A arquitetura era uma mistura bizarra de estilos, com entalhes astecas decorando vigas que pareciam ter saído de um templo japonês. Era lindo e, ao mesmo tempo, profundamente perturbador.
Antes que ele pudesse processar completamente o novo ambiente, outros começaram a chegar.
Não foi uma chegada ordenada. As pessoas simplesmente apareciam no ar, a um ou dois metros do chão, e caíam de forma desajeitada. Um homem de terno, que parecia um executivo, materializou-se no meio de um grito e aterrissou de cara no chão de madeira. Uma mulher com roupas de ginástica caiu de bunda, com os olhos arregalados de pânico. Outro, um jovem com o cabelo pintado de verde, apareceu de cabeça para baixo e caiu de ombros, gemendo de dor.
Eram cerca de vinte pessoas, todas em vários estados de choque e confusão.
Elias observou-os atentamente e notou uma diferença crucial em relação ao labirinto. Lá, a maioria das pessoas parecia drogada, agindo por puro instinto de sobrevivência, com os olhos vidrados. Aqui, não. O pânico nos olhos deles era lúcido. A confusão era real. Eles estavam conscientes. Eles se lembravam.
Isso tornava tudo muito mais perigoso. Pessoas conscientes podiam planejar, podiam formar alianças, mas também podiam trair com muito mais eficiência.
"Elias!"
Uma voz familiar o fez virar.
Clara, a estudante de história, correu em sua direção. Seu rosto estava pálido e havia um corte em sua testa, mas seus olhos, apesar do medo, brilhavam com a mesma inteligência perspicaz que ele notara antes.
"Você está bem?" ela perguntou, a voz trêmula.
"Estou inteiro," ele respondeu, sentindo um alívio genuíno por vê-la. "E você?"
"Sobrevivi. Por pouco."
Logo atrás dela, mancando um pouco, vinha Miguel. O guia local tinha um rasgo na manga da camisa e um olhar cansado, mas seu aperto de mão foi firme quando cumprimentou Elias.
"Doutor. Que bom ver uma cara conhecida nesse inferno."
"Digo o mesmo, Miguel," Elias respondeu. "Juntos de novo, pelo visto."
O pequeno grupo de três se formou instintivamente, um oásis de familiaridade em meio ao caos de estranhos.
"Vocês notaram?" Clara disse em voz baixa, apontando com o queixo para o pulso. O número '013' brilhava em sua pele. Miguel mostrou o seu: '011' .
"Eles nos numeraram," disse Elias, mostrando seu '007' . "Acho que o jogo acabou de ficar mais organizado. E isso não é um bom sinal."
"O que você acha que significa? A ordem?" Miguel perguntou, franzindo a testa.
"Não sei. Ordem de chegada? Nível de periculosidade? Ou talvez seja completamente aleatório, só para nos deixar paranoicos," Elias ponderou, seu cérebro de arqueólogo já trabalhando, buscando padrões.
Ele se afastou um pouco do grupo para ter uma visão melhor do templo flutuante. A estrutura tinha vários andares, conectados por escadas externas de madeira. O andar em que estavam parecia ser um pátio principal. Acima e abaixo, ele podia ver outros níveis. O design era aberto, com grandes varandas e janelas sem vidro, expondo-os ao céu noturno e ao lago escuro abaixo.
Era um lugar projetado para observação, ou talvez, para ser um palco.
E então, o som retornou.
Distante, carregado pela brisa fria que subia do lago, a mesma canção de ninar.
"A lua no céu, espelho d'água..."
A voz era ainda mais clara agora, e parecia vir de todos os lugares e de lugar nenhum ao mesmo tempo. Era uma melodia que prometia não descanso, mas um terror iminente.
Vários dos outros "jogadores" também ouviram. O murmúrio de pânico aumentou.
Elias, Clara e Miguel se entreolharam. Não precisavam dizer nada. O primeiro desafio havia sido um teste de sobrevivência individual e brutal. Este, eles sentiam, seria algo diferente. Algo que exigiria mais do que apenas correr e se esconder.