O lugar era um salão amplo e vazio, feito de uma pedra polida que brilhava com uma luz interna fraca. Não havia janelas, nem portas visíveis. Apenas o chão, as paredes e um teto que se perdia na penumbra.
Ele estava sozinho.
Por um instante, um alívio percorreu seu corpo, mas foi logo substituído por uma onda de náusea. As imagens do primeiro desafio voltaram sem pedir permissão.
O labirinto.
O grito de um homem quando foi empurrado contra uma armadilha de espinhos por seu próprio companheiro. O som úmido de uma pedra esmagando o crânio de uma mulher que implorava por ajuda. Traição. Violência. A regra era simples: sobreviva.
Elias fechou os olhos com força, tentando apagar as cenas de sua mente. Ele sobreviveu, sim, mas o custo foi ver o pior da humanidade. Ele se lembrou de ter usado seu conhecimento de padrões arquitetônicos antigos para encontrar a saída, evitando o confronto direto sempre que possível. Mesmo assim, a carnificina o encontrou. Ele ainda sentia o calor do sangue de outra pessoa em seu rosto.
"Belo show, Doutor."
A voz era uma lembrança, uma das poucas pessoas com quem ele trocou mais do que um olhar assustado. Um guia local, Miguel. Ele também sobreviveu? E a jovem estudante, Clara? Ele a viu por último correndo em uma direção diferente na bifurcação final.
Seus pensamentos foram interrompidos por um som.
Primeiro, era baixo, quase imperceptível. Uma melodia infantil, uma canção de ninar cantada por uma voz desafinada e distante. Era uma melodia simples, mas a forma como ecoava no salão vazio a tornava sinistra.
"A lua no céu, espelho d'água, boneca de pano, costura a chaga."
A voz era fria, sem emoção.
Logo depois da cantiga, um som mecânico e metálico soou por todo o ambiente, como um alto-falante antigo sendo ligado.
"Parabéns aos sobreviventes da primeira rodada."
A voz era neutra, desprovida de qualquer inflexão humana. Era a mesma voz que os recebeu no labirinto.
"A segunda rodada começará em breve."
Elias se levantou, cambaleando. Seu olhar varreu o salão vazio.
"Quem é você? O que é este lugar?" ele gritou para o vazio.
Apenas o eco de sua própria voz respondeu.
"As regras da segunda rodada serão explicadas quando todos os participantes chegarem."
A voz mecânica continuou, ignorando sua pergunta.
"A participação não é opcional. A recusa em participar resultará em eliminação imediata."
Eliminação. Elias sabia o que essa palavra significava naquele jogo. Significava morte. Rápida e sem cerimônia.
Ele cerrou os punhos. A impotência era um veneno queimando em suas veias. Ele, um renomado arqueólogo que dedicou a vida a decifrar os segredos do passado, agora era um rato em um experimento sádico.
De repente, sentiu uma picada no pulso esquerdo. Ele olhou para baixo e viu um número brilhando em sua pele com uma luz azulada: '007' . No labirinto, eles não tinham números. Isso era novo.
Uma identidade. Um número de prisioneiro.
A raiva borbulhou dentro dele, quente e amarga. Quem quer que estivesse por trás disso, quem quer que fosse o mestre desse jogo doentio, estava se divertindo. Estava organizando o caos, numerando suas cobaias.
"Filho da puta," Elias sussurrou para o teto escuro. "Seja lá quem você for, você vai se arrepender disso."
Ele sabia que era uma ameaça vazia, um grito no vácuo, mas precisava dizê-la. Precisava se agarrar àquela centelha de desafio para não ser consumido pelo desespero que o rondava. A canção de ninar sinistra voltou a ecoar, mais baixa agora, um lembrete constante de que o pesadelo estava longe de terminar.