Um médico de aparência gentil entrou no quarto. Ele olhou para mim com compaixão e depois para Carolina. "Ela acordou. Mas, como eu disse, o estado é muito avançado. São horas, talvez. No máximo."
Horas. A palavra ecoou na minha cabeça, mas não me trouxe medo. Apenas uma sensação de urgência.
"Carol," eu disse, mais firme. "O envelope. Na minha bolsa."
Ela entendeu imediatamente. Pegou minha bolsa e tirou de lá um envelope pardo, grosso. Dentro, estavam todos os documentos que eu havia preparado nas últimas semanas. Contratos, cláusulas, procurações. Tudo meticulosamente redigido com a ajuda de um advogado que Carolina me indicou secretamente.
Entreguei a ela uma caneta. Com a mão trêmula, assinei o último documento. Era uma procuração que dava a Carolina controle total sobre tudo, invalidando qualquer transferência feita sob coação, e acionando cláusulas de proteção em todos os meus bens, congelando-os indefinidamente. As transferências para Sofia eram apenas uma fachada, uma armadilha legal que agora estava armada e pronta.
"Está feito," sussurrei, exausta.
Carolina guardou os papéis, o rosto uma máscara de determinação. "Eles vão pagar, Luana. Eu juro pela nossa amizade, eles vão pagar por cada lágrima que você derramou."
Ela então pegou o celular. "Eu preciso te mostrar uma coisa. Eu sei que vai doer, mas você precisa ver. Para não ter nenhuma dúvida."
Ela me mostrou uma mensagem que havia chegado ao meu celular enquanto eu estava desacordada. Era de Sofia.
"Querida cunhada, ou devo dizer, ex-cunhada? Espero que você esteja se divertindo na sua pequena fuga dramática. Enquanto isso, estou aqui, no seu quarto, na sua cama, com o seu marido. E o seu filho acabou de me chamar de 'mãe' de novo. Foi tão fofo! Não se preocupe em voltar. Ninguém aqui sente a sua falta. Aliás, obrigada por todos os presentes. Eu saberei fazer um uso muito melhor deles do que você jamais soube. Aproveite o nada. É tudo o que te resta."
Eu li a mensagem, e em vez de dor, senti um alívio amargo. Era a confirmação final. A prova da maldade pura, sem disfarces. Eu não estava errada. Eu não estava louca.
Fechei os olhos, e as memórias vieram. A lembrança de quando Pedro me apresentou Sofia, anos atrás. Uma irmã mais nova, desamparada, que tinha tido uma vida difícil. Eu a acolhi, a tratei como uma irmã. Dei a ela um emprego na minha empresa, a ajudei a criar a filha. E ela, pacientemente, como uma aranha tecendo sua teia, foi minando meu casamento, envenenando meus pais contra mim, conquistando meu filho.
Lembrei-me da última conversa que tivemos a sós, antes do meu plano começar. Eu a confrontei sobre o dinheiro do tratamento de Pedro.
"Como você pôde, Sofia? Era a única chance dele."
Ela riu na minha cara. "Chance? Luana, acorde. Pedro não vai se recuperar. Mas eu e minha filha temos uma vida inteira pela frente. Aquele dinheiro serviu para garantir o futuro dela, a autoestima dela. Você, com todo o seu dinheiro e sua vida perfeita, nunca entenderia."
"Eu te dei tudo..."
"E eu peguei," ela disse, o rosto se contorcendo em uma careta de ódio e inveja. "Peguei o que deveria ter sido meu desde o início. Você sempre teve tudo de mão beijada. O marido famoso, a casa perfeita, o respeito de todos. Agora é a minha vez. E eu vou tirar tudo de você. Cada coisinha."
Eu tinha subestimado a profundidade do seu ressentimento. Tinha subestimado a cegueira da minha família.
Meu celular vibrou de novo na mão de Carolina. Ela olhou e seu rosto se fechou.
"São seus pais," ela disse, a voz cheia de desprezo. "Estão perguntando se eu sei onde você está, porque a Sofia precisa que você assine um último papel para a transferência de um carro."
Eles não estavam preocupados comigo. Eles estavam preocupados com os bens. Com o patrimônio. Com a Sofia.
Eu sorri. Um sorriso genuíno, de pura libertação.
"Está tudo bem, Carol," sussurrei. "Não importa mais."
A dor no meu peito se tornou um peso suave. A respiração ficou mais leve. Olhei pela janela e vi o sol começando a se pôr, pintando o céu com cores quentes. Era lindo.
Fechei os olhos, e pela primeira vez em meses, eu não senti nada além de paz.
Eu morri.