Capítulo 4 "Fica bravo não"

Brody Dalle gritava na música The Hunger da banda dela The Distillers e eu estava nos braços do meu garoto. Ele estava sem camisa e eu só de sutiã e calça jeans. Costumávamos a ficar bem a vontade quanto estávamos juntos.

Eu fazia aquele lance de ficar de sutiã para que eu pudesse sentir seu peito contra o meu, a pele dele era quente e gostosa de se ter por perto. Além disso eu podia ouvir seu coração batendo forte quando ele estava ao meu lado.

Estava tudo numa paz completa, até que meu telefone vibrou.

Era uma notificação.

Dou uma olhada no celular e vejo que é a notificação da minha ex, aquela com quem eu troquei as cartas que minha mãe descobriu.

"Preciso da sua ajuda" era o que dizia a mensagem.

- Quem é? - Ele perguntou preocupado quando viu minha cara.

- A Luísa, minha ex. - Eu vi ele gelar, vi de verdade. A gente nunca tocava muito no assunto "ex", porque era um ponto meio espinhoso pra ele. Não que ele nunca tivesse namorado, César era um homem lindo e por isso ele tinha um bom histórico.

O problema é que ele era um tanto quanto inseguro, ele disse que nunca amou ninguém como me amou.

Eu duvido um pouco, mas não questiono, afinal é minha palavra contra a dele.

César era um cara extremamente bonito, ele tinha a pele bronzeada, cabelos lisos na raiz que se transformava em ondinhas nas pontas, uma boca bonita e carnuda e olhos escuros como a noite. Nos olhos ele sempre tinha um par de óculos de armação quadrada que dava um charme especial.

Ele era simplesmente o cara mais legal e bonito no qual eu havia me relacionado, então porque tanta comoção quando o assunto era ex? Eu nunca entendi muito bem.

- Não gostei disso... - César era ateu, não acreditava nessas coisas de intuição, mas eu acho que ele deveria acreditar, porque a dele era ótima.

Meu corpo inteiro se estremeceu com aquela frase.

- Acho que não vou responder. - Foi o que eu disse naquele momento, e então voltei pros braços de César, ele estava com os braços endurecidos, como se ele estivesse tenso com algo. E ele estava.

Eu não sabia o que dizer, de fato eu realmente não sabia o que dizer. Tentei agir da melhor maneira possível, e na dúvida, sorri.

Ele deu um sorriso meia boca de volta e ficou por isso mesmo. Voltou a sua habitual posição onde eu deitava em seu peito nu, mas aquilo não parecia certo, na verdade, parecia bem estranho, bem esquisito.

César era um cara absolutamente incrível, mas confesso que assim como esse lance de ex era um problema pra ele, a questão de ele não me assumir também era um problema para mim.

Eu nunca tive coragem de colocar as cartas na mesa, mas também nunca tive coragem de um monte de coisa.

Acho que a vida é isso, viver sem coragem, viver sem saber o que esperar no dia seguinte e mesmo assim não ter ânsia de mudar esse quadro.

Sei lá, tudo era tão estranho, eu não sabia ao certo como agir.

Eu nunca sabia ao certo como agir.

- Não tô muito legal, Mia. Você pode ir embora? – Ele disse, suspirando assim que a segunda música depois de The Hunger acabou. Respirei fundo, não havia o que dizer a ele e estava nítido que meu ficante estava puto.

Claro que não era culpa minha, era dos traumas não trabalhados dele, mas o que eu ia fazer? A vida me fez diplomática e diplomática hei de ser.

- Posso sim. – Falei brevemente enquanto fechava a blusa e ia partindo rumo a sala de estar.

- Fica brava comigo não. – Ele disse enquanto eu cruzava a cozinha rumo à saída da casa. Notei naquele momento que ele havia se tocado do que tinha rolado.

- Relaxa, eu tô de boa. – Eu falei e era a minha vez de fazer um sorriso meia boca. Ele me puxou pra perto, me de um beijo na testa, ele me abraçou por um tempo, como se estivesse com medo de me perder.

E nessas horas eu pensava: "se tem tanto medo porque não me assume!?", mas no fim das contas aquela era mais uma das situações em que eu pensava, pensava, mas não falava. A verdade é que eu não encarava a realidade.

            
            

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