"O lugar que nunca foi seu."
A bile subiu pela minha garganta. O ar me faltou. Isabella não estava apenas tomando meu lugar, ela estava fazendo questão de esfregar isso na minha cara.
Uma dor aguda e lancinante atravessou meu ventre.
Gritei.
A dor era tão intensa que minhas pernas cederam. Eu caí de joelhos no tapete caro, com as mãos espalmadas sobre a minha barriga.
"Não... por favor, não..."
O mundo girou, as luzes da sala se transformaram em borrões e a escuridão me engoliu.
Acordei com o cheiro de antisséptico e o som baixo de um monitor cardíaco.
Estava em um quarto de hospital. A luz era fraca, vinda do corredor. A porta do meu quarto estava entreaberta.
E eu ouvi a voz de Ricardo.
Ele não estava falando comigo. Estava no corredor, ao telefone. A mesma voz fria e calculista que eu ouvi na festa.
"O incidente desta noite não muda nada. Apenas aumenta o interesse. Sim, ela desmaiou. Estresse. O médico disse que a gravidez é de risco agora."
Uma pausa. Ele riu, um som baixo e sem humor.
"Claro que o preço sobe. Uma mulher grávida e frágil? Isso adiciona um tempero dramático que seus compradores vão adorar. O pacote 'mãe e filho' está mais atraente do que nunca."
Meu coração parou. Ele não estava apenas me vendendo. Ele estava usando a fragilidade do meu filho, do nosso filho, para aumentar o preço do meu sofrimento.
A porta se abriu e ele entrou. A máscara de preocupação estava de volta no lugar.
"Meu amor, você acordou! Que susto você me deu. O médico disse que você e o bebê precisam de repouso absoluto."
Ele se aproximou da cama e tentou tocar meu rosto. Eu virei a cabeça, a repulsa me dando forças.
"Fique longe de mim", sibilei.
Ele suspirou, um som teatral de paciência.
"Sofia, você está confusa, abalada. É normal. Mas eu estou cuidando de tudo."
Nesse momento, um médico e uma enfermeira entraram.
"Senhora Mendes, que bom que acordou. Tivemos que trazê-la às pressas. Foi um pico de estresse muito perigoso", disse o médico.
"Eu quero ir embora", falei, minha voz firme apesar do medo. "Eu quero ir para outro hospital."
Ricardo interveio, sua mão pousando no ombro do médico de uma forma falsamente amigável.
"Doutor, minha esposa está claramente traumatizada. Ela não está pensando com clareza. Eu sou o responsável por ela. Acho que um calmante seria o melhor, para ela poder descansar de verdade."
"Não! Eu não quero calmante nenhum!", protestei, tentando me sentar.
A enfermeira já se aproximava com uma seringa na mão.
"É só para ajudá-la a relaxar, senhora", ela disse com uma voz suave.
"Eu não preciso relaxar! Eu preciso sair daqui! Ele é perigoso!", gritei, olhando de Ricardo para o médico, implorando com os olhos.
Mas o olhar do médico era profissional e distante. Para ele, eu era apenas uma paciente histérica, e Ricardo era o marido preocupado e sensato.
A enfermeira segurou meu braço. Eu tentei puxar, mas estava fraca demais. A agulha perfurou minha pele.
O líquido gelado entrou na minha veia, e o quarto começou a girar novamente.
Minha última visão, antes de a escuridão me levar, foi o rosto de Ricardo. O sorriso dele não era de alívio. Era de triunfo.
"Eu vou sair daqui, Ricardo", consegui sussurrar, meus lábios pesados. "E você... você vai pagar por isso."
Ele se inclinou sobre mim, seu hálito quente no meu rosto.
"Você não vai a lugar nenhum, Sofia", ele disse, sua voz um veneno baixo. "Você é minha. E agora, você vai descansar."
Ele se endireitou e caminhou até a porta.
O som da porta batendo ecoou na minha mente enquanto eu afundava na inconsciência forçada. Eu era uma prisioneira.