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O sangue descia pelas minhas coxas e eu mal sentia dor.
A dor real era outra.
- Você devia ter ficado calada, Bianca. - disse Leandro, antes de soltar minha mão e me deixar cair no chão frio da mansão.
Não havia gritos. Nem discussões. Só silêncio. O tipo de silêncio que precede o fim.
A arma ainda fumegava. E o sangue? Era meu. Do meu ventre.
E talvez... do filho que eu carregava.
- Eu estava grávida, seu desgraçado... - minha voz saiu falhada, mas firme.
Ele não se abalou. Nem piscou.
- Melhor assim. - respondeu, seco. - Um filho seu, talvez. Mas um problema meu.
Fui traída por ele. Não só por suas mentiras, mas pela amante - aquela miserável que entrou em nossa vida como "amiga de infância" e se deitou com ele no escritório que deveria ser nosso lar. Eu soube. Eu vi.
E quando confrontei, ele me matou.
Com um tiro.
Simples assim.
A morte não veio como uma luz.
Veio como um sussurro:
"Você quer uma segunda chance?"
Não pensei. Eu gritei dentro do vazio:
- Sim. Quero. Mas com memória. Com dor. Com raiva.
E o universo, ou seja lá o que fosse, me respondeu.
Acordei engasgando.
No mesmo quarto. Na mesma cama. No mesmo corpo.
O teto com as molduras douradas. O cheiro de perfume caro. E o maldito relógio de parede marcando 3:17 da manhã.
Mas... meus lençóis estavam limpos. Meu corpo, inteiro. Meu ventre...
Minhas mãos tremeram ao tocar. Ainda não havia sangue. Ainda estava viva. Ainda estava grávida.
Saltei da cama e corri até o banheiro.
E lá estava.
O teste.
Aquele mesmo teste de farmácia que, dias depois, eu mostraria a ele esperando sorrisos, amor, alguma migalha de felicidade.
O resultado ainda estava ali.
Positivo.
Meu coração disparou.
Meus olhos se encheram.
Eu voltei. Eu voltei antes de morrer.
- Ele vai pagar. - sussurrei, com os dedos apertando o plástico do teste. - Cada gota de sangue, cada mentira... cada carícia falsa.
Eu não era mais a mesma Bianca.
Eu era a mulher que morreu.
E voltou pra cobrar.
Naquela manhã, Leandro acordou com o mesmo sorriso encantador. O mesmo hálito de café amargo. A mesma voz rouca que um dia me fez derreter.
Mas agora eu enxergava. Com clareza. Com nojo.
- Dormiu bem, minha rainha?
Engoli a raiva e sorri.
- Como um anjo.
Mentira. Os anjos me abandonaram.
Mas eu não precisava deles.
Eu tinha memória.
Sabia quem me traiu. Sabia quem estava envolvido. Sabia o que ele faria e quando.
Agora o jogo era meu.
E Leandro?
Leandro continuava achando que me controlava.
- Estava pensando em fazermos uma viagem. Itália. Como prometi.
- Que romântico - sorri. - Vamos sim.
Mal sabia ele que aquela mesma viagem seria a ruína do seu reinado.
O primeiro passo da minha vingança não era gritar.
Era me calar.
Observar. Me infiltrar de novo.
Me fazer de cega, surda, e apaixonada - como antes.
Mas agora, cada vez que ele me tocava, eu lembrava do tiro.
Cada vez que ele me chamava de "meu amor", eu ouvia:
"Melhor assim."
E dentro de mim, o bebê crescia.
A lembrança da minha morte pulsava.
E o plano ganhava forma.
Ele não sabia, mas já estava sendo envenenado, lentamente, com cada escolha errada que eu o incentivava a fazer.
Com cada palavra que eu fingia engolir.
Com cada olhar que eu jogava, como isca.
E quando ele caísse?
Eu assistiria. Grávida. Viva. E rindo da sua explendida queda.