Ela se virou e começou a andar, deixando o assistente e o carro de luxo para trás. Ela precisava de tempo para processar sua nova realidade, para se afastar de tudo que a lembrava de Pedro e de sua vida passada. Ela alugou um pequeno apartamento no centro da cidade, um lugar simples onde ninguém a conhecia, e tentou viver uma vida normal.
Mas o mundo da música em São Paulo era pequeno.
Duas semanas depois, um convite chegou. Um envelope grosso, com o selo dourado da Associação de Músicos. Era para a festa anual de gala, o evento social mais importante do setor. Em sua vida anterior, ela fora como a esposa de Pedro, um troféu silencioso ao seu lado.
Desta vez, ela iria sozinha.
Na noite da festa, Sofia escolheu um vestido preto simples, mas elegante. Ela queria passar despercebida, apenas observar.
Assim que entrou no salão opulento, sentiu os olhares. As pessoas cochichavam. A notícia de sua recusa em ajudar Pedro de Luca havia se espalhado como fogo.
Ela ignorou os murmúrios e pegou uma taça de champanhe. Do outro lado do salão, ela viu Helena de Luca conversando com outro empresário. A matriarca parecia tensa, seu rosto marcado pela preocupação.
"Ouvi dizer que a nova protegida de Pedro, Carolina, está cuidando dele agora", disse uma voz ao lado de Sofia. Era um produtor musical que ela conhecia vagamente. "Mas Helena não parece feliz. Ela acha que essa garota é uma aproveitadora, usando métodos pouco ortodoxos para 'inspirar' Pedro."
Sofia apenas assentiu, um sentimento de ironia amarga percorrendo seu corpo. Em sua vida passada, Carolina era a musa intocável. Agora, era vista como uma charlatã.
Nesse momento, as portas do salão se abriram e um silêncio caiu sobre a multidão.
Pedro de Luca entrou.
Ele não estava em uma cadeira de rodas. Estava de pé, apoiado em uma bengala elegante, mas caminhando com uma confiança arrogante. Ao seu lado, radiante em um vestido vermelho vibrante, estava Carolina.
Ela sorria, segurando o braço de Pedro com possessividade, como se exibisse um prêmio. Pedro parecia... diferente. Havia um brilho febril em seus olhos, uma energia artificial que não estava lá antes.
Eles eram o centro das atenções. Pedro, o gênio recuperado. Carolina, a salvadora milagrosa.
Sofia sentiu um calafrio. Ela sabia o que estava por vir.
Carolina, com seu ar de superioridade, começou a circular pelo salão, falando em voz alta sobre como ela havia "despertado" a genialidade de Pedro com uma "terapia musical revolucionária".
"Esses curandeiros tradicionais não entendem nada", disse Carolina, olhando diretamente para Sofia, sua voz alta o suficiente para que todos ao redor ouvissem. "Eles só sabem cantar canções de ninar. A verdadeira cura vem da paixão, da energia vital. Algo que certas pessoas simplesmente não têm."
A provocação era clara. Vários olhares se voltaram para Sofia, esperando uma reação. Pedro observava de longe, um sorriso de escárnio nos lábios.
Sofia permaneceu calma. Ela deu um gole em seu champanhe, o líquido borbulhando em sua língua.
Ela caminhou lentamente em direção a Carolina, parando a poucos metros de distância. O salão ficou em silêncio, todos antecipando o confronto.
"É uma teoria interessante, senhorita Carolina", disse Sofia, sua voz clara e sem emoção. "Uma pena que seja completamente falsa."
O sorriso de Carolina vacilou por um segundo.
"Como é?", ela cuspiu, ofendida.
"Você fala de energia vital, mas o que vejo no Sr. de Luca não é vitalidade. É uma febre, um consumo. Você está queimando a vela pelas duas pontas", disse Sofia, seu olhar passando de Carolina para Pedro. "Isso não é cura. É destruição."
Um murmúrio percorreu a multidão. As palavras de Sofia eram ousadas, um ataque direto ao casal do momento.
Carolina riu, um som estridente e forçado.
"Isso é inveja falando. Você teve sua chance e falhou. Eu tive sucesso. Pedro está compondo novamente, melhor do que nunca. O que você tem a mostrar?"
Sofia deu um passo à frente. Agora, todos os olhos estavam neles.
"Que tal uma aposta?", propôs Sofia, sua voz ressoando no silêncio.
Carolina ergueu uma sobrancelha. "Uma aposta?"
"Sim. Você diz que pode curar, que pode inspirar. Eu digo que você é uma fraude", disse Sofia, o desafio claro em seu tom. "Vamos provar quem está certa. Publicamente."
A atmosfera no salão estava elétrica. Ninguém ousava se mover.
"Eu escolho um paciente", continuou Sofia, seu olhar varrendo a sala e pousando em um canto escuro, onde sabia que Ricardo, o assistente de Marcos Varela, estava observando. "E você escolhe outro. Quem curar seu paciente primeiro, e de forma permanente, ganha."
Carolina olhou para Pedro, que assentiu com um sorriso presunçoso. Ele não acreditava que Sofia tivesse qualquer chance.
"E o que a perdedora faz?", perguntou Carolina, confiante.
Sofia sorriu, um sorriso frio que não chegou aos seus olhos.
"A perdedora se retira da indústria da música. Para sempre."