Ela tinha ligado para Gabriel. Ele disse que estava a caminho, que estava saindo de uma "reunião importante". Já se passavam duas horas.
As paredes brancas da sala de espera pareciam se fechar sobre ela. Cada tique-taque do relógio na parede era um martelo batendo em seus nervos. Ela estava sozinha, cercada por outros casais que se apoiavam, sussurravam palavras de conforto. Laura abraçou a si mesma, tentando conter os tremores de dor e frio. A humilhação de esperar por alguém que ela sabia que não viria era quase tão ruim quanto a dor física. Gabriel não viria. A "reunião importante" dele era Sofia. Sofia tinha ligado para ele em pânico porque uma campanha online tinha dado errado. Na vida passada, ele correu para o lado dela, deixando Laura sangrando e sozinha.
Finalmente, a dor diminuiu o suficiente para que ela conseguisse se levantar e ir para casa. Quando entrou no apartamento, o silêncio a saudou. Não havia sinal de Gabriel. Ela se arrastou para o quarto e desabou na cama, exausta. Horas depois, acordou com o som da porta da frente se abrindo. Ouviu a voz de Gabriel, baixa e urgente, e depois, a voz de Sofia, chorosa.
"Obrigada, Gabi. Eu não sei o que faria sem você. Você salvou minha carreira."
"Eu sempre estarei aqui por você, Sofi. Sempre."
Laura ficou imóvel, ouvindo os passos deles se aproximando do quarto. A porta se abriu levemente. Ela fechou os olhos, fingindo dormir. Ela sentiu o peso de Gabriel se sentando na beira da cama. Ele não a tocou. Ele apenas ficou ali, por um momento, antes de se levantar e sair, fechando a porta suavemente. Ele nem mesmo notou que ela tinha saído, que ela tinha sofrido, que ela tinha precisado dele. O coração de Laura, que ela pensava já estar em pedaços, se partiu mais uma vez. A indiferença dele era a prova final e mais cruel. Ela era invisível para ele. A dor dela, o sofrimento dela, não significavam nada comparado a uma lágrima de Sofia.
No dia seguinte, Gabriel agia como se nada tivesse acontecido. Ele estava preparando o café da manhã, assobiando uma melodia. Laura o observou em silêncio. Ele tinha olheiras profundas, parecia exausto. Era a exaustão de quem passou a noite inteira consolando outra mulher.
"Dormiu bem?", ele perguntou, com um sorriso que não alcançava os olhos.
"Como um anjo", ela respondeu, a voz vazia.
"Que bom. Tive que resolver um problema urgente com a Sofia ontem, uma crise de imagem. Coisa de trabalho, você sabe. Fiquei acordado até tarde", ele disse, oferecendo a desculpa esfarrapada. Ele estava escolhendo esconder a verdade, protegendo Sofia, protegendo a imagem do relacionamento perfeito deles. Ele não queria que Laura soubesse a profundidade de seu envolvimento.
Laura sentiu uma pequena e patética fagulha de esperança. Talvez ele estivesse mentindo para poupá-la. Talvez ele ainda se importasse um pouco. Ela decidiu testar.
"Gabriel, eu não estava me sentindo bem ontem. Tive que ir a uma clínica", ela disse, a voz baixa.
Ele parou de mexer o café e olhou para ela, uma ruga de irritação se formando em sua testa. "Uma clínica? Por quê? Você está bem? Por que não me avisou direito? Eu disse que tinha uma reunião." A preocupação dele era superficial, tingida de aborrecimento. A preocupação dele era com o incômodo que a doença dela poderia causar a ele.
A fagulha de esperança se extinguiu, deixando para trás apenas cinzas frias. "Não era nada. Já estou melhor", disse ela. A distância entre eles era um abismo. Ele vivia em um mundo onde Sofia era o sol, e Laura era apenas um satélite esquecido, girando em uma órbita fria e escura.
Ela se levantou da mesa, a decisão final se solidificando em sua alma. Não havia mais nada a ser salvo, nada a ser consertado. Ela não podia competir com um "amor destinado". Ela não queria mais.
"Gabriel," ela disse, a voz firme pela primeira vez. Ele a olhou, surpreso pela mudança de tom.
Ela respirou fundo, um suspiro que carregava o peso de duas vidas de sofrimento. "Acabou."
Ele a encarou, confuso, depois uma risada incrédula escapou de seus lábios. "Acabou? Do que você está falando, Laura? Tivemos uma pequena discussão ontem, é isso?"
"Não. Eu estou falando de nós. Acabou", ela repetiu, cada palavra um passo para longe dele. Ela se virou e caminhou em direção ao quarto, deixando-o parado na cozinha, o sorriso congelado em seu rosto. Ela podia sentir os olhos dele em suas costas, mas não olhou para trás. Era hora de fazer as malas. Era hora de ir embora para sempre.