Capítulo 3 No.3

Forcei um sorriso. "Parabéns, aos dois. Desejo-vos tudo de bom."

A minha voz soou surpreendentemente firme.

Jax pareceu aliviado. O sorriso da Chloe apertou-se, apenas uma fração.

Então Mark e Lee, os colegas de banda de Jax, aproximaram-se com arrogância, cervejas na mão.

"Olá, Savvy! Lembras-te de todas aquelas bolachas que costumavas fazer para nós?", zombou Mark.

"E aqueles cartazes? 'Os Night Howlers conquistam Austin!'", acrescentou Lee, imitando uma voz dramática.

Eles riram, alto e desagradável.

"Ela era a nossa fã número um, não eras, Savvy?"

"Uma paixão tão adorável", disse Mark, piscando o olho para Chloe. "Ainda bem que o nosso Jax já é crescido."

Os tipos da indústria por perto riram.

Senti o meu rosto arder. Totalmente, completamente humilhada.

Jax apenas ficou ali, um sorriso fraco e desconfortável no rosto. Ele não disse uma palavra para os parar.

Ele não se importava.

Percebi então. Todos aqueles anos, a sua tolerância à minha presença, a minha constante órbita em torno dele e da banda, era por causa do Ben.

O Ben era o seu melhor amigo, o seu colega de banda. Ele aturava a irmã mais nova.

Agora, ele tinha a Chloe. Ele já não precisava de me aturar.

Ele queria que eu desaparecesse. Toda esta farsa era para garantir isso.

Murmurei uma desculpa e virei-me, precisando de escapar.

A tristeza era um peso pesado no meu peito, dificultando a respiração.

Encontrei um canto tranquilo junto a uma grande janela com vista para a cidade.

"Noite difícil?"

Chloe Davenport estava ao meu lado, segurando duas taças de champanhe. Ofereceu-me uma.

Abanei a cabeça. "Não, obrigada."

"Olha," disse ela, a sua voz mais suave agora, quase conspiratória. "O Jax pode ser um bocado idiota. Aqueles tipos são uns parvos. Não deixes que te afetem."

Eu apenas olhei para ela.

"Eu estava a falar a sério, Chloe. Fico feliz por vocês os dois. Estou a seguir com a minha vida."

Ela bebeu um gole do seu champanhe, os seus olhos a avaliarem-me.

"Estás mesmo? Sabes, o Jax fala a dormir às vezes. Ele costumava murmurar o teu nome. Muitas vezes."

A minha respiração engasgou-se. A que é que ela estava a jogar?

"Ele sentia-se culpado, acho eu. Por te dar esperanças com aquela porcaria do 'espera até teres vinte e dois'."

Ela encolheu os ombros. "Ou talvez ele gostasse mesmo da atenção da doce rapariguinha das artes."

O seu sorriso estava de volta, aguçado e conhecedor.

Antes que eu pudesse responder, ouviu-se um som súbito e alto de algo a ranger vindo de cima.

Ambas olhámos para cima.

Uma instalação de arte maciça, uma pesada escultura de metal, estava suspensa do teto.

Estava a balançar.

Perigosamente.

As pessoas começaram a gritar.

Instintivamente, Jax, que aparecera do nada, agarrou a Chloe, puxando-a bruscamente para fora do caminho direto da escultura.

Ele nem sequer olhou na minha direção.

A escultura desabou com um rugido ensurdecedor de metal torturado e gesso a estilhaçar-se.

Eu não estava diretamente debaixo dela, mas um pedaço grande e irregular partiu-se, girando pelo ar.

A dor explodiu na minha perna, uma agonia ardente e ofuscante.

Outro golpe perto da minha clavícula.

Depois, escuridão.

Acordei num quarto de hospital.

O cheiro a antissético e a medo.

O Ben estava lá, o seu rosto pálido, os olhos avermelhados.

"Savvy? Oh, meu Deus, Savvy, lamento tanto." Ele parecia que ia chorar.

"O que aconteceu?" A minha voz era um coaxar.

"A escultura... caiu. Foste atingida. A tua perna está partida, muito mal. E tens um corte profundo aqui." Ele tocou suavemente na sua própria clavícula.

Ele parecia furioso. "O Jax... ele ficou ali parado com a Chloe. Nem sequer olhou para trás depois de a ter tirado do caminho."

Eu processei aquilo. O Jax salvou a Chloe. Claro que sim. Ela era a sua noiva, o seu futuro.

Eu era apenas... a Savvy.

Já nem doía, essa constatação. Era apenas um facto.

"Está tudo bem, Ben", sussurrei eu. "Ele escolheu. Não faz mal."

Isso solidificou tudo. A minha decisão de partir.

O Ben olhou para mim, os seus olhos cheios de uma dor que espelhava a minha, mas também de uma raiva a ferver.

"Não está bem, Sav. Nada disto está bem."

Mas eu sabia, com uma certeza arrepiante, que tinha acabado. O que quer que eu pensasse que tinha com o Jax, qualquer futuro que eu tivesse sonhado, tinha desaparecido.

E eu estava estranhamente calma.

Eu ia para Florença. Eu ia sarar. Eu ia construir uma nova vida.

Secretamente, comecei a fazer os planos a sério, aqueles que envolviam bilhetes de avião e uma viagem de ida.

            
            

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