"Isso é culpa sua!" ela gritou, apontando um dedo trêmulo na minha direção, "Sua mulher fria e estéril! Você nunca deu um filho ao meu João, e agora essa... essa oportunista aparece com um bastardo para roubar o que é nosso!"
As palavras dela eram venenosas, destinadas a me ferir publicamente.
Mas eu já estava morta por dentro há muito tempo.
Eu a encarei, minha expressão inalterada.
"Primeiro, eu não sou estéril," eu disse, minha voz clara e firme, "Segundo, você deveria se preocupar menos com o meu útero e mais com a reputação do seu filho, que aparentemente tinha um caso e um filho fora do casamento."
Afrontei-a, lembrando-a das inúmeras vezes que ela me humilhou em jantares de família, comentando sobre minha falta de filhos, insinuando que eu era uma esposa inadequada.
"Você sempre me tratou como lixo, Beatriz, como uma peça decorativa para o seu filho perfeito," continuei, "Agora o seu filho perfeito está morto, e a única coisa que restou dele é essa bagunça."
Beatriz ficou sem palavras, seu rosto vermelho de raiva e humilhação.
Ela então se virou para o menino, Zeca, como se procurasse uma salvação, um pedaço de seu filho perdido.
Ela se agachou, sua expressão se suavizando drasticamente.
"Oh, meu querido," ela sussurrou, estendendo a mão para tocar o cabelo do menino, "Você se parece tanto com ele quando era pequeno."
Isabela viu sua oportunidade e empurrou Zeca para frente.
"Vá com a sua avó, querido," ela disse docemente.
Beatriz abraçou o menino com força, chorando histericamente.
"Meu neto! Meu netinho! O sangue do meu João!" ela soluçou, para toda a plateia ouvir.
Afonso observava a cena com uma expressão calculista, ele viu no menino não um neto, mas uma arma, uma forma de reivindicar a herança que eu agora controlava.
"Isabela," ele disse, em um tom mais calmo, "Nós vamos cuidar de você e do menino, você é família agora."
Isso era nojento.
A hipocrisia deles era sufocante.
Eu me virei para Isabela, que agora sorria presunçosamente, protegida pelos meus sogros.
"Uma cena comovente," eu disse, com sarcasmo evidente, "Mas isso não prova nada, como sabemos que essa criança é mesmo filho do João?"
Isabela riu, um som desagradável.
"Eu não sou estúpida," ela disse, "João e eu fizemos um teste de DNA meses atrás, ele queria ter certeza antes de deixar você."
Ela olhou para mim com puro veneno nos olhos.
"Ele guardou o resultado em um lugar seguro, um lugar que só eu conheço."
Afonso e Beatriz olharam para ela com alívio e triunfo.
Eles achavam que tinham ganhado.
O advogado de Isabela, que apareceu do nada, deu um passo à frente.
"Temos provas irrefutáveis da paternidade, senhora Maria," ele disse, com um ar de superioridade, "Sugerimos que você coopere para evitar um escândalo ainda maior."
Um escândalo.
Eles não faziam ideia do que era um verdadeiro escândalo.
Eu olhei para o túmulo aberto, para o caixão do meu falecido marido.
Ele deve estar se revirando lá dentro.
Ótimo.
Queime, João. Queime.