O Recomeço de Maria
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Capítulo 4

A primeira pessoa para quem liguei foi Carlos. Na minha vida passada, ele foi meu anjo da guarda. Um empresário experiente que me encontrou quando eu estava no fundo do poço, que viu meu talento sob os destroços da minha reputação e investiu em mim quando ninguém mais o faria. Ele se tornou meu mentor e, eventualmente, um amigo querido.

Desta vez, eu não esperaria até estar desesperada.

"Alô?" a voz dele soou no telefone, exatamente como eu me lembrava.

"Carlos, é a Maria. Fomos apresentados brevemente na feira de tecnologia do ano passado. Não sei se você se lembra de mim."

Houve uma pausa. "Maria... a garota com as ideias sobre redes neurais preditivas? Claro que me lembro. Você era brilhante. O que posso fazer por você?"

O alívio me inundou. "Eu tenho uma nova ideia. Algo grande. Eu sei que seu tempo é valioso, mas eu adoraria ter cinco minutos para lhe apresentar o conceito."

Ele riu. "Se for metade tão bom quanto sua última ideia, eu tenho mais do que cinco minutos. Que tal um café amanhã?"

Desliguei o telefone com um sorriso genuíno, o primeiro em dias. Ter Carlos do meu lado desde o início mudava tudo.

Enquanto eu estava construindo minhas alianças, Pedro estava focado em sua única conquista. Os rumores no campus eram de que ele estava gastando uma fortuna com Sofia. Jantares em restaurantes caros que um estudante universitário não deveria poder pagar, ingressos para shows esgotados, até mesmo uma bolsa de grife que deve ter custado o equivalente a vários meses de seu aluguel.

Eu sabia de onde vinha esse dinheiro. Era o dinheiro que seus pais haviam lhe dado para investir em "nossa" startup. O dinheiro que ele deveria estar guardando para alugar um escritório, comprar equipamentos, registrar a empresa. Ele estava queimando nosso futuro para impressionar Sofia.

Uma amiga em comum, Ana, me encontrou no refeitório, com um olhar preocupado.

"Maria, você está bem? Todo mundo está falando sobre o Pedro e aquela garota rica."

"Eu estou ótima, Ana. Nós terminamos."

Ela pareceu chocada. "O quê? Mas... e o Connecta? Vocês estavam tão animados."

"As coisas mudam," eu disse, com um encolher de ombros. "Eu estou trabalhando em algo novo agora. Sozinha."

Mais tarde naquele dia, vi Sofia no campus. Ela estava carregando a bolsa de grife que Pedro lhe dera. Parecia um pouco deslocada com seu jeans e camiseta simples. Ela parecia quase desconfortável com o presente extravagante.

Ela me viu e me deu um pequeno sorriso hesitante. Eu sorri de volta. Eu não tinha nada contra ela. Ela era apenas mais um peão no jogo de Pedro.

Naquela noite, a ironia da situação me atingiu com força total. Lembrei-me do meu aniversário, dois anos antes. Eu queria ir a um restaurante italiano legal no centro da cidade. Não era nem de longe tão caro quanto os lugares onde ele estava levando Sofia.

"Não podemos, amor," ele me disse na época, com um olhar sério e responsável. "Cada centavo conta. Precisamos economizar para o nosso futuro, para o Connecta. Quando formos ricos, eu te levarei para a Itália de verdade."

Eu acreditei nele. Eu cozinhei o jantar em casa e nos sentimos virtuosos por sermos tão frugais e focados.

Que idiota eu fui.

A raiva que senti não era quente e explosiva. Era fria e pesada. Ele não era apenas um traidor. Ele era um hipócrita. Ele me fez sentir culpada por querer um jantar de aniversário decente, enquanto ele agora queimava o dinheiro do nosso sonho para comprar bugigangas para uma garota que ele mal conhecia.

Não era sobre Sofia. Nunca foi. Era sobre o que ela representava: um atalho, um bilhete dourado. E para conseguir isso, ele estava disposto a me enganar, me usar e me fazer sentir pequena.

A memória não me enfraqueceu. Pelo contrário. Ela cimentou minha resolução. Eu não estava apenas lutando pela minha carreira ou pelo meu futuro. Eu estava lutando por aquela garota que ele enganou, por cada sacrifício que ela fez em nome de um futuro que ele nunca pretendeu compartilhar.

Eu devia isso a ela. Eu devia a mim mesma.

                         

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