Fragmentos de um Amor
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Capítulo 3

Os dias no hospital se arrastaram em uma monotonia de dor e fisioterapia. Gabriel era incansável. Ele me dava banho, me alimentava, lia para mim. Para o mundo, ele era o noivo perfeito, o anjo da guarda. Para mim, ele era uma interrogação constante.

No dia da minha alta, ele organizou tudo. A casa estava adaptada, com rampas e barras de apoio. Nossos amigos e familiares estavam lá para uma pequena "festa" de boas-vindas.

Consegui colocar um sorriso no rosto. Com a ajuda de Gabriel, me transferi da cadeira de rodas para o sofá. Por alguns minutos, sentado ali, rindo com nossos amigos, eu quase me senti normal. Eu era o centro das atenções, e não por pena, mas pelo meu humor, pela minha presença.

Gabriel me olhava do outro lado da sala. Seus olhos brilhavam com um orgulho possessivo. Era o olhar de um homem que admira sua obra de arte mais valiosa. Quando um amigo meu, um antigo colega de dança, sentou-se ao meu lado e me abraçou um pouco mais demoradamente, vi a mandíbula de Gabriel se contrair.

Ele atravessou a sala, se sentou no braço do sofá e passou o braço pelos meus ombros, me puxando para perto. Um gesto de posse claro para todos verem. "Cuidado, ele ainda está frágil", disse Gabriel ao meu amigo, com um sorriso que não chegava aos olhos. O amigo se afastou, sem graça.

No meio da festa, o celular de Gabriel tocou. A mesma urgência de antes tomou conta de seu rosto.

"É o trabalho de novo", ele sussurrou no meu ouvido. "O pai do Rafael. Preciso ir. É a última reunião, eu juro."

Ele me deu um beijo rápido e saiu, deixando um vácuo no meio da nossa própria festa.

A desculpa foi a mesma, o nome era o mesmo. Rafael. O nome que se tornou sinônimo da minha desgraça.

Assim que fiquei sozinho em um canto, peguei meu celular. Meu coração já sabia o que ia encontrar. O blog anônimo tinha sido atualizado.

"Ele me ligou. Largou tudo e todos para vir me ver. Disse que era trabalho, mas estamos aqui, no nosso lugar. Ele diz que ama o outro, o coitadinho quebrado. Mas é nos meus braços que ele se encaixa perfeitamente."

O post vinha com uma foto. Um close de duas mãos entrelaçadas. Uma delas, eu reconheci instantaneamente. A mão de Gabriel, com a pequena cicatriz no polegar de um acidente de infância que ele mesmo me contou.

A evidência era inegável. A traição era real.

Quando ele voltou, tarde da noite, eu estava esperando por ele na sala escura.

"Como foi a reunião?", perguntei, a voz calma demais.

"Cansativa", ele respondeu, acendendo a luz. "Mas conseguimos. Fechei o contrato com o Dr. Mendes."

Ele sorriu, esperando que eu comemorasse com ele. Esperei ele chegar mais perto.

"Você não fechou contrato nenhum, Gabriel", eu disse, olhando diretamente nos seus olhos. "Você estava com o Rafael. Não estava?"

O sorriso dele morreu. O pânico piscou em seus olhos, mas ele se recompôs rapidamente.

"Leo, do que você está falando? Eu estava trabalhando. Por nós."

"Não minta pra mim!", minha voz se quebrou. "Eu sei de tudo. Eu sei que você estava com ele."

Ele se ajoelhou na minha frente, pegando minhas mãos. Seu rosto era a imagem da sinceridade.

"Meu amor, eu não sei quem andou te enchendo a cabeça com essas loucuras. Eu amo você. Só você. Rafael é apenas o filho do meu sócio, nada mais. Por favor, acredite em mim."

Ele era tão convincente. Sua voz, seus olhos, tudo nele gritava verdade. Mas eu tinha visto a foto. Eu tinha lido as palavras. A dúvida me corroía.

Exausto, decidi não brigar mais. Talvez eu estivesse ficando louco. Talvez a dor e os remédios estivessem me fazendo ver coisas.

Decidi dar a ele o benefício da dúvida. Mas a semente da desconfiança já tinha criado raízes profundas. E eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, eu teria que arrancá-la, não importava o quanto doesse.

Decidi que eu mesmo iria descobrir a verdade. Na manhã seguinte, enquanto ele estava no banho, peguei as chaves do carro dele. Eu o seguiria.

                         

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