo uns problemas da empresa. Tive que encontrar um... um parceiro de negócios."

"Dr. Mendes?", perguntei, casualmente. Dr. Mendes era o pai de Rafael. Um homem poderoso e perigoso, com quem Gabriel vinha tentando fechar um contrato há meses.

O corpo de Gabriel ficou tenso. "Sim. Foi com ele. Mas não vamos falar de trabalho agora. Vamos falar de nós."

Ele se sentou na beira da cama e pegou minha mão. Seus olhos buscavam os meus, cheios de uma devoção que me dava náuseas.

"Leo, eu te amo mais que tudo. Eu nunca vou te abandonar. Nós vamos passar por isso juntos, eu prometo. Eu vou cuidar de você para sempre."

Suas palavras eram um bálsamo e um veneno ao mesmo tempo. Uma parte de mim, a parte fraca e assustada, queria acreditar nele. Mas a outra parte, a que leu aquele post, só sentia o gosto amargo da mentira.

Nós íamos nos casar em dois meses. Os preparativos estavam quase prontos. Ele começou a falar sobre isso, sobre a casa que estávamos reformando, sobre a nossa futura vida juntos. Sua voz era animada, mas meus pensamentos estavam longe.

Eu me imaginava entrando na igreja. Não andando até o altar, mas sendo empurrado em uma cadeira de rodas. A imagem era tão nítida, tão humilhante, que senti meu estômago revirar. Quando a enfermeira entrou para checar meus sinais vitais, a náusea me venceu e eu vomitei na bandeja ao lado da cama, fraco e patético.

            
            

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