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Renascida e grávida, eu me vinguei do Don

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Capítulo 1 Sangue que escorre como riacho

O sangue descia pelas minhas coxas e eu mal sentia dor.

A dor real era outra.

- Você devia ter ficado calada, Bianca. - disse Leandro, antes de soltar minha mão e me deixar cair no chão frio da mansão.

Não havia gritos. Nem discussões. Só silêncio. O tipo de silêncio que precede o fim.

A arma ainda fumegava. E o sangue? Era meu. Do meu ventre.

E talvez... do filho que eu carregava.

- Eu estava grávida, seu desgraçado... - minha voz saiu falhada, mas firme.

Ele não se abalou. Nem piscou.

- Melhor assim. - respondeu, seco. - Um filho seu, talvez. Mas um problema meu.

Fui traída por ele. Não só por suas mentiras, mas pela amante - aquela miserável que entrou em nossa vida como "amiga de infância" e se deitou com ele no escritório que deveria ser nosso lar. Eu soube. Eu vi.

E quando confrontei, ele me matou.

Com um tiro.

Simples assim.

A morte não veio como uma luz.

Veio como um sussurro:

"Você quer uma segunda chance?"

Não pensei. Eu gritei dentro do vazio:

- Sim. Quero. Mas com memória. Com dor. Com raiva.

E o universo, ou seja lá o que fosse, me respondeu.

Acordei engasgando.

No mesmo quarto. Na mesma cama. No mesmo corpo.

O teto com as molduras douradas. O cheiro de perfume caro. E o maldito relógio de parede marcando 3:17 da manhã.

Mas... meus lençóis estavam limpos. Meu corpo, inteiro. Meu ventre...

Minhas mãos tremeram ao tocar. Ainda não havia sangue. Ainda estava viva. Ainda estava grávida.

Saltei da cama e corri até o banheiro.

E lá estava.

O teste.

Aquele mesmo teste de farmácia que, dias depois, eu mostraria a ele esperando sorrisos, amor, alguma migalha de felicidade.

O resultado ainda estava ali.

Positivo.

Meu coração disparou.

Meus olhos se encheram.

Eu voltei. Eu voltei antes de morrer.

- Ele vai pagar. - sussurrei, com os dedos apertando o plástico do teste. - Cada gota de sangue, cada mentira... cada carícia falsa.

Eu não era mais a mesma Bianca.

Eu era a mulher que morreu.

E voltou pra cobrar.

Naquela manhã, Leandro acordou com o mesmo sorriso encantador. O mesmo hálito de café amargo. A mesma voz rouca que um dia me fez derreter.

Mas agora eu enxergava. Com clareza. Com nojo.

- Dormiu bem, minha rainha?

Engoli a raiva e sorri.

- Como um anjo.

Mentira. Os anjos me abandonaram.

Mas eu não precisava deles.

Eu tinha memória.

Sabia quem me traiu. Sabia quem estava envolvido. Sabia o que ele faria e quando.

Agora o jogo era meu.

E Leandro?

Leandro continuava achando que me controlava.

- Estava pensando em fazermos uma viagem. Itália. Como prometi.

- Que romântico - sorri. - Vamos sim.

Mal sabia ele que aquela mesma viagem seria a ruína do seu reinado.

O primeiro passo da minha vingança não era gritar.

Era me calar.

Observar. Me infiltrar de novo.

Me fazer de cega, surda, e apaixonada - como antes.

Mas agora, cada vez que ele me tocava, eu lembrava do tiro.

Cada vez que ele me chamava de "meu amor", eu ouvia:

"Melhor assim."

E dentro de mim, o bebê crescia.

A lembrança da minha morte pulsava.

E o plano ganhava forma.

Ele não sabia, mas já estava sendo envenenado, lentamente, com cada escolha errada que eu o incentivava a fazer.

Com cada palavra que eu fingia engolir.

Com cada olhar que eu jogava, como isca.

E quando ele caísse?

Eu assistiria. Grávida. Viva. E rindo da sua explendida queda.

            
            

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