Na manhã seguinte, Rafael acordou com dor de cabeça, sem se lembrar de nada da noite anterior.
Ele me viu sentada no sofá, com os olhos vermelhos e inchados, e apenas franziu a testa.
"Você não dormiu?"
Sua voz era fria, sem um pingo de preocupação.
Eu olhei para ele, o homem que eu amei tão desesperadamente, e senti um vazio.
"Rafael", eu disse, minha voz rouca. "Vamos fazer um acordo."
Ele ergueu uma sobrancelha, parecendo entediado.
"Que tipo de acordo?"
"Me dê um mês", eu disse, tentando manter minha voz firme. "Apenas um mês. Aja como se você realmente me amasse. Faça todas as coisas que os casais fazem. Depois de um mês, eu vou desaparecer da sua vida para sempre. Eu não vou mais te incomodar."
Esta foi minha última tentativa, meu último pedido. Se mesmo assim ele não pudesse se apaixonar por mim, então eu desistiria completamente.
Ele me olhou por um longo tempo, uma expressão indecifrável em seu rosto.
Eu podia ver a hesitação em seus olhos. Ele queria se livrar de mim, mas um mês de fingimento parecia um preço pequeno a pagar pela liberdade eterna.
"Tudo bem", ele finalmente disse. "Um mês."
Um pequeno sorriso amargo se formou em meus lábios.
"Ótimo."
Eu me levantei, sentindo um cansaço profundo.
"Então, para começar, eu quero ir a um lugar."
"Onde?"
"Eu quero ir para a Montanha do Sol Nascente para ver o nascer do sol", eu disse.
Eu já tinha pedido isso a ele uma vez, no meu aniversário.
Lembro-me daquele dia claramente. Eu estava tão animada, tinha planejado tudo.
"Rafael, vamos ver o nascer do sol na montanha amanhã? Dizem que é lindo."
Ele estava pintando em seu estúdio e nem se virou para me olhar.
"Não tenho tempo para essas coisas infantis", ele disse, sua voz desdenhosa. "Além disso, Camila não gosta de acordar cedo."
A menção do nome dela foi como um tapa na minha cara.
"Mas eu gosto", eu insisti, minha voz pequena. "É o meu aniversário."
Ele finalmente parou de pintar e se virou para mim, a irritação clara em seu rosto.
"Sofia, não seja tão carente. Você sabe que estou ocupado. Por que você não pode ser mais compreensiva como a Camila?"
Mais uma vez, a comparação. Eu era sempre a que não era boa o suficiente, a que não era como a Camila.
Naquela época, eu recuei e pedi desculpas por incomodá-lo.
Mas desta vez foi diferente.
Eu olhei diretamente nos olhos dele, minha voz firme.
"Eu quero ir para a Montanha do Sol Nascente. É parte do nosso acordo. Você vai me levar."
Ele parecia surpreso com minha firmeza. Ele me estudou por um momento, talvez percebendo uma mudança em mim.
Ele suspirou, um som de resignação.
"Tudo bem. Se é isso que você quer."
Uma pequena e triste vitória.
Eu sabia que ele estava fazendo isso apenas para cumprir o acordo, para se livrar de mim.
Mas uma parte tola de mim ainda esperava que, talvez, apenas talvez, este mês pudesse mudar alguma coisa.