Cada anúncio era seguido por uma explosão de aplausos e gritos. Eu podia imaginar as pessoas correndo para as mesas de inscrição, passando seus cartões de crédito, entregando envelopes de dinheiro, os olhos vidrados com a promessa de riqueza instantânea. Eu estava trancado em um depósito escuro, mas a imagem era tão clara na minha mente que era como se eu estivesse lá.
Eu me sentei no chão frio de concreto, a poeira grudando na minha roupa. A adrenalina da minha tentativa de denúncia deu lugar a uma sensação de impotência esmagadora. Eu tinha avisado. Eu tinha gritado a verdade. Mas a sedução de uma mentira bonita era sempre mais forte do que a dureza de uma verdade feia.
De repente, a música ficou ainda mais alta e a multidão rugiu. Era o clímax da noite. Ricardo provavelmente estava exibindo algum extrato bancário falso no telão ou trazendo um "investidor satisfeito" para dar um depoimento.
Foi nesse momento que ouvi a voz de Luana. Mesmo através da porta de metal e da música alta, sua voz era clara. Ela tinha pegado o microfone novamente.
"Eu sei que alguns de vocês podem ter dúvidas", disse ela, sua voz agora firme, cheia de uma convicção forjada. "Eu também tive. Eu olhei para o Ricardo e pensei: 'Isso é bom demais para ser verdade'."
Houve uma pausa. Eu prendi a respiração. Por um instante, uma esperança tola surgiu em mim. Seria esse o seu momento de clareza? O momento em que ela percebia o abismo em que estava prestes a pular?
"Mas então", ela continuou, sua voz subindo em um tom triunfante, "eu percebi que o medo é o inimigo do progresso! A dúvida é a corrente que nos prende à mediocridade! E eu decidi que não vou mais ter medo! Eu não vou mais ser medíocre!"
O grito que se seguiu foi ensurdecedor. Ela tinha eles. Ela tinha a todos. Ela não apenas abraçou a mentira, mas se tornou sua principal defensora.
"Para provar a minha fé neste projeto, neste homem," ela gritou, a voz embargada de uma emoção teatral, "eu estou investindo tudo o que eu tenho! O dinheiro que minha mãe economizou por trinta anos! Eu estou apostando tudo no nosso futuro!"
Um calafrio percorreu minha espinha. Ela fez isso. Ela realmente fez isso. Ela sacrificou o futuro da própria mãe no altar da sua ambição. A tragédia estava completa.
Eu me levantei e bati na porta com os punhos.
"LUANA! NÃO FAÇA ISSO! LUANA!"
Minha voz foi abafada pelo som da celebração. Ninguém me ouviu.
A porta se abriu de repente, mas não foi para me libertar. Era Pedro. Seu rosto estava vermelho de excitação e raiva.
"Cala a boca, João!", ele sibilou. "Você está estragando tudo!"
"Eu estou tentando salvar vocês! Salvar a todos!", eu gritei de volta, tentando passar por ele.
Ele me empurrou para dentro com força. "Salvar? Você está tentando nos destruir por puro despeito! Luana finalmente está fazendo algo por si mesma, e você não suporta isso!"
"Por si mesma? Ela está sendo enganada! E você, Pedro, você está ajudando! Por quê? Por um pouco de atenção dela? Para se sentir importante por um minuto?"
A verdade nas minhas palavras o atingiu. Seus olhos brilharam com um ódio puro e sem disfarces.
"Fique longe dela", ele rosnou, a fachada de amigo preocupado finalmente caindo. "Ela é minha responsabilidade agora."
Ele me deu um último empurrão que me fez tropeçar e cair. Então, ele bateu a porta e a trancou novamente. Desta vez, ouvi o som de algo pesado sendo arrastado e encostado na porta. Eu estava completamente preso.
O som da festa lá fora continuou por mais uma hora, uma cacofonia de música alta, risadas e conversas animadas. Depois, o barulho começou a diminuir, substituído pelo som de pessoas saindo, suas vozes cheias de planos para o futuro que nunca teriam.
Eu fiquei sentado na escuridão, o silêncio agora mais opressor do que o barulho. Eu tinha falhado. A história estava se desenrolando exatamente como antes, talvez até pior, porque desta vez, eu estava consciente de cada passo em direção ao desastre.
Foi então que ouvi um som diferente.
Não era a música, nem as vozes dos investidores enganados. Eram gritos. Gritos de raiva e pânico. E batidas. Batidas fortes na porta principal do galpão.
"ABRAM A PORTA! ONDE ESTÁ O MEU FILHO?"
"LADRÕES! DEVOLVAM O NOSSO DINHEIRO!"
Os pais.
Algum deles deve ter ficado desconfiado. Talvez um filho tenha ligado para se gabar do seu "investimento" e o pai, mais experiente, percebeu a farsa. A intervenção externa que eu esperava que viesse da polícia estava vindo dos pais furiosos das vítimas.
A porta do meu cativeiro improvisado foi destrancada às pressas. Foi Pedro novamente, seu rosto agora pálido de pavor.
"Vamos, temos que sair daqui!", ele disse, me puxando pelo braço.
Mas era tarde demais. Quando saímos do depósito, o salão principal era uma cena de caos absoluto.