O Retorno de Sofia
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Capítulo 3

A raiva de Pedro era uma tempestade familiar. Eu o vi explodir em uma reunião no dia seguinte, sua voz ecoando pela sala do conselho enquanto ele repreendia um gerente de projeto por um pequeno erro. Aquele olhar furioso, os punhos cerrados sobre a mesa de mogno... era o mesmo olhar que ele me deu no dia em que perdemos Miguel. Ele culpou os outros por suas próprias frustrações, uma falha de caráter que Juliana explorou com maestria.

Mais tarde, em uma festa da empresa, ele estava no centro das atenções, mas sua mente parecia estar em outro lugar. No meio de uma conversa, ele simplesmente se virou e saiu, deixando uma jovem e esperançosa executiva no meio de uma frase, com o rosto corado de humilhação. Ele a deixou ali, plantada, enquanto se dirigia para o bar para se servir de um uísque.

Observei a executiva se recompor e se afastar, e meu coração fantasma se apertou por ela. Eu, Gabriela, Clara, e agora essa pobre garota... éramos todas peões em seu jogo, mulheres usadas para preencher um vazio que ele se recusava a admitir que existia. Éramos descartáveis, substituíveis. A única diferença era que eu já havia sido a rainha antes de ser descartada.

Naquela noite, a cidade realizou seu festival anual de lanternas, um evento que eu e Pedro costumávamos adorar. Milhares de lanternas de papel subiram ao céu, cada uma carregando um desejo. De minha posição ao lado dele na varanda de sua cobertura, pude ouvir fragmentos de conversas da multidão abaixo. "Uma oração por Sofia", disse uma mulher. "Ela era uma estilista tão talentosa. Espero que ela encontre a paz." Outra voz acrescentou: "Sim, e a fundação que ela criou para crianças doentes fez tanto bem."

O nome "Sofia" flutuou no ar, chegando aos ouvidos de Pedro. Seu rosto se contorceu em uma máscara de fúria. Ele se virou bruscamente, o copo de uísque batendo na mureta da varanda. "Ricardo!" ele gritou.

Ricardo apareceu instantaneamente. "Sim, senhor?"

"Eu não quero mais ouvir esse nome," Pedro sibilou, sua voz baixa e perigosa. "Ninguém nesta empresa, nesta cidade, tem permissão para mencionar o nome de Sofia novamente. Entendido?"

"Mas, senhor, as pessoas a amavam..."

"FAÇA O QUE EU MANDEI!" ele rugiu, e o poder em sua voz fez Ricardo recuar. A ordem era absurda, tirânica, mas era um reflexo de sua dor e de seu orgulho ferido. Ele queria me apagar da história, apagar qualquer lembrança de sua própria falha.

Naquele momento, observando-o tentar exercer controle sobre a memória das pessoas, uma onda de desespero me atingiu com a força de um maremoto. O amor que eu senti por ele se transformou em cinzas, e dessas cinzas, o ódio floresceu, escuro e frio. Se ele queria me apagar, eu faria questão de que ele nunca me esquecesse.

Ele não voltou para o quarto que dividia com Juliana naquela noite. Em vez disso, foi para um quarto de hóspedes, trancou a porta e bebeu até cair no sono. Pela primeira vez desde a minha morte, eu tive um momento de silêncio, um breve alívio de ter que testemunhar a intimidade dele com outra mulher. Na escuridão do quarto, flutuando sobre sua forma adormecida, eu planejei meu retorno.

                         

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