Do Sequestro ao Romance Ardente
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Capítulo 4

"Eles não estavam lá por você."

A voz de Pedro cortou o silêncio pesado que havia se instalado no porão. Eu ainda estava remoendo minha fuga patética do supermercado.

"Como você pode ter tanta certeza?" perguntei, sem olhá-lo.

"Porque se eles soubessem de alguma coisa, não estariam batendo papo no mercado. Eles teriam cercado o quarteirão, teriam uma equipe tática. O Delegado Mendes pode ser amigo do meu pai, mas ele não é burro. Ele adora um espetáculo. A prisão do sequestrador do filho do Coronel do Café seria a maior notícia do ano nesta cidade. Ele não faria isso de forma discreta."

A lógica dele era fria e inegável. Fui eu que entrei em pânico, que vi fantasmas onde não existiam. Minha própria culpa e medo estavam me traindo.

Meu celular vibrou no bolso. Era uma mensagem de Sofia.

"O médico disse que preciso de mais exames. Tô com medo, Cacau."

Meu coração se apertou. Disquei o número dela, precisava ouvir sua voz.

"Oi, meu amor. Não precisa ter medo, tá? Vai dar tudo certo."

"Onde você tá? Sua chefe ligou, disse que você não aparece há dois dias."

Gelei. Eu não tinha pensado nisso. Minha vida normal, meu emprego, tudo tinha sido deixado para trás.

"Eu... eu precisei fazer uma viagem. Um trabalho extra de confeitaria em outra cidade. Mas eu volto logo, prometo."

Menti. Menti para a pessoa que eu mais amava no mundo, a razão de eu estar naquele buraco. Cada palavra era como um caco de vidro na minha garganta.

"Eu te amo, Cacau."

"Eu também te amo, pequena. Mais que tudo."

Desliguei e as lágrimas que eu segurei por dias finalmente vieram. Chorei em silêncio, encolhida no meu canto, um choro de desespero, de culpa e de saudade.

Quando finalmente levantei a cabeça, vi que Pedro estava me observando. Seu rosto não tinha a expressão zombeteira de antes. Havia algo mais suave, algo que se parecia com compreensão. Ele não disse nada, e eu fui grata por isso.

Mais tarde, enquanto eu tentava cochilar, um barulho me despertou. Abri os olhos e vi Pedro de pé, perto da pequena janela gradeada do porão, olhando para fora. Ele não estava mais na cadeira.

Sentei-me em um pulo.

"Como... como você se soltou?" gaguejei. A cadeira estava vazia, e as cordas que eu usei para prendê-lo (uma tentativa fraca de restabelecer o controle depois do meu fracasso com a faca) estavam jogadas no chão.

Ele se virou, um sorriso maroto no rosto. Ele tirou um clipe de papel do bolso.

"Você realmente precisa aprender a fazer nós melhores. E a revistar seus reféns. Isso estava no meu bolso o tempo todo."

Meu queixo caiu. Ele podia ter escapado. Ele podia ter fugido a qualquer momento desde que o prendi de novo. Mas não o fez.

"Por que você ainda está aqui?"

"Porque a carta ainda não foi respondida," ele disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. "Eu te disse, estou investido nisso. Além do mais, pra onde eu iria? Voltar pra casa e ouvir meu pai reclamar do resgate? Não, obrigado. Aqui é mais... emocionante."

Ele caminhou na minha direção e sentou-se no chão, a uma distância segura, mas próxima.

"Você é uma péssima sequestradora, Cacau," ele repetiu a frase da primeira noite, mas o tom era diferente agora. Era quase... carinhoso.

"Eu sei," admiti, a voz baixa.

"Você é muito mole. Se preocupa demais. Entra em pânico por nada. E mente muito mal pelo telefone."

"Obrigada pelo feedback," respondi, irônica.

"Mas..." ele continuou, ignorando meu sarcasmo, "você também é corajosa. Quer dizer, sequestrar alguém? Isso exige coragem. Mesmo que você não saiba o que fazer depois."

Ele me encarou, e pela primeira vez, eu senti que ele não estava apenas me vendo como a "Moça da Corda Ruim" . Ele estava me vendo de verdade.

"Por que você está fazendo isso, Cacau? De verdade. Não é só pelo dinheiro, é?"

A pergunta dele pairou no ar. Eu desviei o olhar para a foto de Sofia na tela do meu celular.

"É pela minha irmã," confessei, a voz embargada. "Ela está doente. Muito doente. E eu preciso do dinheiro para o tratamento dela."

Ele ficou em silêncio por um longo tempo. O playboy mimado pareceu desaparecer, dando lugar a um rapaz que me olhava com uma empatia que eu não esperava.

"Entendi," ele disse, por fim.

E, naquele momento, no meio daquele porão sujo, a dinâmica entre nós mudou para sempre. Eu não era mais apenas a sequestradora, e ele não era mais apenas o refém. Éramos duas pessoas presas em uma situação impossível, unidas por um segredo e por uma necessidade desesperada de que aquilo, de alguma forma, desse certo.

                         

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