Entre a Vida e a Dor
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Capítulo 2

A primeira coisa que a senhora Silva fez quando a van partiu, deixando Patrícia caída na lama, não foi ajudar a filha.

Foi se virar para mim.

A mão dela voou rápido, acertando meu rosto com um tapa estalado que fez minha cabeça girar.

"Isso é sua culpa!", ela gritou, a voz esganiçada pela raiva e pela frustração. "Você e sua má sorte! Desde que você chegou nesta casa, só trouxe desgraça!"

Ela me agarrou pelos cabelos e me arrastou para dentro, me jogando no chão da cozinha.

"Limpe essa sujeira! E nem pense em comer hoje!"

Enquanto eu esfregava o chão com um pano velho, podia ouvir os lamentos de Patrícia na sala. O senhor Silva a tinha carregado para dentro, e agora a senhora Silva a interrogava.

"O que aconteceu? Onde está o dinheiro? Por que eles te mandaram de volta assim?"

Eu não precisava ouvir a resposta para saber. Os Fernandes não eram tolos. Eles usaram Patrícia pelo tempo que precisaram e depois a descartaram.

Minha mãe adotiva continuava a me insultar da outra sala, sua voz carregada de veneno.

"Você nunca será nada, Ana. Você é lixo, nascida do lixo. Deveríamos ter te deixado na rua para morrer."

Cada palavra era uma facada, mas eu já estava tão acostumada que mal sentia. Eu apenas continuei meu trabalho, meus movimentos mecânicos. Minha mente, no entanto, estava a mil por hora. A volta de Patrícia, por mais trágica que fosse para ela, era uma oportunidade para mim.

A senhora Silva, depois de esgotar sua raiva em Patrícia, voltou suas esperanças frustradas para o futuro.

"Não importa", ouvi-a dizer para o marido, em um tom conspiratório. "Eles vão voltar. Eles precisam da nossa filha. Da verdadeira filha. Vamos conseguir nosso dinheiro, de um jeito ou de outro."

Ela ainda acreditava que os Fernandes voltariam por Patrícia. A ganância a cegava para a realidade. Ela não conseguia ver que o jogo deles tinha falhado.

Alguns dias depois, o som de um motor potente encheu a rua novamente.

Desta vez, eram dois carros de luxo.

A senhora Silva correu para a janela, um sorriso triunfante se espalhando por seu rosto.

"Eu não disse? Eles voltaram! Rápido, esconda a Patrícia no quarto! E você", ela se virou para mim, "fique fora de vista! Não quero que seu rosto feio assuste nossas visitas ricas."

Ela abriu a porta antes mesmo que eles batessem, o sorriso mais falso e servil que eu já tinha visto.

"Senhora Fernandes! Que surpresa agradável! Sabíamos que voltariam. Nossa Patrícia sentiu tanto a falta de vocês."

Ela começou a contar uma história inventada, uma teia de mentiras sobre como Patrícia estava doente de saudades, como ela não se adaptava à vida simples depois de provar o luxo.

Ela falava sem parar, gesticulando, tentando preencher o silêncio tenso que emanava do casal Fernandes.

A senhora Fernandes, no entanto, não parecia nem um pouco comovida. Seu rosto era uma máscara de gelo. Ela usava óculos escuros que escondiam seus olhos, mas sua boca estava pressionada em uma linha fina e dura.

Ela deixou a senhora Silva falar por quase um minuto antes de levantar uma mão, interrompendo-a bruscamente.

"Chega."

A voz dela era baixa, mas carregada de uma autoridade que fez a senhora Silva se calar instantaneamente.

"Não estamos aqui por causa da sua filha."

            
            

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