Amarras do Passado Quebrado
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Capítulo 3

Na manhã seguinte, Ricardo acordou sentindo-se estranhamente leve. A decisão de terminar o casamento parecia ter tirado um peso de seus ombros. Ele olhou para o teto do quarto de hóspedes e, pela primeira vez em muito tempo, não sentiu a angústia familiar em seu peito.

Sofia, por outro lado, parecia ter passado a noite chorando. Seus olhos estavam vermelhos e inchados quando ela o encontrou na cozinha.

"Bom dia," ela disse com uma voz fraca, tentando forçar um sorriso. "Eu posso fazer café para você?"

Ricardo a ignorou e foi até a máquina de café, preparando sua própria xícara. O silêncio na cozinha era pesado.

"Ricardo, por favor, fale comigo," ela implorou. "Eu prometo que vou terminar tudo com Pedro. Foi um erro. Eu estava solitária."

Ricardo tomou um gole de seu café, o líquido amargo combinando com seu humor.

"Solitária?" ele repetiu, com um tom de escárnio. "Você não estava solitária, Sofia. Você estava ocupada. Ocupada demais construindo uma nova família enquanto eu estava fora, trabalhando para nos dar um futuro."

Ele continuou a manter uma distância fria dela. Ele se movia pela casa como um fantasma, sua presença física era a única coisa que restava. Ele a evitava, respondia às suas perguntas com monossílabos e recusava qualquer tentativa de contato físico.

Sofia estava ficando desesperada. Ela tentou de tudo. Fez seus pratos favoritos, usou a lingerie que ele gostava, falou sobre os bons momentos que tiveram. Mas nada funcionou. Ele a olhava como se ela fosse uma completa estranha.

"Eu sei que te magoei," ela disse uma noite, sua voz embargada. "Mas eu juro, Ricardo, é você que eu amo. Eu vou provar isso para você."

Ricardo sentiu uma pontada de pena dela, mas a imagem de Sofia com Pedro e sua filha no parque apagou qualquer compaixão.

"Sabe, Sofia," ele disse, finalmente se envolvendo em uma conversa mais longa. "Vamos fazer uma coisa. Amanhã é sábado. Vamos ao cartório."

Os olhos de Sofia se iluminaram com esperança. Ela pensou que ele queria registrar algo novo, talvez renovar os votos, um gesto para consertar o casamento.

"Ao cartório? Sério?" ela perguntou, com um sorriso radiante. "Claro, meu amor! O que você quiser! Vamos amanhã de manhã. Eu prometo, a partir de agora, serei a melhor esposa do mundo."

Ricardo apenas assentiu, seu rosto inexpressivo. Ele sabia que ela estava interpretando mal suas intenções, e ele não fez nada para corrigi-la.

"E quanto a Pedro?" ele perguntou, testando-a. "E se a filha dele ficar doente de novo?"

O sorriso de Sofia vacilou por um segundo.

"Não se preocupe com isso. Eu já disse a ele que preciso de espaço. Minha prioridade é você, nosso casamento," ela disse, tentando soar convincente.

Mas Ricardo viu a hesitação em seus olhos. Ele sabia que era uma mentira.

Mais tarde naquela noite, quando eles foram para a cama – ele no quarto de hóspedes, ela no quarto principal – ela tentou se aproximar dele. Ela entrou no quarto de hóspedes, vestindo apenas uma camisola de seda.

"Ricardo..." ela sussurrou, tentando beijá-lo.

Ele virou o rosto, o cheiro do perfume dela de repente o enjoando.

"Saia, Sofia," ele disse, sua voz fria como gelo.

A rejeição foi como um tapa na cara dela. A raiva brilhou em seus olhos.

"Qual é o seu problema? Eu estou tentando consertar as coisas! Você vai ficar me punindo para sempre?" ela sibilou.

"Eu não estou te punindo. Eu só não quero você perto de mim," ele respondeu, sem emoção. Ele se virou na cama, dando as costas para ela.

Sofia ficou parada na porta por um momento, furiosa e humilhada. Ela bufou e saiu, batendo a porta.

Ela se deitou em sua cama, tentando se convencer de que ele estava apenas com raiva. 'Ele ainda me ama,' ela pensou. 'Ele só precisa de tempo. Amanhã, no cartório, tudo vai se resolver. Ele vai ver o quanto eu o amo e vamos começar de novo.'

Ela se agarrou a essa falsa esperança como um bote salva-vidas.

Na manhã seguinte, Ricardo estava surpreendentemente calmo. Ele até preparou o café da manhã para os dois, algo que não fazia há muito tempo. Ele fez panquecas, exatamente como ela gostava.

Sofia viu isso como um bom sinal. Ela se sentou à mesa, sorrindo.

"Isso é tão bom, querido. Como nos velhos tempos," ela disse, seu coração se enchendo de otimismo.

Ricardo não disse nada, apenas comeu suas panquecas em silêncio. A atmosfera era falsamente pacífica, a calmaria antes da tempestade. Ele estava apenas seguindo o roteiro, esperando o momento certo para o ato final.

                         

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