A Escolha de Pedro: O Preço da Traição
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Capítulo 4

João Almeida olhou para mim como se eu tivesse acabado de o insultar na sua própria casa. A sua boca abriu-se e fechou-se, claramente não habituado a ser desafiado.

"Tu não me dás ordens," disse ele finalmente, a sua voz baixa e ameaçadora. "Este hospital não é teu."

"Mas este quarto é. E eu sou a paciente. E eu quero que o senhor saia," insisti, mantendo o seu olhar.

O Pedro interveio, colocando uma mão no braço do pai. "Pai, talvez seja melhor. Ela está transtornada. Deixa-me falar com ela a sós."

"Transtornada? Ela está a ser histérica," rosnou o João, mas permitiu que o Pedro o guiasse em direção à porta. "Tu precisas de controlar a tua mulher, Pedro. Ela está a envergonhar a nossa família."

A porta fechou-se atrás dele, deixando um silêncio pesado no quarto.

O Pedro virou-se para mim, a sua expressão era de exaustão.

"Vês o que fazes? Porque é que tens de criar sempre mais drama?"

"Eu não estou a criar drama, Pedro. Eu estou a reagir à forma como a tua família me trata. Como o teu pai acabou de me tratar. Ele não tem um pingo de simpatia pelo que eu passei. Para ele, eu sou apenas a mulher histérica que está a 'envergonhar a vossa família'."

"O meu pai é da velha guarda, tu sabes como ele é. Ele não sabe expressar-se," desculpou ele, uma desculpa que eu já tinha ouvido demasiadas vezes.

"Não, Pedro. Ele sabe expressar-se muito bem. Ele expressa desprezo. E tu deixas."

Sentei-me mais direita na cama, ignorando a dor. A adrenalina da raiva estava a mascará-la.

"Isto não é só sobre hoje. É sobre todas as vezes que tu colocaste a Sofia à minha frente. Todas as vezes que tu minimizaste os meus sentimentos para não chateares os teus pais. Todas as vezes que eu me senti uma estranha no meu próprio casamento."

Lembrei-me do nosso aniversário de casamento, quando o Pedro se atrasou duas horas porque a Sofia "precisava de ajuda para montar um móvel". Lembrei-me do Natal em que ele passou a manhã com a família dela porque o pai dela tinha falecido no ano anterior e ela "estava a ter um dia difícil".

Cada incidente, que na altura eu engoli e aceitei, agora parecia uma pequena traição, a acumular-se numa montanha de ressentimento.

"O nosso bebé não morreu por causa do acidente de carro, Pedro," disse eu, a minha voz a quebrar. "Ele morreu por causa das tuas escolhas. A tua escolha de priorizar outra pessoa em vez da tua própria família. E eu não posso viver com isso. Eu não vou viver com isso."

O Pedro não disse nada. Ele apenas ficou ali, a olhar para mim, e pela primeira vez, pareceu que ele estava realmente a ouvir. Mas era tarde demais. O dano estava feito. O amor, ou o que quer que restasse dele, tinha-se partido em demasiados pedaços para ser consertado.

"Quando a minha mãe tiver alta, nós vamos embora," disse eu, finalizando a conversa. "Não nos procures."

                         

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