Ela se encolheu no chão frio do banheiro, o choro vindo em soluços silenciosos e convulsivos que sacudiam seu corpo frágil. A dor da doença, a dor do abuso, a dor da traição - tudo se misturou em uma agonia avassaladora. Seu pilar de sustentação, a crença distorcida de que o amor de Gabriel ainda existia em algum lugar sob camadas de ódio, havia desmoronado. E com ele, ela também desmoronou.
No dia seguinte, a porta se abriu. Não era Gabriel, mas um dos seguranças. Ele jogou um vestido simples e escuro na cama. "Vista-se. O senhor Gabriel está esperando."
Eles a levaram para fora daquele porão pela primeira vez em semanas. A luz do sol a fez piscar, a dor aguda em seus olhos. Ela foi empurrada para o banco de trás de um carro e levada para uma mansão à beira-mar, a casa de Gabriel. A mesma casa que um dia ela ajudou a decorar, cheia de sonhos de um futuro juntos.
Gabriel estava em uma sala de jantar suntuosa, sentado à cabeceira de uma longa mesa. Isabella estava ao seu lado, radiante. Vários homens de negócios, amigos de Gabriel, estavam presentes, rindo e bebendo. A presença de Sofia silenciou a sala por um momento. Todos a olharam, magra e pálida em seu vestido barato, o cabelo sem vida caindo sobre os ombros.
"Sofia", Gabriel disse, a voz calma, mas carregada de desprezo. "Estes são meus amigos. Eles queriam conhecer a mulher que quase arruinou minha vida."
Isabella riu, um som cristalino e cruel. "Seja uma boa menina, Sofia. Sirva o vinho."
Sofia não disse nada. Ela pegou a garrafa de vinho com as mãos trêmulas e começou a servir os convidados, evitando seus olhares curiosos e cheios de pena. Cada copo que ela enchia era uma nova humilhação. Ela era uma empregada na casa que deveria ser sua, servindo as pessoas que celebravam a união de seu ex-noivo com sua maior inimiga.
A noite se arrastou em uma tortura lenta. Depois que os convidados foram embora, bêbados e satisfeitos, Gabriel a chamou. Ele estava de pé perto da lareira, Isabella aninhada em seus braços. Ele jogou uma pasta na mesinha de centro.
"Aí estão todos os detalhes do noivado e do casamento", ele disse. "Floristas, buffet, lista de convidados. Você vai cuidar de tudo. Quero que seja perfeito."
Isabella sorriu. "Sim, Sofia. Faça um bom trabalho. Afinal, você sempre foi boa em planejar coisas para mim, não é?"
Sofia pegou a pasta, a cabeça baixa. "Sim, senhora."
Naquela noite, eles a colocaram em um pequeno quarto de empregada nos fundos da mansão. Pelo menos havia uma janela. A liberdade, mesmo que vigiada, era melhor que a escuridão da cela. Ela se deitou na cama estreita, o corpo exausto, a mente vazia. O único motivo para não se entregar completamente ao desespero era o medo de ser mandada de volta para o cativeiro de Pedro. Ela suportaria qualquer coisa para não voltar para aquele lugar.
Nos dias que se seguiram, Sofia se tornou uma sombra na mansão. Ela ligava para fornecedores, agendava reuniões, provava bolos e escolhia flores. Cada tarefa era uma facada em seu coração. Ela estava organizando a celebração da felicidade deles sobre as cinzas da sua.
A festa de noivado foi em um iate luxuoso, navegando sob um céu estrelado. Sofia trabalhou o dia todo, garantindo que cada detalhe estivesse perfeito. A exaustão pesava em seus ossos, e os espasmos em seus músculos estavam cada vez piores. Ela encontrou um canto tranquilo no convés inferior para descansar por um momento, a música e as risadas da festa acima parecendo distantes.
Ela adormeceu e sonhou. Sonhou com outro barco, muito menor, em uma noite quente de verão. Ela e Gabriel, jovens e apaixonados, deitados lado a lado, prometendo um ao outro a eternidade. No sonho, ele a beijava com uma ternura que a fazia chorar.
As lágrimas em seu rosto eram reais quando ela acordou. A realidade fria a atingiu. O sonho era apenas uma memória, um fantasma de uma vida que não existia mais. O Gabriel do seu sonho estava morto, substituído pelo monstro que a torturava no convés superior.
"Aproveitando a festa, Sofia?", a voz de Isabella a tirou de seus pensamentos.
Isabella estava parada na sua frente, um copo de champanhe na mão, um sorriso malévolo nos lábios. "Você parece cansada. Trabalhou tanto para o meu dia especial. Eu deveria te agradecer."
Sofia se levantou, tentando se afastar. "Com licença."
"Onde você pensa que vai?", Isabella a bloqueou, o sorriso desaparecendo. "Você não está feliz por mim? Por nós? Depois de tudo que você fez, eu venci. Eu sempre venço."
A mão de Sofia tremeu, a raiva e a dor lutando dentro dela. Ela queria gritar, queria expor Isabella, mas sabia que ninguém acreditaria nela. Ela era a vilã na história deles.
"Saia da minha frente, Isabella", Sofia disse com a voz baixa.
Isabella riu. "Ou o quê? Você vai me empurrar? Tente. Vamos ver quem Gabriel vai acreditar."
E com isso, Isabella jogou o champanhe em seu próprio vestido e tropeçou para trás, gritando. Tudo aconteceu em câmera lenta. Isabella caindo para trás, em direção à amurada do iate, o grito agudo cortando a música. Sofia estendeu a mão instintivamente para ajudá-la, mas era tarde demais. Ou talvez, fosse exatamente o que Isabella queria.