A Sombra de Heitor
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Capítulo 3

Acordei com uma dor latejante na parte de trás da minha cabeça e o cheiro de antisséptico, as luzes brancas e fluorescentes do teto do hospital ofuscavam meus olhos. Eu estava sozinho. Uma enfermeira entrou e me explicou que eu tive uma concussão leve e precisaria ficar em observação, ela disse que um "amigo" meu havia me trazido e preenchido a papelada, mas foi embora logo em seguida. Amigo. A palavra soou como um insulto. Meu coração afundou, Heitor nem sequer se deu ao trabalho de ficar.

Peguei meu celular, a tela estava trincada, mas ainda funcionava. Não havia chamadas perdidas ou mensagens de Heitor, o silêncio dele era mais ensurdecedor do que qualquer grito. Abri o Instagram por um impulso masoquista e a primeira foto no feed era de Gabriel, postada há menos de uma hora. Ele estava em um restaurante chique, sorrindo para a câmera, e na legenda, "Noite perfeita com a melhor companhia ❤️". No reflexo da taça de vinho na mesa, eu podia ver o contorno inconfundível de Heitor. A dor da traição me atingiu novamente, fresca e aguda, ele me deixou em um hospital para consolar o homem que me agrediu.

Quando recebi alta, a primeira coisa que fiz foi ir à delegacia, eu queria prestar queixa contra Gabriel. Passei horas dando meu depoimento, sentindo uma mistura de raiva e humilhação. Mas, no dia seguinte, recebi uma ligação do meu advogado, Heitor havia movido seus pauzinhos. O delegado arquivou o caso por "falta de provas", apesar de meus amigos terem se oferecido como testemunhas. O poder e o dinheiro de Heitor haviam comprado o silêncio e a injustiça. Eu me senti impotente, um peão em um jogo que eu não tinha como vencer.

Heitor finalmente apareceu na minha porta dois dias depois, parecia impecável como sempre em seu terno caro. "Eu soube o que você tentou fazer", ele disse, sem sequer entrar. "Isso foi desnecessário, Leo." Sua calma era enervante. "Desnecessário? Ele me atacou, Heitor! Eu fui parar no hospital!", eu explodi, a raiva que eu vinha reprimindo finalmente transbordando. "Gabriel estava estressado, ele não teve a intenção", Heitor respondeu, sua voz desprovida de qualquer emoção. "Ele já se sentiu mal o suficiente com a situação." A defesa dele por Gabriel era um tapa na minha cara.

"Por quê?", eu perguntei, a voz falhando. "Por que você casou comigo, Heitor? Se você o ama, por que me usou desse jeito?" Meus olhos se encheram de lágrimas de frustração. "Eu era apenas uma fachada? Um jeito de manter as aparências para a sua família e para os seus sócios?"

Ele desviou o olhar por um momento, a única rachadura em sua fachada de gelo. "As coisas são mais complicadas do que você pensa", ele disse vagamente. "Olha, eu sinto muito pelo que aconteceu no bar, foi um exagero." Ele tirou um talão de cheques do bolso interno do paletó e uma caneta. "Quanto você quer? Para cobrir as despesas do hospital e... qualquer outro inconveniente." A oferta foi tão fria, tão transacional, que me deixou sem ar. Ele não estava oferecendo consolo ou justiça, estava me oferecendo um cala-boca, um preço pelo meu silêncio e pela minha dor. Era como se ele estivesse pagando por um serviço, encerrando uma transação comercial. Naquele momento, eu entendi a profundidade do meu lugar em sua vida, eu era um item em seu balanço financeiro, um passivo que ele agora precisava liquidar.

                         

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