Traída e Renascida: Vingança Fatal
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Capítulo 2

Carlos manobrou o carro de volta para a garagem, sua irritação mal contida.

"Anda logo, Maria. Não temos o dia todo," ele gritou da porta da frente.

Seu tom era o mesmo de sempre, o tom que ele usava quando eu não era a filha perfeita e obediente que ele esperava. Ignorei-o e me virei para minha mãe, que ainda me olhava com preocupação.

"Mãe, por favor, me escute. Há algo de errado com o carro," eu disse, minha voz baixa e urgente.

"Errado como? Seu pai mandou revisar semana passada."

Claro que mandou. Ele mesmo deve ter supervisionado a "revisão" .

"Os freios, mãe. Eu ouvi um barulho estranho quando ele estava manobrando. Não me sinto segura."

Era uma mentira, mas era a única coisa que eu conseguia pensar no momento. Eu não podia simplesmente dizer: "O papai sabotou o carro para nos matar e roubar nossos rins para o filho bastardo dele" . Ela me internaria em um hospício.

Dona Ana hesitou. Ela confiava em Carlos cegamente, uma confiança construída ao longo de vinte anos de casamento. Quebrar essa confiança seria como quebrar um osso, um processo doloroso e barulhento.

"Maria, não seja boba. Seu pai nunca nos colocaria em perigo."

A ironia da frase era tão amarga que quase me fez rir.

"Por favor, mãe. Só para eu ficar tranquila. Vamos chamar um táxi ou um aplicativo. O que custa?"

Carlos entrou em casa, o rosto vermelho de raiva.

"O que está acontecendo aqui? Maria, qual é o seu problema?"

Eu o encarei, o desprezo em meus olhos tão evidente que ele recuou um passo, surpreso.

"Eu não vou entrar naquele carro," declarei, cruzando os braços. "Não confio nos freios."

"Você está delirando?" ele rosnou. "Eu mesmo cuidei da manutenção! O carro está perfeito."

"Então você não vai se importar se a gente chamar um mecânico para dar uma olhada agora, não é?" retruquei, desafiadora.

O pânico brilhou em seus olhos por uma fração de segundo. Bingo.

Minha mãe, vendo a tensão entre nós, tentou apaziguar.

"Carlos, querido, não custa nada. Se a Maria está tão preocupada, vamos de táxi. Deixamos o carro para o mecânico ver na segunda-feira."

"De jeito nenhum! Isso é um absurdo, uma invenção dessa menina mimada!" ele explodiu.

Sua reação exagerada foi a confirmação que minha mãe precisava. Vi a primeira semente de dúvida brotar em seu rosto. A confiança cega dela começou a rachar.

"Por que você está tão nervoso, Carlos?" ela perguntou, a voz um pouco trêmula. "É só um carro."

Ele percebeu que tinha ido longe demais. Tentou recuar, forçando um sorriso condescendente.

"Não estou nervoso, Ana. Apenas acho um desperdício de tempo e dinheiro por causa de uma fantasia da sua filha."

"Eu pago o mecânico," eu disse, pegando meu celular. "Conheço um aqui perto. Ele pode vir em vinte minutos."

Antes que Carlos pudesse protestar mais, eu já estava no telefone. Ele ficou ali, paralisado entre a fúria e o medo de ser exposto.

Vinte minutos depois, o mecânico chegou. Um homem mais velho, com as mãos sujas de graxa e um olhar experiente. Carlos tentou dispensá-lo, dizendo que era um alarme falso, mas eu insisti, guiando o homem até o carro na garagem.

O mecânico se enfiou debaixo do carro. O silêncio na garagem era pesado, quebrado apenas pelos sons metálicos de suas ferramentas. Carlos andava de um lado para o outro, suando frio. Minha mãe estava ao meu lado, os braços cruzados, o rosto uma máscara de ansiedade.

Depois de alguns minutos que pareceram uma eternidade, o mecânico saiu de debaixo do carro, o rosto sério.

Ele limpou as mãos em um pano e olhou diretamente para Carlos.

"O senhor disse que mandou revisar este carro?"

"Sim, semana passada," respondeu Carlos, a voz um pouco alta demais.

O mecânico balançou a cabeça lentamente.

"Pois quem quer que tenha mexido nisso aqui, não era um profissional. Ou era um profissional com péssimas intenções."

Ele se virou para nós.

"O fluido de freio foi quase todo drenado e a tubulação foi cortada. Não de um jeito que rompe na hora, mas de um jeito que aguenta alguns quilômetros e depois falha de vez, provavelmente em alta velocidade."

O ar saiu dos pulmões da minha mãe com um silvo. Ela olhou para o carro, depois para Carlos, o horror tomando conta de seu rosto.

"Isso... isso significa que..." ela gaguejou.

"Significa que vocês teriam sorte se sobrevivessem à primeira descida na estrada," o mecânico completou, sem rodeios. "Isso aqui não foi um acidente. Foi sabotagem. Coisa de criminoso."

Olhei para o meu pai. O rosto dele estava branco como papel. A máscara de bom marido e pai dedicado finalmente caiu, revelando o monstro por baixo.

Minha mãe começou a tremer.

"Carlos...?" ela sussurrou, a voz cheia de uma dor e descrença que partiam o coração.

Eu me aproximei dela, colocando um braço ao redor de seus ombros.

"Mãe," eu disse, minha voz firme, mas com um toque de gentileza. "Eu acho que precisamos conversar. E talvez você devesse ligar para o tio João."

A menção ao seu irmão, com quem ela não falava há anos por causa de Carlos, foi o golpe final. As lágrimas começaram a rolar por seu rosto enquanto a terrível verdade começava a se instalar. O mundo que ela conhecia estava desmoronando ao seu redor.

E eu estaria lá para ajudá-la a se reerguer das cinzas.

            
            

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