O Preço da Fachada
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Capítulo 3

A certeza de que Pedro estava escondido no quarto de Sofia era uma brasa ardendo no peito de Maria. Ela olhou para a porta do banheiro, fechada, e depois para Sofia, que se encolhia na cama com uma expressão de vítima. A performance era tão boa que quase seria convincente, se Maria não soubesse a verdade.

"O que você quer, Maria?" a voz de Sofia era fraca, ensaiada. "Eu não estou me sentindo bem. Pedro teve que me trazer para cá ontem à noite. Eu estava tão assustada."

Dona Eleonora, a avó, colocou uma mão protetora no ombro de Sofia. "Veja o que você fez, menina. Sofia é muito sensível."

"Estou aqui para recuperar o que é meu," Maria disse, a voz firme, ignorando a matriarca. Seus olhos estavam fixos em Sofia. "Minhas facas. As facas que minha mãe me deixou. Sei que estão aqui."

Sofia arregalou os olhos, a inocência forçada em seu rosto. "Facas? Eu não sei do que você está falando. Por que eu pegaria suas facas de cozinha?" Ela olhou para a avó, buscando apoio. "Vovó, ela está me acusando. O Pedro não vai gostar nada disso."

O nome dele, usado como uma arma. Dona Eleonora vacilou. Maria viu em seus olhos o medo que toda a família tinha de contrariar o neto favorito. Eles preferiam acobertar qualquer coisa a enfrentar a fúria de Pedro. Naquele instante, Maria entendeu a profundidade de sua própria solidão naquela família. Ela sempre fora a intrusa, a peça descartável.

"Eu não me importo com o que o Pedro vai gostar ou não," Maria declarou, dando um passo à frente. "Eu sou a esposa dele. Esta é a casa da família dele. E eu tenho o direito de procurar por meus pertences roubados."

Ela caminhou diretamente para o closet, o coração batendo forte. Ela não esperou por permissão. Abriu a porta e começou a vasculhar.

"Maria, pare com isso! Que ultraje!" exclamou Dona Eleonora.

Mas Maria não parou. E lá, debaixo da pilha de roupas macias, estava o estojo de couro. Ela o puxou para fora. Suas mãos tremiam ao abri-lo.

Um grito baixo escapou de seus lábios. As facas estavam lá, mas estavam arruinadas. A lâmina da faca do chef, a sua favorita, estava coberta de arranhões profundos, como se alguém a tivesse usado para raspar uma parede de pedra. A ponta de outra estava quebrada. Eram mais do que ferramentas para ela; eram sua herança, sua conexão com a mãe que perdera tão cedo. Vê-las assim, profanadas, foi a gota d'água.

A dor se transformou em fúria pura e branca. Maria se virou, o estojo aberto em suas mãos. Sofia a observava da cama, um pequeno sorriso vitorioso brincando em seus lábios.

Foi esse sorriso que quebrou o último fio de controle de Maria.

Ela atravessou o quarto em três passos largos. Sua mão se moveu com uma velocidade que ela não sabia que possuía. O som do tapa estalou no ar, ecoando pelo quarto luxuoso. A cabeça de Sofia virou bruscamente para o lado, a marca vermelha dos dedos de Maria florescendo em sua bochecha pálida.

Sofia gritou, mais de surpresa do que de dor. "Como você ousa?"

"Você as destruiu," Maria sibilou, a voz tremendo de raiva. "Você fez isso de propósito."

"Eu não fiz nada!" Sofia choramingou, as lágrimas agora reais. "Você está louca! Você mesma deve ter feito isso para me culpar!"

Nesse momento, a porta do banheiro se abriu com um estrondo. Pedro saiu de lá, o rosto uma máscara de fúria. Ele nem olhou para as facas na mão de Maria. Seus olhos foram direto para a marca vermelha no rosto de Sofia.

"Maria!" ele rosnou, a voz baixa e perigosa. Ele se moveu para o lado de Sofia, colocando-se entre as duas mulheres. "O que você pensa que está fazendo?"

Ele a olhava como se ela fosse lixo. A dor da traição voltou com força total.

"Ela roubou minhas facas e as destruiu, Pedro! E você estava aqui o tempo todo, escondido como um covarde!"

"Não fale assim com ela," ele disse, a voz gélida. Ele pegou a mão de Sofia, examinando sua bochecha com uma ternura que ele nunca, jamais, demonstrara por Maria.

"Você não vai fazer nada a respeito? Ela destruiu a única coisa que eu tinha da minha mãe!" Maria gritou, o desespero rasgando sua garganta.

Pedro finalmente olhou para as facas. Ele deu de ombros, um gesto de descaso que a feriu mais do que um golpe físico.

"São apenas facas, Maria. Posso comprar um conjunto novo para você, o mais caro que existir."

"Elas não são 'apenas facas' !" ela rebateu, a voz embargada. "Elas têm história! Esta," ela apontou para a faca do chef, "minha mãe a usou para fazer meu bolo de aniversário todos os anos. Esta outra," ela tocou na faca de pão, "ela usava para cortar o pão que fazia todo domingo. Elas têm as marcas das mãos dela, do amor dela! Algo que você e essa sua... irmã... nunca entenderão."

Pedro ficou em silêncio por um momento, pego de surpresa pela paixão e pela dor na voz dela. A descrição detalhada, a emoção crua, tornava impossível negar que as facas eram dela.

Mas a hesitação durou apenas um segundo. Ele se recompôs, a máscara fria voltando ao lugar.

"Isso não lhe dá o direito de agredir a Sofia," ele disse, a decisão final em sua voz. "Peça desculpas a ela."

Maria olhou de seu marido para a amante dele, os dois juntos, um bloco sólido de traição contra ela. Pedir desculpas? A ideia era tão grotesca que ela sentiu vontade de rir de novo.

"Nunca," ela sussurrou.

"Peça desculpas," ele repetiu, a voz mais baixa, mais ameaçadora. "Ou eu vou garantir que você se arrependa."

                         

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