O Labirinto de Elias
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Capítulo 3

"Essa música..." Clara sussurrou, o rosto tenso. "Eu já ouvi algo parecido."

Elias e Miguel se viraram para ela, atentos.

"Onde?" perguntou Elias.

"Não é exatamente a mesma, mas a melodia... lembra algumas cantigas de ninar mesoamericanas. As mais sombrias. Elas não eram para fazer as crianças dormirem, eram para assustar os maus espíritos. Ou, em alguns casos, para apaziguar divindades raivosas."

"Divindades?" Miguel franziu o cenho. "Estamos lidando com deuses agora? Não bastava os maníacos do labirinto?"

"Aquele primeiro lugar, a tumba, era asteca," Elias refletiu, conectando os pontos. "A arquitetura aqui tem elementos astecas. A canção de ninar tem uma vibe mesoamericana. O jogo pode ter um tema."

" 'Costura a chaga' " , Clara citou a letra que ouviram. "Isso soa como se algo estivesse ferido. Ou quebrado. E precisa ser consertado."

Enquanto conversavam, Elias começou a explorar o andar em que estavam. As paredes de pedra eram frias ao toque, cobertas de relevos intrincados. Ele passou os dedos sobre um deles. As imagens eram grotescas. Mostravam uma criatura sendo esquartejada, com partes do seu corpo espalhadas. Mas o mais proeminente era a sua pele, sendo arrancada em um grande pedaço.

"Tlaltecuhtli," Elias disse, o nome saindo como um suspiro.

"O que?" perguntou Miguel.

"A divindade da terra. Tlaltecuhtli. Nos mitos da criação asteca, os deuses Quetzalcoatl e Tezcatlipoca a encontraram no mar primordial. Para criar o mundo, eles a partiram em duas, transformando uma metade no céu e a outra na terra. Ela chorava e gritava, e só se acalmava com o sacrifício de sangue humano," Elias explicou, sua voz carregada com o peso do conhecimento. "Mas há uma versão menos conhecida do mito, que fala que sua pele foi roubada, e que o mundo vive sob a ameaça de sua fúria até que ela seja restaurada."

Um arrepio percorreu Clara. "Você acha que...?"

Antes que ela pudesse terminar, mais pessoas começaram a chegar. O fluxo era constante. A cada poucos segundos, um novo grito, um novo baque surdo de um corpo caindo no chão de madeira. O pátio, que antes parecia espaçoso, agora estava ficando lotado. Elias contou rapidamente. Havia mais de cinquenta pessoas agora.

E então, a voz mecânica retornou, mais alta e clara do que nunca.

"Bem-vindos à segunda rodada: O Templo da Pele Roubada."

Um silêncio mortal caiu sobre a multidão. Todos os olhos se voltaram para o vazio.

"A divindade Tlaltecuhtli está incompleta. Sua dor ecoa neste lugar. A cada ciclo, ela exigirá uma oferenda para aliviar seu sofrimento."

A voz fez uma pausa dramática.

"A oferenda é 'pele' . Artefatos de couro, pergaminhos antigos, tecidos velhos, qualquer coisa que possa simbolicamente substituir a pele que lhe foi tirada. Vocês devem encontrar esses itens espalhados pelo templo."

"Quando a criatura chegar, ela pedirá sua oferenda. Se você não tiver uma para dar, você se tornará a oferenda."

Pânico explodiu na multidão. Gritos, choros, acusações.

"Isso é loucura!" alguém gritou.

Mas o pior ainda estava por vir.

Do centro do pátio, onde não havia nada além de tábuas de madeira, algo começou a emergir. A madeira rangeu e se partiu quando uma forma escura e oleosa subiu lentamente do chão.

Não era uma aparição. Era física. Parecia feita de terra molhada e sombras torcidas. Tinha a forma vagamente humanoide, mas era uma paródia grotesca. Era alta, magra, e se movia com uma fluidez perturbadora. E tinha apenas um braço. O outro lado de seu tronco era uma massa disforme de carne pulsante. O rosto era uma tela em branco, sem olhos, nariz ou boca, mas todos sentiram, de alguma forma, que ela os observava.

A criatura se ergueu completamente, gotejando uma substância escura no chão. A canção de ninar parou. O silêncio que se seguiu foi mais aterrorizante do que qualquer som.

O jogo havia começado.

                         

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