A Virada Do Destino Na Festa
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Capítulo 4

O terror se transformou em fúria.

A imagem de Ricardo assistindo, se deleitando com o meu sofrimento, acendeu algo dentro de mim. Eu não ia ser um espetáculo para ele. Eu não ia dar a ele essa satisfação.

"Me solta!", gritei, me debatendo na cadeira. A corda áspera cortava a pele dos meus pulsos, mas eu não sentia a dor.

Marco Abreu riu, um som gutural e desagradável.

"Gritando? Ótimo. Isso torna tudo mais emocionante. Seu marido disse que você tinha fibra. Vamos ver quanto tempo dura."

Ele pegou uma cadeira e se sentou na minha frente, perto demais. Ele começou a descrever, com detalhes gráficos, o que pretendia fazer comigo, como iria destruir minha reputação, minha sanidade, e por fim, minha vontade de viver.

Cada palavra era calculada para me quebrar.

Mas eu não estava mais ouvindo ele. Eu estava olhando para a câmera no canto. Eu estava falando com Ricardo.

Você não vai vencer, pensei, concentrando toda a minha energia naquele ponto vermelho. Eu não vou deixar.

Eu precisava acabar com aquilo. Precisava parar o "show".

E só havia uma maneira.

Se o prêmio era eu, e o "pacote mãe e filho" era o que o tornava mais valioso, então eu tinha que estragar a mercadoria.

Meu olhar varreu o chão sujo ao meu redor. Cacos de vidro, pedaços de madeira, lixo. Nada que eu pudesse alcançar.

Minha mente correu, desesperada. A cadeira. Era de madeira, velha.

Com um esforço violento, joguei meu peso para o lado. A cadeira balançou, instável. Marco se levantou, surpreso.

"O que você está fazendo, sua louca?"

Eu ignorei-o. Joguei meu corpo para o outro lado, e de novo, com mais força. Com um estalo alto, uma das pernas da cadeira se quebrou.

Eu caí no chão com um baque surdo, a cadeira quebrada ainda amarrada às minhas costas. A dor explodiu na minha anca e no meu ombro, mas eu a ignorei.

A queda deixou um pedaço pontiagudo de madeira da perna quebrada ao alcance da minha mão amarrada.

"Sua vadia!", Marco gritou, vindo para cima de mim.

Não havia tempo.

Com as mãos ainda presas, agarrei a lasca de madeira. Era afiada.

Fechei os olhos por um instante. Pensei no meu bebê.

"Me perdoe", sussurrei.

E com um grito que rasgou minha garganta, eu cravei a ponta afiada na minha própria coxa.

A dor foi branca, ofuscante, absoluta. Um calor líquido e pegajoso começou a escorrer pela minha perna.

Marco parou, chocado.

"Você... você é louca! O que você fez?"

Eu olhei para ele, o suor frio escorrendo pela minha testa, a dor pulsando em ondas.

"O show acabou", ofeguei. "O prêmio está danificado. Seu acordo com Ricardo... acabou."

Ele olhou para o sangue que começava a formar uma poça no chão, depois para a câmera no canto, o pânico tomando conta de seu rosto.

"Droga! Droga! Ele vai me matar! O dinheiro... eu perdi o dinheiro!"

Ele começou a chutar os móveis, praguejando, um animal raivoso e frustrado.

Minha consciência começou a se esvair. O chão parecia ondular. O som da voz de Marco ficou distante.

Mas antes de a escuridão me tomar completamente, eu ouvi vozes.

Vozes vindas de um alto-falante conectado à câmera. A voz de Ricardo.

"Isso não fazia parte do plano, Marco! Você era só para assustá-la!"

E então, a voz de Isabella, estridente e irritada.

"Ela estragou tudo! Ricardo, ela sempre estraga tudo! E agora? E os meus pais? Você prometeu que ia me ajudar a tirá-los daquela clínica depois que essa vadia fosse destruída!"

Clínica? Meus pais?

Meus pais biológicos. Eu mal os conhecia. Depois que a troca foi revelada, eles foram encontrados. Pessoas simples, humildes. A notícia dizia que o choque tinha sido demais para eles, que eles estavam "instáveis" e foram internados em uma clínica psiquiátrica para tratamento.

Agora a verdade me atingia com a força de um trem.

Não foi o choque. Foi Isabella. E Ricardo. Eles os internaram. Eles os prenderam para que não pudessem falar, para que não pudessem reivindicar nada. Para que Isabella pudesse ser a única herdeira, a única vítima.

A briga deles continuou, saindo pelo alto-falante, ecoando no porão imundo.

"Calma, Bella, eu vou resolver isso", dizia Ricardo.

"Resolver? Você não resolve nada! Você é fraco! Você a deixou fazer isso! Ela tem que pagar, Ricardo! E os pais dela também! Eles têm que apodrecer naquele lugar!"

A voz dela era puro veneno.

Lembrei-me da primeira vez que vi Isabella, algumas semanas antes, quando os rumores da troca começaram. Ricardo a trouxe para nossa casa.

Ela parecia tão frágil, tão quebrada. Usava roupas simples, olhava para o chão, falava em sussurros. Ela chorou e disse que não queria estragar minha vida, que só queria conhecer a família que nunca teve.

Eu senti pena dela. Eu, a "usurpadora", senti pena da "verdadeira herdeira".

Que atriz. Que manipuladora brilhante.

E Ricardo, o diretor de todo o espetáculo.

A última coisa que senti antes de desmaiar foi o gosto amargo do sangue e da traição na minha boca. A dor na minha perna não era nada comparada à dor de saber que a trama era muito mais profunda e cruel do que eu jamais poderia ter imaginado.

                         

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