O Cheiro do Vazio
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Capítulo 4

Uma semana depois, o investigador particular ligou-me.

"Tenho algo para si, Senhora Costa."

Encontrámo-nos num café discreto no centro da cidade.

Ele deslizou um envelope pardo pela mesa.

"Não houve registos de hotel," disse ele. "Eles são cuidadosos. Mas..."

Abri o envelope.

Dentro, havia uma série de fotografias.

Pedro e Sofia a almoçar juntos, a rir.

Pedro a colocar a mão nas costas dela enquanto caminhavam pela rua.

Sofia a olhar para ele com uma adoração que não deixava margem para dúvidas.

E a última foto.

Tirada na noite em que eu estava no hospital.

Mostrava o Pedro a abraçar a Sofia à porta do hospital onde ela foi tratada pelo seu "braço partido".

Não era o abraço de um amigo a consolar outro.

Era íntimo. Protetor.

Depois, havia os documentos.

Extratos de cartão de crédito.

O Pedro tinha comprado joias caras numa loja de luxo um mês antes. Um colar.

Eu nunca o recebi.

Havia também reservas para um fim de semana romântico num resort de spa, feitas em nome dele, para duas pessoas. A data era para a semana seguinte.

O meu estômago revirou-se.

A traição era mais profunda do que eu imaginava.

Não era apenas negligência. Era uma escolha deliberada.

Ele tinha construído outra vida, mesmo debaixo do meu nariz.

"Há mais uma coisa," disse o investigador, baixando a voz. "A lesão da Sofia. O braço partido."

Ele entregou-me um pedaço de papel.

Era uma cópia do seu relatório médico, obtido através de uma das suas "fontes".

"Não estava partido," disse ele. "Era uma entorse ligeira. Ela recebeu alta em menos de duas horas com uma recomendação para usar uma tipóia por alguns dias."

Uma entorse ligeira.

Ele deixou o seu filho morrer por causa de uma entorse ligeira.

A raiva que senti foi tão intensa que me deixou sem fôlego.

O ar no café pareceu ficar rarefeito.

Paguei ao investigador, agradeci-lhe pelo seu trabalho e saí.

Caminhei pelas ruas sem rumo, as fotografias e os documentos a queimar na minha mala.

Tudo fazia sentido agora.

As suas horas extras constantes. As suas viagens de negócios "de última hora". A sua distância emocional.

Eu tinha sido uma tola. Uma tola cega e apaixonada.

Mas não mais.

Fui diretamente para o escritório do meu advogado.

Coloquei o envelope na sua secretária.

"Isto é o que temos," disse eu.

O Sr. Almeida examinou as fotografias e os documentos, a sua expressão a tornar-se cada vez mais séria.

Quando terminou, olhou para mim.

"Senhora Costa," disse ele, a sua voz agora com um novo tom de respeito. "Isto muda tudo."

"Eu sei," disse eu. "Agora, vamos à luta."

                         

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