A Sombra de Heitor
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Capítulo 2

No dia seguinte, a primeira coisa que fiz foi ligar para um advogado, a voz do outro lado da linha era profissional e distante, exatamente o que eu precisava. Enquanto ele falava sobre partilha de bens e procedimentos legais, minha mente vagava pela casa, cada objeto um lembrete de uma vida que não era minha. Eu não queria nada, nem os móveis caros, nem os carros na garagem, eu só queria minha liberdade, minha identidade de volta. Assinar os primeiros papéis foi como respirar ar puro depois de anos submerso.

Era o começo do fim, e pela primeira vez em muito tempo, eu senti uma faísca de esperança.

Enquanto arrumava uma pequena mala com algumas roupas, não pude deixar de pensar em tudo que eu havia desistido por Heitor. Minha vaga em uma escola de culinária em Paris, meu apartamento bagunçado e feliz no centro da cidade, meus domingos preguiçosos pintando telas que agora estavam guardadas, empoeiradas, no porão. Eu havia me tornado um especialista em vinhos para impressioná-lo, aprendi sobre o mercado de ações para ter assunto em seus jantares, cortei meu cabelo e mudei meu guarda-roupa, tudo para ser o "marido troféu" perfeito para o grande empresário Heitor Almeida. E por quê? Por migalhas de atenção que ele jogava na minha direção quando estava de bom humor. A amargura subiu pela minha garganta.

Naquela noite, eu fiz algo que não fazia há anos, liguei para meus antigos amigos. "Leo! Pensei que você tinha sido abduzido por alienígenas ricos!", a voz de Carla soou no telefone, alta e cheia de vida. Fomos a um bar no centro, um lugar barulhento, com música ao vivo e pessoas rindo alto, o tipo de lugar que Heitor desprezava. Eu bebi mais do que devia, dancei de um jeito desengonçado e ri até minha barriga doer. Pela primeira vez em anos, eu me senti como eu mesmo, o Leo de antes, o Leo que não precisava de aprovação para existir. A sensação era libertadora, como tirar um par de sapatos apertados depois de uma longa caminhada.

Estávamos no meio de uma rodada de shots quando senti um arrepio na nuca, virei-me e meu coração parou. Heitor estava ali, parado perto da entrada, e ao seu lado, Gabriel. Gabriel parecia exatamente como nas fotos, delicado e etéreo, olhando para o ambiente com um claro desconforto. Heitor, por outro lado, me encarava com uma expressão indecifrável, seus olhos frios passando por mim, pela minha camisa colorida, pelo meu cabelo já um pouco mais comprido e bagunçado. A alegria que eu sentia evaporou instantaneamente, substituída por uma tensão palpável.

Heitor se aproximou, Gabriel o seguindo como uma sombra. Meus amigos ficaram em silêncio. "Leo", ele disse, sua voz um contraste gritante com a música alta. "Não sabia que você frequentava esse tipo de lugar." Não era uma pergunta, era um julgamento. O desprezo em seu tom era tão claro que eu podia senti-lo fisicamente. "Bem, eu costumava", respondi, tentando manter minha voz firme. "Estou apenas revisitando velhos hábitos." Gabriel olhou para mim de cima a baixo, um pequeno sorriso presunçoso em seus lábios.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, a situação saiu do controle. Gabriel, talvez por ciúmes ou por pura maldade, deu um passo à frente. "Então é esse o seu verdadeiro eu? Tão vulgar", ele cuspiu as palavras. A ofensa me pegou de surpresa, mas o que veio a seguir foi ainda pior. Num movimento rápido, ele pegou o copo de bebida da minha mão e jogou o líquido no meu rosto. O álcool ardeu em meus olhos e, no segundo seguinte, ele me empurrou com força. Eu perdi o equilíbrio e caí para trás, batendo a cabeça com força na beirada de uma mesa. A última coisa que vi antes de tudo escurecer foi o rosto de Heitor, não com preocupação, mas com uma irritação fria, como se eu fosse um incômodo que ele precisava resolver.

            
            

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