O Pedro parou, a sua mão a pairar no ar. A sua expressão de preocupação transformou-se em confusão, e depois numa ponta de irritação.
"Eva, o que se passa? Eu vim o mais rápido que pude."
"O mais rápido que pudeste depois de ajudares a Sofia," corrigi, a minha voz fria como gelo. "Ela está bem? O carro dela está bem?"
O Pedro franziu a testa, claramente desconfortável.
"Sim, ela está bem. O reboque já levou o carro. Mas isso não importa agora. O que importa és tu. Como te sentes?"
"Como é que tu achas que eu me sinto, Pedro?" A minha voz subiu de tom, carregada de uma dor que eu já não conseguia conter. "Eu perdi o nosso filho. O nosso bebé morreu."
Aquelas palavras pairaram no ar entre nós, pesadas e horríveis.
O rosto do Pedro perdeu a cor. Ele sentou-se na cadeira ao lado da cama, parecendo subitamente muito mais velho.
"O médico disse-me... Eu sei. Sinto muito, Eva. Eu..."
"Tu sentes muito?" interrompi, a rir um riso amargo e sem alegria. "Tu estavas a consolar a tua ex-namorada por causa de um carro avariado enquanto eu estava a perder o nosso filho numa mesa de operações."
"Não é justo, Eva! Eu não sabia que era tão grave!" ele defendeu-se, a sua voz a subir para igualar a minha. "Tu disseste que estavas a sangrar, mas eu não imaginei... Eu pensei que era só um susto!"
"Eu disse-te que tínhamos tido um acidente! A minha mãe estava inconsciente! O que é que precisavas de mais, um desenho?"
"A Sofia estava em pânico! Ela estava sozinha na autoestrada, à noite! O que querias que eu fizesse? Deixá-la lá?"
A sua defesa da Sofia, mesmo naquele momento, foi a confirmação de tudo o que eu temia.
"Sim," disse eu, a minha voz a baixar para um sussurro perigoso. "Eu queria que tu a deixasses lá. Eu queria que tu viesses ter com a tua mulher e o teu filho por nascer. Mas tu fizeste a tua escolha."
Olhei diretamente para ele, e pela primeira vez, vi-o não como o meu marido, mas como um estranho.
"Pedro, eu quero o divórcio."