O cheiro a desinfetante invadiu as minhas narinas quando acordei. O meu mundo era um borrão branco, a dor da perda avassaladora. O meu bebé, o meu filho, tinha-se ido.
A minha voz era um sussurro rouco. "O meu marido... Ele está aqui?" O médico lançou-me um olhar de pena. "Ele não veio. A assistente dele disse que estava numa reunião importante."
Uma reunião importante. Mais importante do que a vida da esposa e do filho por nascer.
Peguei no telemóvel e vi a mensagem dele: "Eva, para de fazer birra. A Sofia acabou de cair e magoou-se. Estou a levá-la ao hospital. Não me incomodes com coisas sem importância." Sofia. A sua "melhor amiga" com um braço supostamente partido.
Liguei-lhe. A sua voz estava cheia de raiva: "Estás a brincar comigo? Só porque não atendi as tuas chamadas? A Sofia precisava de mim! Tu não estavas a morrer!"
"O nosso filho morreu, Pedro," disse eu, a minha voz mortalmente calma. O silêncio do outro lado foi longo e pesado. A decisão estava tomada.
Como pôde ele escolher uma entorse ligeira no lugar do meu filho? Será que o sacrifício do meu bebé foi, para ele, apenas um mero "exagero"? A crueldade da traição e da negligência lavrou em mim.
"Vou enviar-te os papéis do divórcio em breve." Mal sabia ele o inferno que eu estava prestes a libertar.