Ao chegarem, ele não foi levado para seu quarto, mas para o porão, um lugar úmido e escuro que ele conhecia muito bem de suas vidas passadas, era a câmara de tortura particular de Isabella.
Ela o empurrou para dentro, fazendo-o cair de joelhos no chão de cimento frio. "Você queria liberdade, Lucas? Então vamos ver o quanto você a deseja."
Ela pegou um chicote de couro que estava pendurado na parede, um objeto que ele vira muitas vezes em seus pesadelos. O medo, um sentimento familiar e paralisante, tomou conta dele.
O primeiro golpe rasgou o ar e atingiu suas costas, a dor foi elétrica, cegante, rasgando sua pele e incendiando seus nervos. Ele gritou, um som abafado e desesperado.
"Você vai aprender a me obedecer", ela disse, sua voz calma, o que a tornava ainda mais aterrorizante.
O chicote estalou de novo, e de novo, cada golpe deixando um vergão ardente em suas costas, a dor era insuportável, mas algo mais se quebrou dentro dele, não era um osso, era a última imagem que ele tinha dela, a imagem do anjo que o salvou.
Enquanto a dor o consumia, uma lembrança surgiu em sua mente, uma memória de uma vida passada, ou talvez desta mesma vida, quando ele era mais jovem, ele havia caído de uma árvore e quebrado o braço, e Isabella cuidou dele, ela ficou ao seu lado a noite toda, lendo para ele, sua voz suave e gentil, seu toque era caloroso e reconfortante.
O contraste entre a Isabella daquela memória e a mulher que o açoitava agora era tão gritante, tão monstruoso, que a dor física se tornou secundária. A dor da desilusão era muito pior.
Ele finalmente entendeu, não havia mais anjo, talvez nunca tenha havido, a gentileza que ela lhe mostrou foi apenas uma ilusão, uma fachada que se desfez no momento em que ela não precisou mais dela. Ele era apenas um brinquedo, um objeto para ela usar e descartar como quisesse.
Quando ela finalmente parou, ele estava caído no chão, mal consciente, suas costas eram uma massa de dor e sangue.
Ela se agachou ao lado dele, seu rosto sem expressão. "Você aprendeu a lição?"
Ele não respondeu, não tinha forças.
"Eu te odeio", ele finalmente conseguiu sussurrar, as palavras arranhando sua garganta seca. "Eu odeio você."
Por um momento, ele pensou ter visto um lampejo de dor nos olhos dela, mas desapareceu tão rápido quanto apareceu, substituído por uma frieza ainda mais profunda.
"Ódio? Você não tem o direito de me odiar", ela disse, sua voz gotejando veneno. "Você deveria ser grato por eu ainda te manter vivo."
Ela se levantou e saiu, deixando-o na escuridão, a porta do porão se fechou com um baque surdo, selando sua prisão.
Ele ficou ali por horas, talvez dias, o tempo perdeu o sentido, a dor era sua única companheira. Ele foi deixado para apodrecer, sem comida, com apenas um pouco de água. A humilhação era completa, ele foi tratado pior que um animal.
Um dia, a porta se abriu, e uma silhueta apareceu contra a luz, não era Isabella, era um homem mais velho, de cabelos grisalhos e postura ereta, seu avô, o pai de Isabella.
O velho senhor desceu as escadas lentamente, seu rosto se contorcendo em uma expressão de horror ao ver o estado de Lucas.
"Meu Deus, menino, o que ela fez com você?", ele disse, sua voz trêmula de choque e raiva.
Ele se ajoelhou ao lado de Lucas, ignorando o sangue e a sujeira, e tocou seu ombro com uma gentileza que Lucas não sentia há muito tempo.
Era o único membro daquela família que sempre o tratou com bondade, o único que parecia realmente se importar.
"Vovô...", Lucas sussurrou, as lágrimas finalmente vindo, lágrimas de alívio e desespero. "Me tira daqui, por favor, eu não aguento mais, eu prefiro morrer a ficar aqui."
O avô olhou para as costas feridas de Lucas, seus olhos se enchendo de uma fúria justa. "Ela passou dos limites, isso é desumano."
Ele segurou a mão de Lucas, seu aperto firme e reconfortante. "Eu vou te tirar daqui, meu filho, eu prometo, mas você precisa ser forte e paciente, precisamos planejar isso com cuidado, Isabella é controladora, ela tem olhos e ouvidos em toda parte."
Pela primeira vez em muito tempo, um pequeno vislumbre de esperança se acendeu no coração de Lucas.
"Eu vou esperar", ele disse, sua voz mal audível. "Eu vou fazer o que for preciso."
O avô assentiu, seu rosto sombrio. "Descanse agora, vou mandar trazerem comida e remédios para você, não podemos deixar que ela te quebre completamente."
Enquanto o avô subia as escadas, Lucas ouviu as risadas de Isabella e Gabriel vindo do jardim, eles estavam celebrando algo, suas vozes alegres e despreocupadas ecoando pela casa, um contraste doentio com o sofrimento que ele estava vivendo no porão. Aquele som fortaleceu sua determinação, ele iria escapar, ele iria sobreviver, e um dia, ele se vingaria.