A multidão era um mar de rostos jovens e ambiciosos. Eu vi amigos, colegas, professores. Todos eles, em minha memória, se tornariam espectadores da minha humilhação pública. Hoje, eles seriam testemunhas do primeiro movimento no meu tabuleiro de xadrez.
Então, eu o vi.
Pedro entrou no auditório. Ele estava vestindo sua melhor camisa, o cabelo perfeitamente penteado. Havia uma confiança nele que eu não me lembrava de ele ter tão cedo. Seus olhos não estavam me procurando. Eles estavam varrendo a primeira fila, onde as famílias dos administradores da universidade e os investidores convidados estavam sentados.
E então, seus olhos pararam.
Sofia estava lá. Linda, elegante, exalando a confiança que só o dinheiro e o poder podem dar. Ela estava conversando com o pai, um homem de negócios influente cuja reputação o precedia.
Pedro respirou fundo, endireitou os ombros e começou a caminhar. Ele passou direto pela fileira onde eu estava sentada. Nossos olhos não se encontraram. Ele não sequer olhou na minha direção. Era como se eu não existisse.
Ele se aproximou de Sofia com um sorriso ensaiado, estendendo a mão. Eu não conseguia ouvir o que ele estava dizendo, mas podia ver a performance. A maneira como ele se inclinava, o charme calculado, a confiança que beirava a arrogância. Sofia pareceu surpresa, depois intrigada. O pai dela o observava com um olhar aguçado e avaliador.
Foi nesse momento que a última partícula de dúvida em minha mente se desintegrou.
Ele também tinha voltado.
O choque foi físico. Senti o ar sendo sugado dos meus pulmões. Não era a dor do coração partido de uma namorada traída. Era a dor fria e aguda de uma revelação terrível. Na minha vida passada, eu me consolei com a ideia de que ele havia se perdido ao longo do caminho, que a ambição o havia corrompido lentamente.
Eu estava errada. A corrupção sempre esteve lá.
Dada uma segunda chance, ele não escolheu a mim. Ele não escolheu nosso sonho. Ele escolheu o atalho. Ele escolheu Sofia. E ele fez isso no primeiro dia, sem um pingo de hesitação.
Lembrei-me de todos os momentos que eu havia reinterpretado como românticos. Nossas noites em claro trabalhando em nosso projeto, "Connecta". As promessas que ele fez. "Seremos nós contra o mundo, Maria." "Você é a única pessoa que realmente me entende."
Tudo mentira.
Cada palavra, cada olhar, cada toque. Tudo parte de uma longa e calculada manipulação. Eu não era sua parceira. Eu era uma ferramenta. Uma ferramenta que ele estava pronto para descartar no momento em que uma melhor aparecesse.
Eu me levantei e saí do auditório. O barulho da multidão excitada desapareceu atrás de mim. O sol lá fora parecia muito brilhante, quase doloroso. Eu andei sem rumo pelo campus, minha mente correndo.
O plano dele era óbvio. Usar as ideias que desenvolvemos juntos, todo o meu trabalho e criatividade, como sua isca para atrair Sofia e seu pai. Ele se apresentaria como um gênio solitário, o cérebro por trás de um projeto revolucionário.
A raiva borbulhou dentro de mim, quente e poderosa. Era diferente da dor impotente que senti na minha vida passada. Esta era uma raiva focada, uma raiva que tinha um propósito.
Ele achava que tinha a vantagem porque se lembrava do futuro. Ele achava que podia simplesmente repetir seu plano, mas de forma mais eficiente. Ele não sabia que eu também estava aqui. Ele não sabia que a garota ingênua que ele planejava destruir já não existia.
Ele começou o jogo.
Tudo bem.
Eu iria terminá-lo.