Curupira: Um Amor de Outro Mundo
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Capítulo 3

Fiquei sem palavras.

Casar com ele? Com uma criatura mítica que eu mal conhecia?

Ele viu a confusão no meu rosto.

"Para ficar na floresta, você precisa de uma conexão. Um vínculo. Ou a floresta vai te consumir", ele explicou, sua voz calma e paciente. "O casamento é o vínculo mais forte que existe."

Ainda assim, era um passo enorme.

Mas qual era a minha alternativa? Voltar para o Rei Jaguar? Nunca.

"O que... o que esse casamento envolve?", perguntei, a voz trêmula.

"Um juramento. E um sacrifício", ele disse, sério.

Ele me levou para o centro da clareira onde sua casa estava construída. Era um lugar mágico. Flores que brilhavam no escuro cresciam por toda parte, e uma pequena cachoeira cantava uma melodia suave ao fundo.

No centro, havia uma pedra lisa e escura.

"Esta é a Pedra do Juramento", ele disse. "Nossos nomes serão gravados nela."

Ele pegou uma pequena faca de obsidiana.

"O juramento é selado com sangue. Uma gota do meu, uma gota do seu."

Meu coração acelerou. Aquilo era muito real. Era um ritual antigo e poderoso, eu podia sentir a energia pulsando da pedra.

Ele fez um pequeno corte em seu polegar. Uma gota de sangue vermelho escuro brotou e caiu sobre a pedra, sibilando levemente.

Ele me estendeu a faca.

Hesitei por um momento, depois peguei a faca. Minha mão tremia, mas meu olhar estava firme. Fiz um corte no meu próprio polegar. O sangue escorreu, vermelho vivo, e eu deixei uma gota cair ao lado da dele.

No instante em que meu sangue tocou a pedra, as duas gotas se uniram e brilharam com uma luz dourada. A luz se espalhou pela pedra, formando nossos nomes em uma escrita antiga que eu não conseguia ler, mas entendia em meu coração.

Maria e Curupira.

Uma onda de calor percorreu meu corpo. Senti a conexão se formando, uma linha invisível e inquebrável se estendendo entre mim e ele, e entre nós e a floresta.

"O juramento está feito", disse o Curupira. "Agora, somos um. O que afeta um, afeta o outro. Minha vida está ligada à sua."

Ele olhou para mim, e pela primeira vez, vi algo além da indiferença em seus olhos. Era uma seriedade profunda, uma promessa.

"Ninguém pode quebrar este vínculo. É para sempre."

Naquela noite, houve uma celebração.

Não era como as festas luxuosas e barulhentas do Rei Jaguar. Era algo diferente, mais profundo e significativo.

As criaturas da floresta vieram nos saudar. Macacos, antas, onças pintadas, tucanos e borboletas azuis. Eles não falavam, mas seus olhos mostravam respeito e aceitação. Eles formaram um círculo ao nosso redor, suas presenças uma benção silenciosa.

O Curupira me levou para a beira de um lago cristalino.

"Você agora é a Senhora da Floresta", ele disse. "Eles te respeitam."

Era um título muito diferente de "Rainha dos Jaguares". Não soava como poder, soava como responsabilidade. Como pertencimento.

Sentei-me na beira do lago, mergulhando os pés na água fresca. Ele se sentou ao meu lado, em silêncio.

"Você não fala muito, não é?", perguntei, tentando quebrar o gelo.

Ele deu de ombros. "As palavras podem enganar. As ações, não."

Ele então fez algo que me surpreendeu. Ele pegou uma flor de lótus que flutuava perto da margem e, com um cuidado desajeitado, a colocou no meu cabelo. Seus dedos roçaram minha orelha, e um arrepio percorreu minha espinha.

"Ficou bom", ele murmurou, desviando o olhar, quase como se estivesse com vergonha.

Aquele gesto simples, aquela demonstração de cuidado desajeitado, significou mais para mim do que todos os diamantes e ouros que o Rei Jaguar já me deu.

Naquele momento, olhando para o meu novo marido, o guardião silencioso da floresta, senti uma paz que não sentia há muito, muito tempo.

Ele podia ser frio por fora, mas comecei a suspeitar que, por dentro, havia um coração que valia a pena descobrir.

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