Sofia, sentada no catre, levantou o rosto. O medo ainda estava lá, um nó frio em seu estômago, mas a proximidade da morte lhe dava uma estranha coragem. Se ela ia morrer, não seria como uma ovelha assustada.
"E você? Ainda se fazendo de juiz, júri e carrasco?", ela retrucou, a voz mais forte do que esperava. "Veio apreciar sua obra? Ver o quão baixo eu caí?"
A provocação o atingiu. Em dois passos largos, ele estava sobre ela, as mãos dele em volta de seu pescoço, apertando. O ar foi expelido de seus pulmões, e pontos pretos dançaram em sua visão. O medo voltou com força total, o pânico de ser privada de ar, a sensação familiar de impotência.
"Você quer morrer?", ele rosnou, o rosto a centímetros do dela. "É isso que você quer? Depois de tudo que você fez, você acha que tem o direito de morrer em paz?"
Ele afrouxou o aperto o suficiente para que ela pudesse ofegar, o ar entrando em seus pulmões como vidro quebrado. Sua mão deslizou pelo pescoço dela, e seus dedos pararam em uma pequena cicatriz desbotada, quase invisível, perto de sua clavícula.
"O que é isso?", ele perguntou, a raiva dando lugar a uma curiosidade sombria. "Uma lembrança de algum amante? Alguém que não te pagou o suficiente?"
A cicatriz. Uma lembrança de Pedro, de uma noite particularmente brutal no centro de reabilitação. A memória a fez estremecer. Mas ela não podia contar a ele. Não podia adicionar mais um fardo à sua alma já atormentada, a culpa de saber que ela sofreu tanto enquanto ele a odiava.
Então, ela mentiu. Ela riu, um som oco e quebrado. "Talvez. Ou talvez eu goste um pouco de dor. Você nunca soube disso sobre mim, não é, Gabi? Há tantas coisas que você não sabe."
A menção do apelido íntimo, usado com tanto escárnio, foi a gota d'água. A fúria voltou aos olhos dele, escura e incontrolável. Ele a empurrou para trás na cama, seu corpo pesado prendendo o dela.
"Vou te mostrar o que eu sei", ele sibilou, seus lábios se chocando contra os dela com uma brutalidade que não tinha nada a ver com desejo. Era punição. Era ódio.
Enquanto ele a tomava, rasgando não apenas suas roupas, mas também os últimos resquícios de sua dignidade, ele sussurrava veneno em seu ouvido. "Isabella é diferente. Ela é pura. Ela me salvou daquele incêndio, você sabia? Ela me deu uma razão para viver. E ela está grávida. Ela vai me dar um filho, algo que uma vadia suja como você nunca poderia."
Cada palavra era uma facada. Grávida. A notícia a atingiu com a força de uma onda, a deixando sem ar, afogando-a em uma dor tão profunda que o abuso físico se tornou secundário. Um filho. O sonho que eles um dia compartilharam, agora se tornaria realidade com outra mulher. A mulher que a destruiu.
Quando ele terminou, ele se levantou, ajeitando suas roupas como se nada tivesse acontecido. Ele a olhou, encolhida na cama, e não havia remorso em seus olhos, apenas um desprezo frio.
"Levante-se e se limpe", ele ordenou. "Isabella e eu vamos nos casar. E você vai planejar o casamento. Você vai cuidar de cada detalhe. Quero que você assista, de perto, a felicidade que você tentou destruir."
Ele se virou e saiu, trancando a porta atrás de si. Sofia ficou imóvel por um longo tempo, o corpo doendo, a alma em frangalhos. Lentamente, ela se arrastou para o pequeno banheiro anexo. A água fria do chuveiro não conseguia lavar a sujeira que ela sentia por dentro.
Enquanto a água escorria por seu corpo, ela olhou para sua própria pele. Nas suas coxas, nos seus braços, em lugares que as roupas cobririam, estavam as marcas de sua verdadeira loucura. Durante os meses de cativeiro com Pedro, para não enlouquecer, para se agarrar a algo, ela havia usado um pequeno pedaço de metal afiado para entalhar repetidamente um nome em sua própria carne. Letra por letra, de novo e de novo, até que a pele se tornasse um mapa de cicatrizes.
Gabriel.
Seu nome estava gravado nela, uma prova doentia de uma obsessão que nem a tortura, nem o ódio, nem o tempo puderam apagar. Ele era sua dor e seu único consolo. E agora, até mesmo essa última e distorcida âncora de sua sanidade havia se partido. Ele não a amava. Ele a odiava. E ele teria uma família com Isabella. O nome em sua pele agora queimava, não mais um lembrete de amor, mas uma marca de sua própria estupidez e destruição.