O Renascer de Laura
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Capítulo 3

A primeira coisa que Laura fez foi arrancar todas as fotos deles das paredes. As imagens de sorrisos felizes, de viagens e momentos íntimos, agora pareciam uma zombaria. Ela as jogou em uma caixa de papelão sem cerimônia, junto com os presentes que ele lhe dera, os livros que leram juntos, os pequenos objetos que compunham a tapeçaria de sua vida compartilhada. Cada item era uma memória, e cada memória era uma ferida. Limpar o espaço físico era um ato simbólico, uma tentativa de limpar sua alma da presença dele.

Ela trabalhou com uma eficiência fria, metodicamente apagando os vestígios de Gabriel do apartamento que em breve deixaria de ser dela.

Gabriel voltou para casa e a encontrou no meio do caos de caixas e espaços vazios. O rosto dele passou da confusão à raiva em segundos.

"O que diabos você está fazendo?", ele gritou, o som ecoando nas paredes nuas.

"Estou me mudando", respondeu Laura, sem parar de dobrar uma blusa e colocá-la na mala.

"Você não pode estar falando sério. Por causa de uma briga estúpida? Laura, pare com esse drama!", ele agarrou o braço dela.

Laura parou e olhou para a mão dele em seu braço, depois para o rosto dele. "Não é drama, Gabriel. É o fim. Por favor, me solte."

A campainha tocou, interrompendo a tensão. Gabriel, relutante, soltou o braço dela e foi atender a porta. Era Sofia. Ela entrou correndo, os olhos cheios de lágrimas, e se jogou nos braços de Gabriel, ignorando completamente a presença de Laura e as caixas espalhadas pelo chão.

"Gabi, você não vai acreditar no que aconteceu! Aquele patrocinador cancelou o contrato! Ele disse que minha imagem não é mais 'confiável'!", ela soluçou no peito dele.

Gabriel a abraçou com força, lançando um olhar furioso para Laura por cima do ombro de Sofia. "Calma, meu amor, calma. Vamos dar um jeito. Eu estou aqui." Ele a confortava com uma ternura que Laura nunca recebeu, nem mesmo em seus momentos de maior desespero. A cena era tão absurda, tão dolorosa, que Laura sentiu uma clareza gelada tomar conta de si. Ela não era nem mesmo uma espectadora do drama deles, era parte do cenário, tão insignificante quanto as caixas de papelão.

Sofia finalmente pareceu notar Laura. Ela se afastou de Gabriel, enxugando as lágrimas com as costas da mão.

"Laura, o que é tudo isso?", ela perguntou, com uma falsa inocência. "Você vai viajar?"

Antes que Laura pudesse responder, Gabriel falou, a voz dura. "Sua irmã decidiu nos deixar, Sofia. Ela acha que eu não dou atenção suficiente para ela." O tom dele era acusatório, pintando Laura como uma namorada carente e irracional.

Sofia olhou para Laura com uma expressão de pena calculada. "Oh, Laura... não seja assim. Você sabe como o Gabi é. Ele se preocupa com você. Mas... você tem que entender, o que nós temos é diferente. É especial. É como se... o universo quisesse que ficássemos juntos. Não é culpa de ninguém."

Aquelas palavras, as mesmas palavras da sua vida passada, a atingiram. "Não é culpa de ninguém". A desculpa perfeita para a crueldade. Naquele momento, Laura entendeu. Não era apenas inveja ou oportunismo. Na cabeça distorcida de Sofia, ela era a heroína de uma história de amor épica, e Laura era apenas um obstáculo, um dano colateral necessário. E Gabriel, cego por essa narrativa, era seu cúmplice. A dor que Laura sentiu não era mais de um coração partido, mas de um despertar brutal. Ela era a vilã na história de amor deles.

A última gota de sentimento que ela poderia ter por eles evaporou. A confusão, a dor, a esperança, tudo se foi, substituído por um vazio vasto e tranquilo. Ela não sentia mais nada por eles. Eram estranhos, protagonistas de uma peça ruim da qual ela não queria mais fazer parte.

"Você tem razão, Sofia", disse Laura, a voz calma e firme. "É especial. E eu não quero mais atrapalhar." Ela pegou a última caixa, a que continha as fotos quebradas.

Enquanto ela se virava para sair, Gabriel, frustrado e confuso com a calma dela, tentou impedi-la novamente, agarrando a caixa. "Laura, espere! Não podemos terminar assim!"

A caixa escorregou das mãos dele. O som do vidro das molduras se quebrando no chão foi agudo e definitivo. No meio da confusão, Laura tropeçou em um dos cacos, seu tornozelo torcendo de forma dolorosa. Ela caiu, o joelho batendo com força no chão de madeira. Uma dor aguda subiu por sua perna.

A queda de Laura causou um efeito dominó. Sofia, tentando ajudar, esbarrou em uma pequena estante, derrubando um vaso de cerâmica que se espatifou perto da cabeça de Laura. Gabriel, em pânico, tentou puxar Laura para cima, mas só conseguiu piorar a dor em seu tornozelo. O caos se instalou no pequeno apartamento, um reflexo perfeito do caos de suas vidas. Laura ficou no chão, em meio aos cacos de seu passado e da dor aguda em seu corpo, olhando para os dois rostos em pânico acima dela. Uma risada borbulhou em seu peito, uma risada de puro desespero e ironia. O universo realmente tinha um senso de humor doentio.

                         

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