Aos três anos, fui abandonada na porta dos Silva, um casal pobre que me criou.
Ou, como eles preferiam dizer, me transformou na empregada não remunerada, no saco de pancadas de suas frustrações.
Dezoito anos depois, um carro de luxo parou em nossa porta, e os ricos Fernandes me disseram que eu era a filha deles, roubada na maternidade.
Meu coração, há muito anestesiado, pulsou com uma esperança avassaladora: uma família de verdade!
Mas a mão cruel da senhora Silva apertou meu braço.
"Fique quieta, sua imprestável", ela sibilou.
Eles apresentaram Patrícia, a filha biológica deles, vestida com um luxuoso vestido branco que eu havia passado a manhã inteira a ferro.
Assisti, paralisada e trancada na cozinha, enquanto Patrícia partia no carro que deveria ser meu.
Naquela noite, a fúria dos meus 'pais' adotivos atingiu um novo nível, culminando em mais uma surra brutal.
"Você quase estragou tudo, sua praga!"
Minha alma estava dormente, mas a satisfação sombria de que a ganância deles os destruiria começou a crescer.
E foi exatamente isso que aconteceu quando a van os trouxe de volta Patrícia, quase irreconhecível, o vestido branco manchado de sangue.
A impostora havia sido descoberta.
O jogo dos Silva, e dos Fernandes, tinha falhado.
Então, eles voltaram, e eu revelei a verdade, provando minha identidade com uma pulseira de sol e uma marca de nascença de lua crescente.
Livre dos Silva, fui para uma mansão luxuosa.
Mas a troca de jaulas douradas veio com uma revelação chocante: eu não era a filha deles.
Eu era uma doadora de medula, "concebida" para salvar Camila, minha irmã gêmea doente.
"Ela precisa de um transplante que só você pode fornecer."
Minha esperança se transformou em amargura; eu era apenas um objeto.
À noite, ouvi o plano deles: me sedariam para a extração do osso, sem anestesia.
Cuspi o "sedativo" em uma planta, fingindo ser a dócil Ana.
Senti a agulha perfurar meu quadril, a dor excruciante, mas mordi a bochecha para não gritar.
Lágrimas de fúria silenciosa escorreram enquanto minha medula era sugada.
O transplante falhou, e a senhora Fernandes me espancou, gritando: "É sua culpa! Sua medula é podre, como você!"
"Por que você está viva enquanto minha Camila está morrendo?"
Mas eu tinha um plano.
Escondi o ódio, fiz-me de vítima e me infiltrei no escritório dos Fernandes.
Descobri diários de experimentos genéticos ilegais, um laboratório secreto embaixo do hospital, crianças "descartadas".
Fotografei tudo e enviei anonimamente para a imprensa.
No dia da segunda extração, a bomba explodiu: a imprensa expôs os crimes dos Fernandes, e o hospital confirmou que não tínhamos parentesco.
"Outra fraude! A pulseira... a marca de nascença... Como?"
O senhor Fernandes tentou me estrangular na frente das câmeras, e os poucos segundos de escuridão me mostraram que era a hora da cartada final.
A polícia chegou, prendendo os Fernandes.
Então, a notícia: "Camila Fernandes não resistiu. Faleceu."
O pai, quebrado pela dor e ódio, gritou: "Você matou minha filha! Quem é você?"
"Eu não sou a Ana," revelei. "A verdadeira Ana morreu há doze anos, por negligência. Minha mãe, que a roubou e depois me abandonou, me confessou antes de morrer de overdose."
"Meu nome é Helena. E o homem que me espera... o promotor... é meu pai."
Corri para seus braços, finalmente livre, não mais a Ana de reposição ou a órfã maltratada.
Eu era Helena, em busca de justiça e de um novo começo.