Adeus, Passado Sombrio
img img Adeus, Passado Sombrio img Capítulo 1
2
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 1

A morte foi um alívio frio, um silêncio que chegou depois de muita dor, o veneno queimando em minhas veias era a última sensação, mas o que realmente me matou foi ver o corpo da minha mãe, pendurado, sem vida, uma vítima da crueldade que deveria ter sido só minha.

Mas então, eu respirei.

O ar entrou nos meus pulmões com uma urgência chocante, era um ar úmido e pesado, cheirando a chuva e asfalto molhado.

Meus olhos se abriram, e a primeira coisa que vi foi o rosto de Pedro, meu namorado, ele parecia irritado, com a testa franzida.

"Sofia, qual é o seu problema? Estamos todos esperando por você, não podemos nos atrasar por sua causa!"

A voz dele, as palavras, a cena, tudo era um eco de um pesadelo que eu já tinha vivido, eu estava de volta, de volta ao dia do concurso para a bolsa de estudos, o dia em que tudo começou a desmoronar.

Meu coração batia forte, não de amor, mas de um pânico gelado misturado com um ódio que subia pela minha garganta, as memórias da minha vida passada, da traição, do veneno na festa, da humilhação pública da minha mãe e do seu suicídio, tudo veio de uma vez, uma avalanche de dor.

Eu estava no ponto de ônibus, o mesmo ponto de onde partimos para o desastre, ao nosso redor, os outros colegas de classe me olhavam com impaciência, eles eram os mesmos que riram enquanto Juliana me envenenava, os mesmos que ajudaram a espalhar as mentiras que destruíram minha mãe.

"A Juliana já está vindo, ela só se atrasou um pouco," disse Ana, uma das seguidoras mais leais de Juliana, com um tom de acusação na voz, como se o atraso de Juliana fosse minha culpa.

"Não podemos esperar," eu disse, e minha própria voz me surpreendeu, estava firme, fria, sem o tremor da Sofia ingênua que um dia eu fui.

Pedro me olhou, chocado pela minha resposta.

"O que você quer dizer com 'não podemos esperar'? Sofia, é a Juliana, ela é a nossa amiga, e essa bolsa é tão importante para ela quanto para nós."

"É mais importante para ela do que para mim," eu respondi, olhando para ele sem nenhuma expressão, o amor que eu sentia por esse homem tinha se transformado em cinzas, tudo o que eu via era o traidor que me observou sofrer e não fez nada.

"O que deu em você hoje? Está com inveja da Juliana de novo?" ele acusou, e os outros concordaram com a cabeça, repetindo a mesma mentira que usaram para me isolar na vida anterior.

Inveja.

Essa era a desculpa deles para tudo, para justificar a crueldade de Juliana, para justificar a própria cegueira deles diante da popularidade dela.

Na minha vida anterior, eu tentei argumentar, eu implorei para que fôssemos logo, eu falei sobre a chuva forte que estava começando e o risco de deslizamentos na estrada da serra, mas eles riram de mim.

Disseram que eu estava sendo dramática, que eu só não queria que Juliana, a "garota popular", tivesse a chance de competir.

Eu não ia cometer o mesmo erro.

"Pensem o que quiserem," eu disse, dando de ombros e pegando minha mochila do chão, "Eu não vou esperar, quem quiser vir, venha agora, o ônibus que vai pelo caminho alternativo sai em cinco minutos."

Eu me virei e comecei a andar, sem olhar para trás.

Eu podia ouvir os cochichos e as risadas de deboche, eles achavam que eu estava fazendo uma cena, que eu era patética.

"Deixa ela ir," ouvi a voz de Pedro, cheia de desprezo, "Ela vai ver só quando a Juliana ganhar a bolsa, vai se arrepender de ser tão mesquinha."

Uma risada fria quase escapou dos meus lábios, eles não tinham ideia, eles não sabiam que a chuva que começava a cair se tornaria uma tempestade, que a estrada principal seria bloqueada por um deslizamento de terra, o mesmo deslizamento que, na minha vida anterior, nos atrasou por horas e nos fez perder a prova.

Eu não estava tentando salvá-los, desta vez, eu estava me salvando, e salvando a minha mãe.

A imagem dela, pálida e sem vida, era o combustível que me movia, a vingança era a única coisa que importava agora, e o primeiro passo era deixar que eles caíssem na própria armadilha que haviam preparado.

Eu entrei no outro ônibus, um veículo mais velho e quase vazio que fazia um percurso mais longo, mas seguro, pela cidade, sentei-me perto da janela e observei a chuva ficar mais forte.

Dez minutos depois, quando meu ônibus já estava longe, Juliana chegou ao ponto de ônibus, toda sorridente, com suas roupas de grife e seu ar de superioridade, ela distribuiu lanches e bebidas para todos, consolidando sua imagem de líder generosa.

Eles entraram na van que haviam alugado, rindo e conversando, completamente alheios ao destino que os aguardava.

Eu peguei meu celular, minhas mãos tremendo um pouco, não de medo, mas de antecipação.

Então, a notificação apareceu na tela, um alerta de notícias urgentes.

"ALERTA: Fortes chuvas causam grande deslizamento de terra na Serra das Araras, estrada principal para o centro de convenções está completamente bloqueada, autoridades recomendam evitar a área."

Um sorriso sombrio se formou nos meus lábios, o show estava apenas começando.

Eles iriam pagar, um por um, por tudo o que fizeram a mim e à minha mãe.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022