O Preço da Fachada
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Capítulo 2

Pedro saiu do escritório com Sofia, o braço dele possessivamente ao redor dos ombros dela. Ele nem olhou para Maria, ajoelhada no chão entre os cacos de vidro, o rosto banhado em lágrimas. Ele apenas passou por ela, guiando Sofia para fora da casa, para o carro que esperava na entrada. Ele a estava levando para longe, para protegê-la. E Maria, a esposa, a dona da casa, foi deixada para trás naquele cenário de perfeição e ruína, o coração completamente morto.

A casa ficou em um silêncio mortal. O som do carro de Pedro se afastando foi a última pá que jogou terra sobre o caixão de suas esperanças.

Horas depois, Clara, sua melhor amiga e sócia no restaurante, a encontrou. A porta da frente estava destrancada. Clara entrou chamando por ela, e a encontrou no mesmo lugar, sentada no chão da cozinha, os olhos vermelhos e vazios, olhando para o nada. Ela parecia um fantasma, uma casca vazia.

"Maria! Meu Deus, o que aconteceu?" Clara correu até ela, o pânico em sua voz.

Maria não respondeu. Ela apenas olhava para frente, como se estivesse vendo uma cena que mais ninguém podia ver. Clara a abraçou, tentando trazê-la de volta à realidade, mas Maria estava longe, perdida no deserto de sua dor.

Pedro voltou na manhã seguinte. Ele entrou em casa e viu Maria sentada no sofá da sala, com Clara ao seu lado. Ele não perguntou o que havia acontecido. Ele não perguntou se ela estava bem. Seu rosto estava frio, seus olhos eram duas lascas de gelo.

"O que você fez para assustar a Sofia?" ele perguntou, a voz cortante. Ele a culpava. Ele sempre a culparia.

Maria finalmente levantou a cabeça. Seus olhos, antes cheios de amor e admiração por ele, agora continham apenas cinzas.

"Eu a assustei?" ela repetiu, a voz rouca. "Eu não fiz nada, Pedro. Eu só existo."

"Não seja cínica," ele disse, aproximando-se. "Sofia estava em pânico. Ela disse que você a estava espionando, que a olhava com ódio. Por sua causa, ela quase teve uma crise."

Clara se levantou, pronta para defender a amiga, mas Maria fez um gesto para que ela se sentasse.

"Eu ouvi a conversa de vocês," Maria admitiu, a voz baixa, mas firme.

O rosto de Pedro se contraiu. Por um instante, uma emoção que não fosse frieza passou por seus olhos, talvez surpresa, talvez raiva.

"Você não tinha o direito."

"Eu não tinha o direito de saber que meu casamento é uma farsa?"

Pedro soltou uma risada curta e sem humor. "Se você continuar com esse drama, eu juro, Maria, vou tornar sua vida um inferno. Um inferno muito pior do que você imagina."

A ameaça pairou no ar, fria e pesada. Naquele momento, qualquer resquício de sentimento que Maria pudesse ter por ele se desfez como fumaça. Ela olhou para o homem à sua frente, o homem que um dia amara tanto que doía, e sentiu apenas um vazio gelado. E então, para sua própria surpresa, ela riu. Riu até as lágrimas escorrerem novamente, mas desta vez, não eram lágrimas de dor. Eram lágrimas de libertação.

"Acabou, Pedro," ela disse, a voz subitamente calma. "Nosso casamento. Acabou."

Ele a encarou, os olhos semicerrados, como se não acreditasse no que estava ouvindo. Ele, o grande Pedro, sendo dispensado? A ideia era absurda para ele.

Naquela mesma tarde, enquanto Pedro estava fora, Maria começou a fazer as malas. Ela não levaria nada que ele tivesse lhe dado. Apenas suas roupas, seus livros de culinária e seus pertences pessoais. Foi quando ela percebeu que algo estava faltando. Sua coleção de facas de chef, uma herança de sua mãe, a única coisa de valor sentimental que ela realmente possuía. Elas não estavam no lugar de sempre.

Um calafrio percorreu sua espinha. Ela vasculhou a cozinha, o armário, todos os lugares possíveis. Nada.

Neuza, a governanta leal que trabalhava para a família de Maria há anos e viera com ela após o casamento, entrou no quarto e a viu em desespero.

"O que foi, minha querida?"

"Minhas facas, Neuza. As facas da mamãe. Elas sumiram."

Neuza hesitou por um momento, o rosto preocupado. "Senhora, eu não queria dizer nada, mas... ontem à tarde, eu vi a Dona Sofia saindo da cozinha. Ela parecia... apressada."

A suspeita se confirmou no coração de Maria. Sofia. Ciumenta, mimada e, aparentemente, cruel.

Maria respirou fundo. Ela não ia deixar isso passar. As facas eram tudo o que restava de sua mãe. Ela pegou o telefone e ligou para a mansão da família de Pedro. Ela não falaria com Pedro. Ela iria direto ao topo.

"Dona Eleonora," ela disse quando a avó de Pedro atendeu. "Preciso falar com a senhora. É sobre a Sofia. E sobre algo que ela me roubou."

Meia hora depois, Maria estava na imensa e opulenta mansão dos Valente, a família de Pedro. Dona Eleonora, a matriarca de cabelos brancos e postura impecável, a recebeu com uma expressão de desaprovação. Ela a levou até o quarto de Sofia.

Sofia estava na cama, parecendo pálida e doente, uma performance perfeita de fragilidade. O quarto era um santuário de feminilidade, todo em tons de rosa e branco. Maria entrou, os olhos varrendo cada canto.

E então ela viu. O closet de Sofia estava entreaberto. E debaixo de uma pilha de suéteres de caxemira, o canto de um estojo de couro familiar se projetava. Mas não foi isso que prendeu sua atenção. Foi o cheiro. O perfume caro e amadeirado que Pedro usava. Estava forte ali, impregnado no ar. E na poltrona ao lado da cama, jogada de qualquer maneira, estava a jaqueta que ele usara na noite anterior.

Ele estava ali. Escondido. Provavelmente no banheiro anexo. O pensamento a encheu de uma raiva tão fria e cortante quanto as facas que procurava. Eles a estavam tratando como uma idiota completa.

            
            

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