A senhora Fernandes tirou os óculos escuros, e seus olhos frios e calculistas cravaram na minha mãe adotiva.
"Viemos devolver a sua impostora. E viemos buscar a garota certa."
A declaração caiu no ar como uma pedra. Direta, brutal, sem espaço para negociação.
A senhora Silva piscou, a confusão nublando seu rosto. O sorriso servil congelou e depois se desfez.
"Impostora? O que a senhora quer dizer? Patrícia é..."
Ela se virou, procurando por Patrícia, como se a simples visão da filha pudesse provar a verdade de suas mentiras. Seu olhar varreu a sala, a varanda, a rua.
"Onde ela está?", perguntou a senhora Fernandes, a voz cortante.
O senhor Fernandes, que até então estava em silêncio ao lado da esposa, fez um gesto com a cabeça para um dos motoristas.
O homem foi até a van velha e suja que tinha trazido Patrícia de volta e que, para meu espanto, ainda estava estacionada do outro lado da rua, como se estivesse esperando por este momento.
Ele abriu a porta traseira com um rangido.
Lá dentro, em um monte de panos sujos, estava Patrícia.
Ela não estava apenas deitada. Estava jogada, como um saco de lixo. A luz do sol que entrava pela porta da van revelava a extensão total de seus ferimentos.
O rosto dela estava mais inchado do que antes. Havia hematomas escuros em seus braços e pernas, visíveis através do vestido rasgado. Um filete de sangue seco escorria do canto de sua boca. Ela estava imóvel, talvez inconsciente.
Um grito estrangulado escapou da garganta da senhora Silva.
"Patrícia! O que vocês fizeram com a minha filha?"
Ela tentou correr em direção à van, mas o senhor Fernandes deu um passo à frente, bloqueando seu caminho. Ele era um homem grande, imponente, e seu rosto era uma máscara de fúria contida.
"O que NÓS fizemos?", ele rosnou, a voz baixa e perigosa. "Você deveria perguntar o que a sua filha fez. Ela tentou nos enganar. Ela tentou roubar o que não era dela por direito."
"Ela é a sua filha! A filha que vocês procuravam!", a senhora Silva insistiu, as lágrimas agora de raiva e pânico.
O senhor Fernandes soltou uma risada curta e sem humor. Uma risada que me deu calafrios.
"Não seja ridícula", ele disse, o desprezo evidente em sua voz. "Fizemos um teste de DNA assim que ela chegou. Não há nenhuma compatibilidade."
Ele se inclinou para frente, o rosto a centímetros do da senhora Silva.
"Sua filha é uma fraude. E vocês são ladrões e mentirosos. Agora, diga-me onde está a verdadeira garota, antes que eu perca a paciência e chame a polícia para resolver isso."
O mundo pareceu parar. O castelo de cartas dos Silva tinha desmoronado de uma só vez, de forma espetacular.
E no meio dos escombros, eu vi o meu caminho.